Mulher sofre ameaça por dançar em condomínio, em João Pessoa

Por meio de nota, o condomínio afirmou que “não irá se posicionar sobre o caso, mas afirma a inexistência de irregularidades nos vídeos”

Imaginem a situação:

Você é professora de dança e por conta da pandemia, resolve filmar suas coreografias na área comum do prédio onde mora, onde não há circulação de pessoas. Sem que você tome conhecimento, suas imagens começam a circular em grupos de whatsapp do condomínio com insinuações de que o seu conteúdo é pornográfico e estaria incomodando as “famílias de bem”, as crianças e adolescentes. Além disso, você também recebe ameaças, incluindo o Conselho Tutelar e a Polícia Federal. Isso tudo porque você estava dançando.

Parece surreal, mas foi exatamente o que aconteceu com Giordana Leite, dançarina profissional há mais de doze anos, profissional de educação física, coreógrafa e professora de dança. Moradora de um condomínio em João Pessoa há três anos, ela conta que os ataques começaram há cerca de um mês.

Moradora contou que os ataques começaram há cerca de um mês. Ela é dançarina profissional há mais de doze anos, profissional de educação física, coreógrafa e professora

“Os vídeos são gravados por meu companheiro ou pela minha irmã. Desde que comecei a morar aqui, procuro horários em que os espaços estejam vazios para gravar meus vídeos, justamente para não incomodar ninguém nem ser incomodada. Meus vídeos são postados no Instagram profissional e nenhum morador do condomínio havia se manifestado desconfortável ou ‘agredido’. Foi uma péssima surpresa descobrir que eu estava sendo exposta como uma criminosa”

Giordana conta que soube que suas imagens estavam sendo compartilhadas num grupo de whatsapp que ela não participa. A moradora que acusa a dançarina, e que se autodenomina de “serva de Deus”, acusa Giordana de atentar contra a integridade das famílias, se coloca como porta voz de todos os moradores e exige providências do síndico. Mas não para por aí: num áudio enviado à Giordana, ela faz ameaças:

“Não sei quem é você, não lhe conheço, eu não sei de onde você veio, nem de onde você é, eu sei que eu sou proprietária de três apartamentos aqui no condomínio, se trata de um condomínio familiar. Tenho uma prima que é da Polícia Federal, ela disse que isso não pode acontecer”

“Aqui num é casa de show entendeu? Aqui tem senhoras, crianças e adolescentes. Eu também trabalho com o Conselho Tutelar e eu estou pedindo ao síndico que tome posição diante disso, porque não vai ficar assim não, tá certo?

Polícia Federal e Conselho Tutelar. O que tem a ver?

Ainda de acordo com Giordana, houve sim uma reunião com o síndico. Só que ela não foi chamada a participar.

“O síndico falou com o meu companheiro e com o meu pai. Comigo não. Em nenhum momento falou comigo. Ele postou uma nota no grupo, dizendo que estava tudo resolvido mas não faço ideia do que foi conversado ou acordado. Em nenhum momento me pediram desculpas, nem teve nenhuma nota reprimindo esse tipo de atitude. Eles ‘resolveram’ algo que eu não tenho ideia do que se trata, porque não fui informada”.

Felizmente, alguns moradores do condomínio se posicionaram a favor de Giordana:

Giordana conta ainda que fez um Boletim de Ocorrência. “Já estou encaminhando tudo, vou dar entrada num processo e vou até o fim. Só não sei no que vai dar, mas a gente não pode normalizar esse tipo de situação”.

Casos como esse estão se espalhando pelo Brasil e isso pode não ser apenas coincidência. Em 12 de maio, publicamos aqui uma matéria onde uma moça estava sendo constrangida por um vizinho que se dizia incomodado pelo tamanho do short que ela usava.

“Por incrível que pareça, no mesmo dia que eu publiquei nos meus stories esse caso, aconteceu isso tudo comigo. Então, não sei se é por pura maldade mesmo ou as pessoas estão muito desinformadas, ou é ignorância. Mas isso é muito grave e afetou não só o meu profissional, não só o meu social, afetou também a minha segurança. Eu nunca me expus pras pessoas daqui, isso não pode nunca ser normalizado e as pessoas precisam falar e expor sempre que acontecer, não podemos deixar passar”

Por meio de nota, o condomínio afirmou que “não irá se posicionar sobre o caso, mas afirma a inexistência de irregularidades nos vídeos”. A nota também ressalta que “o condomínio preza pela democracia, diálogo e respeito, objetivando manter sempre uma boa convivência entre todos os condôminos”.

Do Paraíba Feminina