Museu da Língua Portuguesa reabre domingo, 6 anos após incêndio

O Museu da Língua Portuguesa, na estação da Luz, no Centro de São Paulo, será reaberto ao público no próximo domingo (1º) após passar 6 anos fechados depois de ter sido atingido por um incêndio. As obras de reconstrução custaram R$ 85,8 milhões.

O museu vai funcionar de terça-feira ao domingo, das 9h às 18h. O ingresso inteiro custa R$ 20 e deve ser adquirido pela internet. Aos sábados, a entrada é gratuita, mas a visitação deve ser agendada, já que há um controle de pessoas devido à pandemia de coronavírus.

O governador João Doria (PSDB) visitou as novas instalações na manhã desta quinta-feira (29) e disse estar alegre e satisfeito com a reabertura do espaço.

“Não há lugar melhor pra se ter o Museu da Língua Portuguesa na cidade que é o espelho, que é o retrato do seu país, da sua língua e da sua memória”, afirmou.

A reinauguração oficial ocorre no dia 31 de julho, um dia antes da abertura para visitação. Na ocasião, estarão presentes autoridades de países que usam a língua portuguesa como o principal idioma, como o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

Os ex-presidentes do Brasil Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e José Sarney também confirmaram presença. Todos os demais ex-presidentes da República e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram convidados, mas somente Dilma Rousseff (PT) agradeceu o convite e disse que não poderá comparecer.

"Floresta linguística" homenageia 23 das mais de 7 mil línguas faladas atualmente no mundo — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

“Floresta linguística” homenageia 23 das mais de 7 mil línguas faladas atualmente no mundo — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

O museu foi completamente transformado com novos conteúdos, novas tecnologias e mais interatividade.

A organização do museu vai convidar acadêmicos, professores a participar de um trabalho que pretende transformar o museu em um centro de difusão de saber e conhecimento sobre a língua, de acordo com Sérgio Sá Leitão, secretário Estadual de Cultura.

“É um museu de informação, de educação, de entretenimento e de produção de conhecimento sobre este que é o nosso maior patrimônio cultural que é a língua portuguesa e que é também o que mais melhor nos conecta com os demais países lusófonos”, afirmou.
A viga queimada que está exposta na entrada do museu relembra o acidente do dia 21 de dezembro de 2015 — Foto: Divulgação

A viga queimada que está exposta na entrada do museu relembra o acidente do dia 21 de dezembro de 2015 — Foto: Divulgação

A reconstrução do Museu da Língua Portuguesa é uma realização do Ministério do Turismo e do Governo de São Paulo, concebida e implantada pela Fundação Roberto Marinho. Tem como patrocinador master a EDP e patrocinadores o Grupo Globo, o Grupo Itaú Unibanco e Sabesp, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Marília Bonas, diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa, disse como será a reabertura ao público em geral.

“Todas as visitas são feitas, o agendamento é feito pela internet, com grupos restritos, há um percurso unidirecional. E como o museu é muito interativo, cada um dos visitantes vão receber uma canetinha touch pra poder fazer os jogos, interagir com os vídeos. Também o uso obrigatório de máscara, distanciamento obrigatório, sinalização ostensiva e totens de álcool em gel em todos os espaços.”

Em dezembro de 2015, parte do prédio do museu foi atingido pelo fogo. O bombeiro civil do museu, Ronaldo Pereira da Cruz, morreu após sofrer uma parada cardiorespiratória.

O relógio do prédio do Museu da Língua Portuguesa: espaço será reinaugurado no dia 31 de julho de 2021 — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

O relógio do prédio do Museu da Língua Portuguesa: espaço será reinaugurado no dia 31 de julho de 2021 — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

O novo museu

O G1 visitou o museu em primeira mão no dia 12 de julho e adiantou as principais novidades. O visitante é parte atuante na exposição na medida em que o museu é composto por instalações interativas, algumas totalmente novas e outras que foram preservadas e atualizadas, de acordo com a também curadora Isa Grinspum Ferraz.

“Nossa maneira de estar no mundo é através da língua portuguesa. Se a gente quer pensar em um futuro para o Brasil, a gente tem de conhecer a nossa história e a nossa língua. O museu convida o visitante a pensar a língua e a conhecê-la. Todos nós nascemos imersos na língua e não nos damos conta que ela pode ser um objeto de reflexão, pensamento, aprendizado e mesmo de descoberta. Mantivemos a alma do museu, mas ampliamos nosso olhar sobre esse tema. Cada língua é um mundo”, afirma Ferraz.

Museu da Língua Portuguesa coloca falantes como a cartunista Laerte e o indígena Denilson Baniwa para pensar a respeito da língua — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

Museu da Língua Portuguesa coloca falantes como a cartunista Laerte e o indígena Denilson Baniwa para pensar a respeito da língua — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

A exposição mostra a história e trajetória da língua portuguesa, que vem sendo modificada por seus falantes e incorporando palavras de origens diversas, como árabe, africana e indígena. Mas além disso, a língua falada nas ruas é protagonista de vários dos espaços no museu, de acordo com o também curador Hugo Barreto.

“A língua está sempre em movimento e constante transformação. Ela é forjada pelas ruas e pelos poetas. De uma certa maneira, existe a dimensão da erudição da língua culta que alguns supervalorizam, mas ela não é o que orienta a própria trajetória da língua”, afirma ele.

A ideia, porém, não foi hierarquizar a língua oral em detrimento da erudita, de acordo com Ferraz, mas mostrar ao visitante que não importa quem ele seja, enquanto falantes de língua portuguesa, todos nós somos autores da língua de alguma maneira.

“A língua culta também é homenageada na Rua da Língua, onde temos, por exemplo, Augusto de Campos ao lado do grafite. Não quisemos hierarquizar, toda a língua portuguesa tem sua riqueza e beleza e seu contexto de uso. Todos os falantes são autores da língua de alguma maneira”, afirma.

A Rua da Língua a que se refere Ferraz é um painel de 106 metros de comprimento onde são projetados murais e outdoors como se ali fossem as ruas das cidades: pichações, provérbios, poemas, propaganda e inscrições anônimas da grande cidade.

Escultura de Arnaldo Antunes que sintetiza a ideia de que a língua está em movimento — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

Escultura de Arnaldo Antunes que sintetiza a ideia de que a língua está em movimento — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

O painel já existia antes do incêndio, de acordo com Ferraz, mas o olhar sobre a língua portuguesa foi ampliado com reflexões dos cerca de 4 milhões de visitantes que o museu teve em seus dez anos de funcionamento.

A linha do tempo, no segundo andar, possui uma escultura do poeta e cantor Arnaldo Antunes que simboliza justamente a língua portuguesa em movimento.

“A língua intermedia nossa relação com o mundo. Já a poesia possibilita experiências diretas, mas ela é em si um mundo”, diz Antunes em um vídeo feito exclusivamente para o museu.

Mais segurança

A reconstrução também incorpora melhorias de infraestrutura e segurança, especialmente contra incêndios, que superam as exigências do Corpo de Bombeiros.

Entre as novas medidas, está a instalação de sprinklers (chuveiros automáticos) para reforçar o sistema de segurança contra fogo.

No caso do museu, os sprinklers não são uma exigência legal, mas foi uma recomendação dos bombeiros acatada para trazer mais segurança para o projeto.

Cerca de 85% da madeira necessária para a recuperação das esquadrias foi utilizada do material já existente no edifício, com a reutilização de madeira da cobertura original, datada de 1946.

Cerca de 85% da madeira necessária para a recuperação das esquadrias do Museu da Língua Portuguesa foram utilizados do próprio material já existente no edifício  — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

Cerca de 85% da madeira necessária para a recuperação das esquadrias do Museu da Língua Portuguesa foram utilizados do próprio material já existente no edifício — Foto: Bárbara Muniz Vieira/G1

Serviço

  • Funcionamento: terças-feiras aos domingos, das 9h às 18h;
  • Ingressos podem ser adquiridos pela internet. Inteira R$ 20 e meia R$10;
  • Sábado é dia de gratuidade para todos.
  • Compra pelo site sympla.com.br.
  • A capacidade de público está restrita a 40 pessoas a cada 45 minutos. Os visitantes receberão chaveiros touchscreen para evitar toque nas telas interativas.

Do G1.