Se vivêssemos literalmente no mundo metafórico, a Câmara Federal teria sido, durante toda esta quarta-feira (2), um castelo de cartas marcadas durante a votação do acatamento da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB).

Das 513 cartas do baralho político, 12 são paraibanas. Com ajuda do super líder do governo Temer, Aguinaldo Ribeiro (PP), cinco parlamentares paraibanos jogaram sua “poker face” para mais um capítulo da História de nossa República em pleno ano pré-eleitoral.

Destes cinco, apenas Rômulo Gouveia e Benjamin Maranhão votaram com uma convicção inabalável no discurso. Também, pudera, o primeiro é bff do presidente licenciado do PSD e ministro de Ciência e Tecnologia de Temer, Gilberto Kassab… isso, este mesmo, denunciado por Joesley, da JBS, por ter recebido propina e ter colocado no bolso “egoísticamente” , tal qual o presidente da República. Já o segundo é do Solidariedade… o partido mais eufórico pela vitória do peemedebista nesta quarta.

André Amaral demonstrou algo que vai além da convicção. André foi afobado. O desejo de mostrar serviço no primeiro mandato herdado após a vitória de Manoel Junior em João Pessoa no ano passado, subiu à cabeça. Ele disse que votara pelo arquivamento da denúncia por ser responsável com o Brasil. Dados do Datafalha indicam que a cada 10 brasileiros, 9.7 são contra Temer no Planalto. Essa pesquisa ele não viu, certamente.

Aguinaldo Ribeiro tinha que fazer o papel dele, que atualmente é defender os interesses de Temer. Eu até pensava que um deputado federal é eleito para representar o povo. Mas lá estava Ribeiro, aquele que Dilma Rousseff sentiu traição. O mesmo que Cunha disse que o tempo o esperava. Como líder, seu mestre mandou: oriento a bancada a votar sim pela democracia brasileira. Logo, para ele, investigação não faz parte de um Estado Democrático de Direito.

Poderíamos refletir sobre os votos de Efraim Filho (DEM) e Hugo Motta (PMDB), mas apesar da boca dizer “sim”, havia uma vontade de sair correndo para bem longe daquele holofote que escancarara os rostos de cada um para qualquer pessoa ver.

Temer, presidente pós-derrocada de Dilma e conhecedor da Constituição, certamente não leu o pensador espanhol Baltasar Gracián. Com tanto conhecimento, faltou prudência ao presidente, que se deu ao luxo de receber um empresário no Jaburu para tratar de propinas. Tudo gravado e esquematizado pela Polícia Federal. Tá lá no livrinho secular A Arte da Prudência:

“Não se envolver em complicações. Eis uma das primordiais preocupações da prudência. É longo o caminho a percorrer de um extremo a outro, e os prudentes permanecem na área central da sensatez. É decisão amadurecida romper tal estado, pois é mais fácil tirar o corpo do perigo do que sair-se bem dele. As situações perigosas colocam nosso bom senso na berlinda, e é mais seguro evitá-las por completo. Uma complicação traz outra maior, conduzindo-nos à beira do desastre. Alguns são precipitados, por temperamento ou por nacionalidade, e é com rapidez que se envolvem em situações perigosas. Mas aquele que caminha à luz da razão avalia a situação e percebe que há mais valor em evitar o perigo do que em vencê-lo. Vendo que já existe um tolo imprudente, evita ser-lhe segundo.”

Tá vendo??? Já em 1647 se sabia que um governante não deveria se expor em tretas sob pena de se enrolar em mais tretas. E cinco deputados paraibanos não quiseram assumir o papel de tolos por strike. Pedro Cunha Lima (PSDB) e Veneziano Vital do Rêgo (PMDB) conduziram Temer ao Planalto ao votarem a favor do impeachment, mas resolveram votar contra o cara hoje. Couto, Damião e Wellington Roberto mantiveram a postura anti-Temer. E Wilson Filho… bem, este fugiu.

Ninguém acreditava que essa denúncia passaria.  A única utilidade para essa votação para o brasileiro foi assistir a reprise de um julgamento circense de um presidente da República. Ótma oportunidade para guardar na memória quais deles que defendeu os interesses de 97% da população brasileira que reprovam Temer. Precisamos esquecer a cultura da memória curta nos eleitorais. Lembrar para avançar. É urgente.