O Teatro Minerva pede socorro

A Cidade de Areia-PB, localizada na região do Brejo, abriga o mais antigo teatro da Paraíba e um dos mais antigos do Brasil. O teatro Minerva foi fundado em 1859 com o nome de Recreio Dramático. Foi construído pelas famílias ricas da época. O objetivo era realizar eventos para arrecadar e custear a libertação dos escravos. O nome Minerva foi concebido pelo escritor Horácio de Almeida em homenagem à deusa das artes e da sabedoria. Artistas conhecidos e reconhecidos nacional e internacionalmente já pisaram naquele palco. Em 2015 estive lá, a convite da Universidade Federal da Paraíba para um debate onde se discutiu a precariedade do teatro. Me surpreendi quando notei a ausência do secretário de cultura da cidade. Aliás, pouco depois pude encontra-lo almoçando em um dos bons restaurantes de Areia. Ou seja: um dos principais interessados estava na cidade, mas não priorizou uma reunião sobre um patrimônio tão valioso. Achei estranho e inadequado, mas propus a viabilização de uma emenda parlamentar para angariar fundos para a restauração do teatro. Foi o encaminhamento que fizemos pela SECULT-PB, mas com objetivo de ser direcionada a verba para a UFPB que administra ou melhor, administrava o teatro. Reunimos a direção do Minerva e um deputado federal para acertar a emenda e nos surpreendemos quando soubemos que a emenda não foi encaminhada por problemas de contrainformação na equipe do deputado. O mesmo pediu desculpas e se comprometeu a reencaminhar a emenda. Vamos, pois, recomeçar do zero.

Os políticos da Paraíba não são os mais generosos quando se trata de encaminhar emendas para a cultura. O recurso é sempre mínimo ou inexistente.  Em 2015 estive no Congresso Nacional, enquanto secretário de cultura do Estado, solicitando oficialmente a destinação de emendas (dentro da área de interesse de cada um) para 100% dos deputados e senadores. Conseguimos recurso com apenas três deputados. Wellington Roberto destinou emenda para a restauração da Cadeia Pública de Teixeira, Efraim Filho para a Biblioteca Juarez Gama Batista e Luiz Couto para o projeto PRIMA – Programa de Inclusão Através da Música e das Artes. Os demais sequer responderam o ofício enviado e, na maioria dos gabinetes em Brasília, a receptividade é a pior possível. Concluo que existe um tratamento de profundo desprezo político com a cultura que precisa ser mais discutido e corrigido. Mas, isso não é de hoje. A maioria dos políticos desconhece ou finge desconhecer a importância da cultura e principalmente do patrimônio histórico. Basta dizer que em 126 anos Ricardo Coutinho foi apenas o quinto governador a restaurar o Teatro Santa Roza. Algo tão estranho que algumas pessoas me pareceram mais incomodadas com a reforma que com o abandono.

Pois bem. Voltando ao Teatro Minerva, lembro que em 2016 também estive reunido com o IPHAN, IPHAEP e UFPB e ficou decidido que a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários – PRAC-UFPB, iria tomar providências imediatas para sanar os problemas mais urgentes junto com a Prefeitura e que em conjunto com o IPHAN seria finalizado o projeto de restauração para que, assim, pudéssemos iniciar a captação de recursos necessários à restauração daquela casa de espetáculos. Ontem no entanto me surpreendi com uma ligação da TV Cabo Branco solicitando informações sobre o teatro e me surpreendi mais ainda com a notícia veiculada dizendo que a partir de agora a responsabilidade seria da Secretaria de Estado da Cultura (pasta sob a minha responsabilidade neste momento). Soube por terceiros que o comodato existia há quarenta anos. A SECULT-PB existe apenas há sete anos. Mas, isso é o que menos importa. O fato é que não se resolve um problema tão grave tirando o corpo fora e se eximindo de responsabilidades. Como parceiros e não como gestores daquele equipamento, buscamos caminhos para angariar fundos para a sua restauração. Se a emenda não deu certo, não seria o caso apenas de lavar as mãos e desovar no abandono um dos mais valiosos patrimônios da história da cultura paraibana. Há dois anos assisti uma banda daquele município tocando exatamente no palco que, hoje, é impossível sequer de transitar.

A cultura do abandono vai avançando, mas precisamos detê-la. O muro de lamentações do patrimônio histórico paraibano continua firme. Muito pouco ou quase nada se avança e aquele teatro é uma prova disso. Serviu para ajudar a angariar fundos para a histórica burguesia areiense e ainda preserva em sua fachada: “theatro particular”. O mecenato calcado na escravidão morreu. No entanto, não é tempo de lamentações ou transferência de culpas. Se agora o teatro pertence ao Estado, vamos buscar os meios de recuperá-lo. Soube que o atual prefeito de Areia, Sr. João Francisco, demonstrou interesse pelo Minerva. Caso seja verdade, vamos buscar a sua parceria para que seja possível um encaminhamento. O comodato da universidade com o Governo do Estado existia desde 1989 e expirou em 1999. Mesmo assim a UFPB continuou administrando o teatro até devolvê-lo oficialmente em 2016. Agora, dadas as suas condições, é devolvido ao Estado sem resultado dos encaminhamentos buscados pelo IPHAN, IPHAEP, SECULT e Prefeitura de Areia. Enfim, são as coisas da burocracia e dos burocratas. Mas, a vida exige outro ritmo. Vamos então buscar caminhos dentro da realidade que está posta. Esperamos contar com algo mais que a sorte. Precisamos da vontade de muitos. O Teatro Minerva é um patrimônio cultural de Areia, da Paraíba e do Brasil. Não vamos desistir de algo tão valioso.