Marcos Thomaz: “Chega de Saudade…” – O imortal João vive!

Não vou ser hipócrita de seguir o fluxo post mortem e me tornar um fã ocasional do João Gilberto! Nunca fui um consumidor da obra do baiano, tampouco nutro qualquer afinidade estética, ou identificação com a Bossa Nova!! E é paradoxalmente dessas diferenças, que surge alguma espécie de admiração incompreendida minha pelo artista. Explico:

Se, por um lado, não me toca, não me emociona, não me arrebata a música de João Gilberto, no outro extremo reconheço dever a ele boa e representativa parcela do meu catálogo de referências sonoras. Pois, foi da influência direta de João que foram forjados alguns artistas que ocupam lugar de destaque na minha “cabeceira musical”.

E o que mais pode revelar a genialidade de um artista do que a sua capacidade de se “espalhar em outros”?? O que mais representa a imortalidade da arte do que a capacidade de se perpetuar em outras obras?? O que é mais relevante do que ser referência seminal para outras grandes personalidades?

Sem João Gilberto, o que seria do samba rock de Jorge Ben Jor?? O primeiro disco do carioca é uma total tentativa de replicar João Gilberto. Até os maneirismos vocais (sussurros, quebra silábica bem cadenciada, mistura de fonemas – o som do jota quase se “achegando” ao barulho do X).

Nem mesmo Roberto Carlos escapou da força de atração de João Gilberto. Antes de explodir com a onda Iê-Iê-Iê da Jovem Guarda, o Rei iniciou sua imersão nos círculos musicais cariocas emulando João Gilberto ao violão!!

A lista de influências do criador da Bossa Nova traz também uma improvável parceria entre João Gilberto e os iconoclastas Novos Baianos. Além da inusitada e real amizade entre a turma de Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Baby e cia com o excêntrico João Gilberto, foi também do último a opinião definitiva para a mudança de estilo, que redundou na construção estética/musical que imortalizou os Novos Baianos. Após observações e exibições ao vivo e exclusivas de João Gilberto os hippies baianos saíram da linha rock’n roll mais convencional para explorar mais brasilidades em seu som, culminando no histórico “Acabou Chorare”!

Por fim, só de imaginar, que sem o legado do gênio de Juazeiro jamais existiria, por exemplo, Caetano Veloso, por si só já me faria render-me a João Gilberto. O próprio Caetano já disse explicitamente que o conterrâneo baiano representava todo seu estímulo e referência inicial. Segundo Caê, aliás, nenhuma, absolutamente nenhuma relação de melhores álbuns brasileiros de todos os tempos pode ser levada a sério se não constar os 3 primeiros álbuns de João Gilberto encabeçando o topo da lista!!

Desculpa a minha ignorância, João! Mas, de todo modo, obrigado por tudo e siga em paz!!