A atual crise política brasileira confirma sua característica de poço sem fundo. Se é a Polícia Federal quem cava em busca de caranguejos delinquentes no mangue da corrupção, quanto mais ela arranca mais tem para ser arrancado. Foi esse o caso do cavoucar que revelou, diz a PF, que a senadora Gleisi Hoffman e o marido, ex-ministro Paulo Bernardo, teriam recebido R$ 1 milhão de propina no escândalo do petrolão.
Se o Ministério Público se arma com uma perfuratriz hidropneumática gigante, daquela com giro radial de 360 graus, sua investida com a broca de duríssimo adamantium contra os muros blindados por más intenções da corruptolândia planaltina não atinge todas as camadas dos malfeitos.
Tanto é assim que o procurador Deltan Dallagnol, o chefão da Lava Jato, acredita que a operação deve durar ainda uns dois ou três anos. Isso se Michel Temer, Lula e Aécio Neves não fecharem um acordo para que a investigação vá pras cucuias.
E quando são os próprios deputados federais que praticam salto ornamental no poço da lama, seja do tipo revirado ou parafuso, a profundidade no vexame que conseguem atingir é sempre suplantada por um atleta mais gabaritado. Pois o poço se aprofunda a cada salto solto.
Assim é o caso do atual presidente interino da Câmara. Pensávamos que em matéria de atletismo vexatório, para o Brasil e para os brasileiros, que fique bem claro, tínhamos chegado a um recorde olímpico insuperável com o ultracorruptível Eduardo Cunha. Mas, que nada: Waldir Maranhão, o substituto à altura, quer dizer, em baixeza, mostrou ser um atleta muito, mas muito melhor, preparado ao tentar com uma canetada revogar o processo de impeachment contra a presidente da República que tramita no Senado. Provocou um vexame de proporções mundiais.
Isso me faz lembrar Severino Cavalcanti. O presidente escalafobético da Câmara em 2005. Vejam como melhoramos de lá pra cá. Severino, que só foi um caso de vexame nacional, quase levou o então deputado Fernando Gabeira ao infarto. Motivo: cobrava R$ 10 mil por mês ao dono do restaurante Fiorella para manter o serviço funcionando no Anexo 4 da Câmara.
Durante uma sessão em que Severino severinava fortemente, Gabeira disse cobras e lagartos contra ele, inclusive esse conjunto de frases que poderia ser gravado numa placa de bronze a ser distribuída aos próximos presidentes:
“Vossa Excelência está em contradição com o Brasil. A sua presença na presidência da Câmara é um desastre para o Brasil, um desastre para a imagem do Brasil. E Vossa Excelência ou fica calado, ou começa a ficar calado, ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo”.
Ainda bem que Gabeira não é mais deputado. Imagine o quanto ele passaria mal ao saber que Eduardo Cunha recebeu nada menos que R$ 52 milhões de propina. Esse foi o valor informado pela Procuradoria-geral da República ao encaminhar ao STF o pedido de processo contra o presidente afastado da Câmara. E imagino que contra Cunha Gabeira diria mais palavras do que as que Tolstói usou para escrever “Guerra e paz”, ou João Ubaldo Ribeiro em “Viva o povo brasileiro”.
Numa escala respeitosa, podemos dizer que Severino foi um sugismundo. Cunha, o senhor da tempestade de estrume. Maranhão é o Godzilla de Cunha. Um espalha… brasas.
Se a criatura pré-histórica dos japoneses foi ativada pelo rescaldo das explosões nucleares contra Hiroshima e Nagasaki, o Godzilla de Cunha age impulsionado pelos gases pestilenciais do golpismo vingativo do seu criador. Há sim, um golpe em curso, como bem qualificou Ciro Gomes, do tipo “salafrário-mafioso”.
Responda rápido: o PT convidou o PMDB pra ser vice de Dilma por causa das divergências ou das convergências?
O Godzilla do Maranhão é veterinário e foi reitor da universidade estadual. Mas sua performance na tentativa de dissolver o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff foi de envergonhar qualquer chimpanzé aprendiz de ladrão de banana. Se o ex-reitor, como dizem, recebeu o dever de casa das mãos do ministro Eduardo Cardoso e do governador Flávio Dino, ex-juiz federal, errou feio ao fazê-lo.
O ato ficou conhecido como Operação Três Patetas. E parece realmente uma patetice que os estrategistas que bolaram esse plano, e o executaram justamente no dia em que saiu a decisão do ministro Fux do STF rejeitando um pedido de cancelamento do impeachment pelo mesmo motivo, coerção partidária contra o voto livre dos deputados, sem nada combinar com o presidente do Senado. Deu no que deu.
Sinceramente, a presidente Dilma Rousseff merecia mais do que isso. Ao menos, um apoio inteligente. À altura de sua trajetória de autêntica guerreira do povo brasileiro. A presidente, até agora, perdeu algumas batalhas. Que encontre forças para vencer a guerra.