Quando se chega ao conjunto Portal do Sol, no bairro do Altiplano, em João Pessoa, a primeira impressão é de uma imagem bem comum: de um lado, riqueza; de outro, pobreza. O que divide essas realidades, além de bens e direitos, é um muro. Um muro entre um Haras e um terreno que guarda o silêncio de histórias como a de Edenise. Mas, entre o muro e o haras, há resistência.

O caso dos moradores do Portal do Sol trata-se da mais pura realidade de resistência à especulação imobiliária. Com discursos de progresso, prefeitura e empresários se unem para expropriar moradores, seja com aliciamento, oferecendo quantias irrisórias, seja pela opressão, utilizando a guarda municipal. Hoje, trezentas famílias compartilham sonhos, desejos e vontade de lutar. Pessoas que antes viviam do plantio e da pesca, hoje tiram seu sustento do trabalho informal.

Aprígio Salviano, de 69 anos, é um dos mais velhos moradores do local. Quando lá chegou, há mais de trinta anos, não existia nem haras nem muro. No início, vivia do plantio ali mesmo. Ele foi o responsável pela primeira instalação elétrica: “uma gambiarra que puxei”, relembra. Aos poucos, outras famílias foram ocupando o local. Com o aumento do número de moradores, vieram também as primeiras negociações pelo terreno. Pequenos loteamentos eram vendidos para novos moradores, que abriam suas lonas ou construíam suas casas de taipa. Assim, a comunidade foi crescendo. Sem a presença do Estado para oferecer serviços básicos como água, luz, saúde, educação e transporte, eles se viravam com o que tinham. Quando o poder público finalmente chegou, não foi para melhorar a vida daquelas pessoas, mas para trazer desassossego. Chegaram com truculência acompanhada de gente dizendo-se dona do terreno. Entre esses, um nome é ouvido por todos os moradores: João Sobrinho.

“Eles diziam que estávamos ocupando o terreno deles. Tinha uns que eram indenizados, outros não. Vinham com a polícia para intimidar. Eu dizia que podia passar com o trator por cima da casa, mas ia ter que passar por cima de mim e meus três filhos”. A fala de Edenise Francisca, 36 anos, diarista, é recorrente do tratamento violento que os moradores vêm recebendo desde então.

Uma das líderes do movimento de resistência, Ana Paula, de 32 anos, trabalha vendendo coco e água na praia. Com o pouco que ganha, mais o benefício do Bolsa Família, cuida dos seis filhos e do marido que é pescador, mas está parado por conta de uma tuberculose. Ela ressalta a importância da união de todos para que a luta pela manutenção da comunidade seja vitoriosa: “Na minha opinião, todos têm que ser unidos. Não adianta juntar trinta pessoas se aqui tem mais de trezentas famílias; tem que ser todo mundo junto, aí a chance de vencer é maior”.

Além disso, desabafa em relação ao papel da prefeitura nesse momento: “Ao invés de eles estarem preocupados em tirar a gente daqui, deveriam se preocupar em calçar a rua; aqui está precisando de uma escola, de uma creche, de um posto de saúde, de uma praça, nada disso a gente tem. Em vez de marcar nossas casas para tirar a gente, era para estar se preocupando com a barreira que está caindo e por isso os ônibus não estão passando. Por que a defesa civil que veio marcar nossa casa não vai se preocupar com a barreira?”. Com informações do Brasil de Fato