A ala mais radical, de acordo com Cid, também era composta por:
- Onix Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro;
- Jorge Seif, senador;
- Gilson Machado, ministro do Turismo do governo Bolsonaro;
- Magno Malta, senador;
- General Mario Fernandes, secretário executivo do general Luiz Eduardo Ramos.
Cid disse à Polícia Federal que Bolsonaro era aconselhado por três grupos distintos, um mais radical — do qual faziam parte Michelle e Eduardo — , outro formado por políticos conservadores e outro que ele classificou como “moderado”.
Do grupo “moderado”, faziam parte generais da ativa que se opunham ao golpe. Cid cita:
- o Comandante do Exército, general Freire Gomes;
- o chefe do Departamento de Engenharia e Construção, general Arruda;
- o chefe do Comando de Operações Terrestres, general Teófilo;
- o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio.
De acordo com Cid, esse grupo temia que Bolsonaro fosse influenciado pela ala mais radical e assinasse “uma doideira”.
A defesa de Bolsonaro publicou nota em que manifesta indignação diante de novos “vazamentos seletivos” e critica o que chama de “investigações semissecretas”.
“Investigações “semissecretas” — em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova —, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar”, dizem os advogados.
Também em nota, o senador Jorge Seif disse que as declarações de Cid são “falaciosas, absurdas e mentirosas”.
“Jamais ouvi, abordei ou insinuei nada sobre o suposto golpe com o presidente da República nem com quaisquer dos citados na delação vazada”, continuou. O senador disse que vai adotar as medidas judiciais cabíveis contra o vazamento e o conteúdo das declarações.
O acordo de delação de Cid foi firmado pela PF e homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 9 de setembro.
Na delação, Cid aponta Bolsonaro como mandante dos supostos crimes investigados nessa frente de apuração — peculato (desvio de bens públicos) e lavagem de dinheiro.
‘Gabinete do ódio’
Também como parte do acordo de delação premiada, Cid confirmou a existência do chamado “gabinete do ódio” na estrutura do governo.
Cid afirmou à Polícia Federal que três assessores presidenciais utilizavam a estrutura do governo, em uma sala do Palácio do Planalto, para produzir parte do conteúdo que o então presidente difundia para seus contatos e nas redes sociais.
Segundo a investigação da PF, o material continha ataques às instituições democráticas, como o STF.
Relógio e joias da Arábia Saudita
Na delação, Cid afirmou que recebeu “determinação” do então presidente para avaliar o valor de um relógio Rolex e autorização para vendê-lo junto com outros itens que compunham um kit de joias valiosas dado pela Arábia Saudita como presente oficial.
As declarações do militar confirmam as suspeitas anteriores da PF de que as joias foram vendidas a mando do ex-presidente, que teria recebido os valores em dinheiro vivo para não deixar rastros.
O que diz Bolsonaro
Os advogados do ex-presidente, Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Celso Sanchez Vilardi, publicaram nota em criticam a publicação da delação de Cid. Leia:
“A defesa do Presidente Bolsonaro, tendo tomado conhecimento da divulgação de trechos da colaboração premiada do Ten Cel Art Mauro Cid, manifesta sua indignação diante de novos “vazamentos seletivos”, assim como seu inconformismo diante do fato de que, enquanto lhe é sonegado acesso legal à integralidade da referida colaboração, seu conteúdo, por outro lado, veio e continua sendo repetidamente publicizado em veículos de comunicação, tornando o sigilo uma imposição apenas às defesas dos investigados, evidentemente prejudicadas em seu direito a ampla defesa.
Investigações “semissecretas” — em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova —, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar.”