Ontem começou mais uma edição da Rota Cultural Caminhos do Frio, em Areia.  Um projeto que tem despertado a atenção da mídia dentro e fora do Estado. A rigor, podemos dizer que se tornou o maior e mais importante projeto de desenvolvimento econômico e social da Paraíba, a partir do turismo e da cultura. Algo interessante vem acontecendo de forma natural nas nove cidades onde esse projeto está sendo desenvolvido. Cada vez mais temos parceiros se integrando ao Forum de Turismo do Brejo que, a rigor, é o elo que agrega as todas as parcerias. Se perguntarem quem conduz a Rota, podemos dizer muito claramente que é um imenso coletivo formado pelo poder público e pela sociedade civil.  Mas, se perguntarem a quem pertence o projeto, podemos também afirmar com muito segurança que o Governo do Estado possui uma pequena fatia. As prefeituras envolvidas, possuem uma pequena fatia cada uma. O SEBRAE que está nesse projeto desde a sua concepção, também possui uma pequena fatia. O BNB tem o seu pedaço. Podemos dizer que cada parceiro tem uma pequena fatia e desempenha o seu papel e que foi isso que transformou a Rota num grande projeto. Seguramente, o maior projeto de desenvolvimento turístico e cultural em execução no estado e um os mais importantes do Brasil.

A Rota Cultural está enraizada com tanta força no Brejo paraibano que aos poucos a própria população vai percebendo que cada morador, cada cidadão, cada cidadã também pode tomar para si uma pequena fatia desse projeto. Seja cuidando da sua própria residência, da pintura, da calçada, do jardim. Seja participando de algum processo direto de envolvimento com a Rota. As associações de turismo de cada cidade também possuem uma pequena fatia. Os artistas da região começam a perceber que também uma pequena fatia lhes pertence. Portanto, o que faz com que a Rota tome a proporção que está tomando é exatamente essa consciência do papel de cada um num projeto que não é de governo, não é de produtores, não é de político algum. É um movimento coletivo que vem crescendo a cada edição se firmando na transparência das relações, na filosofia e estratégia adotada e até mesmo na humanização dessas relações, uma vez que em muito casos os diferentes convivem e convergem com muita convicção.

Claro que os interesses políticos existem.  Afinal, agentes políticos da região têm participação ativa nesta ação. Destaco de forma muito tranquila, por exemplo, a presença dos prefeitos em todas as reuniões de organização das programações. Muitas vezes divergentes do ponto de vista partidário, mas ombro a ombro na construção do projeto. Outro fator que preciso destacar é a opção pelo enfrentamento às aberrações culturais que são produzidas pela indústria do entretenimento. Se o Maior São João do Mundo abriu mão da identidade cultural para o destaque das suas programações, no Caminhos do Frio o papo é outro. Teremos Alcimar Monteiro, Cezinha, Chico Cesar (foto) e muitos outros grandes artistas que não fazem concessões à diluição cultural. Existe um conjunto e regras para que cada parceiro mantenha a posse da sua pequena fatia. Uma dessas regras diz respeito ao apoio à produção local e ao investimento em shows cujos artistas agreguem valor à identidade cultural da Paraíba e do Nordeste. Assim, podemos ver grupos como a Frente Trovadora crescendo aos olhos do público, a partir da plena identificação com a filosofia da Rota

No conjunto da obra o que vemos é uma lógica muito consequente. Principalmente por ser um projeto que movimenta a economia criativa e a economia formal da região. Gera trabalho e renda.  A divisão dos custos torna o projeto viável para todos. Todos os municípios recebem a mesma atenção dos parceiros e cada qual realiza sua programação da melhor forma, dentro das suas condições. O resultado disso é que em plena recessão econômica, enquanto vemos alguns projetos minguando e até mesmo sendo cancelados, no Caminhos do Frio o que podemos ver claramente é uma ascensão permanente. Um crescimento vertiginoso devido, exatamente, às apostas que fez na potencialidade cultural e geográfica da região. Ou seja: o Brejo está apostando nos próprios sonhos, na sua real capacidade de desenvolvimento. E cá pra nós, pelo menos nos dois últimos anos tem mostrado que é possível desenvolver a economia a partir inclusão e não da exclusão das próprias possibilidades. Não tenho dúvidas que as demais regiões deveriam estar discutindo a ampliação das possibilidades de cada município, a partir do potencial de cada região. Fica, pois, a provocação para que os demais territórios se organizem de forma semelhante. Os benefícios são reais. Geram educação popular, cidadania, potencializam o turismo e, acima de tudo, tornam possíveis processos de desenvolvimento da economia criativa e da economia formal. O desenvolvimento só cresce a partir de uma concepção, de uma filosofia claramente definida. Precisamos tratar com racionalidade e pragmatismo o cerco infinito das nossas divergências, observando de forma segura a força que nos une.