Membro do ‘gabinete do ódio’ de Bolsonaro, paraibano vira alvo da CPMI das Fake News

Originário de uma família pobre e natural da cidade de Campina Grande, o paraibano Tercio Arnaud Tomaz, de 31 anos, está no ‘olho do furacão’ da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, instalada pelo Congresso Nacional. Ele é apontado como um dos três integrantes do chamado ‘gabinete do ódio’, núcleo de assessores do Palácio do Planalto que detém forte influência sobre o presidente Jair Bolsonaro.

Nesta quarta-feira (30), Tercio Arnaud Tomaz foi acusado pelo deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), de integrar o ‘gabinete do ódio’, juntamente com outros dois assessores especiais da Presidência da República: José Matheus Salles Gomes, 26, e Mateus Matos Diniz, 25. A denúncia do parlamentar tucano ocorreu durante depoimento prestado à CPMI das Fake News.

De acordo com Alexandre Frota, Tercio, José Matheus e Mateus Matos agem sob a coordenação de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), vereador no Rio de Janeiro e filho do presidente da República. “Vem de dentro do Palácio do Planalto os três personagens que vieram das redes bolsonaristas e tiveram oficializadas as suas redes de ataque com dinheiro público. E quem coordena? Carlos Bolsonaro. Direto do Rio de Janeiro, ele coordena realizando reuniões e disparando via WhatsApp os seus comandos”, contou o deputado tucano, que até pouco tempo atrás era filiado ao PSL e integrava a base de sustentação política do presidente na Câmara dos Deputados.

Ainda de acordo com Frota, antes mesmo da eleição de 2018, Tercio, José Matheus e Mateus Matos administravam sites e páginas que compartilham fake news pró-Bolsonaro e ataques pessoais a adversários. Ele contou que após se tornar presidente, Bolsonaro acabou institucionalizado essa prática em seu favor.  “Bolsonaro se encantou com essas três figuras e os trouxe para trabalhar dentro de seu gabinete”, comentou o deputado.

Quem é Tercio

Tercio Arnaud Tomaz foi nomeado no início deste ano pelo presidente Jair Bolsonaro para o gabinete pessoal da Presidência, como servidor comissionado DAS 102.5, que tem remuneração de R$ 13,03 mil. Antes, ele foi assessor do então deputado Jair Bolsonaro na Câmara Federal e do vereador Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio, e ficou conhecido por comandar a página ‘Bolsonaro Opressor 2.0’.

Membro do ‘gabinete do ódio’ de Bolsonaro, paraibano vira alvo da CPMI das Fake News
A página ‘Bolsonaro Opressor 2.0’ no Facebook foi criada pelo paraibano Tercio Arnaud Tomaz

Tercio ocupava até o final do ano passado um cargo comissionado no gabinete de Carlos Bolsonaro, onde estava lotado desde dezembro de 2017. Em agosto 2018, o Jornal Globo revelou que o paraibano recebia salário da Câmara sem trabalhar de fato no legislativo da cidade do Rio de Janeiro.

Na época da pré-campanha de Bolsonaro à Presidência, a verdadeira ocupação de Tercio era a produção de conteúdo digital, filmando e fotografando Bolsonaro em momentos de descontração e em intervalos de sua agenda como pré-candidato. Na ocasião, o chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro, Jorge Luiz Fernandes, chegou a negar ao Jornal O Globo que o paraibano trabalhava na campanha.

Logo após a vitória de Bolsonaro, porém, Tercio passou a se apresentar como assessor de comunicação do presidente eleito. Recebia demandas da imprensa, divulgava agenda e compartilhava áudios e imagens oficiais, mesmo enquanto estava no gabinete de Carlos Bolsonaro.

Formado em biomedicina em uma faculdade de Campina Grande, Tercio trabalhava como recepcionista em um hotel antes de atuar nos gabinetes de Bolsonaro, em Brasília, e de Carlos, no Rio.

“Gabinete do ódio’

Os três integrantes do ‘gabinete do ódio’ já têm requerimentos de convocação aprovados para que prestem esclarecimentos na CPMI. Ele são apontados como defensores da pauta de costumes, produzem relatórios diários – com suas interpretações – sobre fatos do Brasil e do mundo, e são responsáveis pelas redes sociais da Presidência da República.

Com forte ligação com Carlos Bolsonaro, o trio passou a conquistar cada vez mais a confiança do presidente e a ditar, em momentos-chave, o comportamento do “mito”, nome a que se referem a Bolsonaro até hoje e que é usado pelos seus simpatizantes. O bunker ideológico, aliás, está instalado numa sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos passos do gabinete presidencial.

Com salários que variam de R$ 10 mil a R$ 13,6 mil, os três eram tidos até então como jovens e inexperientes demais para influenciar a cabeça de quem ocupou o cargo de deputado federal por sete mandatos.  Antes, porém, já vinham dando demonstrações de que tinham extrema interferência no dia a dia do governo.

A pressão sobre Bolsonaro para a queda de dois ministros, Gustavo Bebianno (Secretaria Geral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), é atribuída ao grupo, que turbinou a ofensiva para derrubá-los após os dois terem se envolvido em cizânia pública com o filho 02 – no caso de Bebianno, em meio ao escândalo de candidaturas laranjas do PSL revelado pela Folha.

Desde então, o tratamento dispensado pelo trio do ‘gabinete do ódio’ a auxiliares de Bolsonaro é sempre em tom de ameaça. Funcionários do Planalto relatam que já receberam mensagens como “o Carlos não vai gostar disso”, em referência ao vereador, e “você se lembra o que aconteceu com Santos Cruz e Bebianno”.

A última vítima do bunker palaciano foi o ex-secretário de imprensa do Planalto Paulo Fona, que tinha o apoio do atual ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, e ficou apenas seis dias no posto, caindo em agosto.

Antes mesmo de o jornalista ser nomeado, mensagens contra a sua indicação foram disparadas a auxiliares presidenciais. Nas redes sociais e em sites e blogs ligados à direita, houve uma enxurrada de críticas ao histórico profissional de Fona, que atuou para quadros do MDB, do PSDB e do PSB.

Dos três integrantes do chamado ‘gabinete do ódio’, um em especial tem ligações com a Paraíba: C Arnaud Tomaz. Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, ele foi nomeado em 24 de abril de 2017 para trabalhar em cargo de comissão no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. “A pedido de Bolsonaro, que gostou do conteúdo publicado, (Tercio) foi trazido de Campina Grande, na Paraíba, para trabalhar em Brasília”, diz trecho da reportagem.