A Paraíba já passa de mil mortes por Covid-19. São 1019 óbitos registrados em cartórios civis do estado, até esta terça-feira (30), tendo como causa da morte a infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Os dados são da plataforma especial sobre Covid-19 da Transparência do Registro Civil. Nos seis primeiros meses de 2020, os municípios paraibanos apresentaram uma alta de 1092% nos registros de óbitos ligados a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com relação ao mesmo período do ano passado.
Até o dia 30 de junho, o estado notificou 977 mortes por Covid-19, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Já o Registro Civil, aponta que até o mesmo período, desde a primeira notificação no território paraibano, foram emitidos 1019 atestados de óbitos devido às mortes pelo novo coronavírus.
Conforme dados do Registro Civil, 16 paraibanos faleceram de Covid-19 em via pública, enquanto outros 11 morreram em casa. 1008 pessoas faleceram em hospital, e outros cinco morreram em local indeterminado.
João Pessoa
João Pessoa tem uma diferença percentual de 22,6% entre notificações da Vigilância Municipal e registros em cartório. No dia 29 de junho, eram 390 atestados de óbitos emitidos e 318 mortes notificadas pela Prefeitura da capital. Há uma discrepância de 72 mortes por Covid-19 entre notificações da Vigilância Municipal e registros em cartório.
Os registros de óbitos são feitos através da declaração de óbito, que é um documento com três vias. Uma fica no hospital, uma via de cor branca vai para a Secretaria de Saúde, e uma terceira via de cor amarela é entregue à família. Esta última via é usada no cartório para lavrar a certidão de óbito.
Daniel Batista, gerente de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de João Pessoa, explicou que o trâmite entre família e cartório pode ser diferente, e mais rápido, que o necessário para registro junto à Secretaria Municipal de Saúde.
“O tempo entre a emissão da certidão e a validação dela no cartório é mais rápido que chegar na secretaria. Sabendo que o coronavírus são dados de interesse epidemiológico internacional, recomendamos que dentro de 48 horas as declarações venham para secretaria, nem sempre é possível, até porque todos os serviços de saúde podem comunicar um óbito por coronavírus”, explicou Batista.
O gerente destacou ainda que a Secretaria de Saúde busca deixar o registro da morte por coronavírus dentro do prazo de sete dias, para ser incluído dentro da chamada “semana epidemiológica” do município.
Campina Grande
94 mortes. Este é o número da discrepância entre as 115 mortes notificadas pela Prefeitura de Campina Grande e os registros civis em cartórios da região, que apontam 209 atestados de óbitos ligados à Covid-19 até o dia 30 de junho. É uma diferença percentual de quase 82% entre os números.
Em uma semana, entre 23 e 30 de junho, o número de mortes aumentou 40% na cidade da Borborema paraibana. De 82, passou para 115 mortes notificadas pela Secretaria de Saúde campinense.
Porém, apesar de notificar no dia 23 de junho 82 mortes por coronavírus, o registro civil já apontava 184 óbitos nos cartórios, 102 mortes a mais que as notificadas oficialmente nos dados da Prefeitura de Campina Grande.
O Paraíba Já entrou em contato insistentemente com o secretário de Saúde de Campina Grande, Felipe Reul, para comentar sobre os números, mas as ligações não foram atendidas nem as mensagens respondidas, apesar de visualizadas.
Às 17h35 desta quarta-feira (1º), o Paraíba Já contactou a assessoria da Secretaria de Saúde de Campina Grande, que ficou de enviar uma nota sobre os números mostrados nesta reportagem. (Atualização às 17h40)
Santa Rita
O número de óbitos por Covid-19 em Santa Rita apresenta extrema precisão entre os notificados pela prefeitura e os atestados de óbitos lavrados em cartórios da região. No dia 26 de junho, eram 94 mortes notificadas e o mesmo número de registros civis na mesma data.
O município da Região Metropolitana de João Pessoa notificou, nesta terça-feira (30), 99 mortes por coronavírus, um aumento de nove casos em uma semana – no dia 23, notificou 90 mortes. Entretanto, a Transparência do Registro Civil não informa os atestados em cartório nesta data, há apenas os dados referentes até o dia 26.
De acordo com o secretário de Saúde de Santa Rita, Luciano Carneiro, a notificação mais próxima da realidade é um padrão que busca ser seguido pela prefeitura, para alcançar também o respaldo da população com relação às medidas tomadas pela gestão durante a pandemia.
“Nossa orientação é sempre divulgar a realidade de nosso município, não escondemos os números da população. Não fazemos subnotificação, trabalhamos com a notificação. Nossos dados são cruzados com nossas unidades, temos planejamento e também analisamos nossas planilhas. Os números são reflexo desse trabalho”, afirmou Carneiro ao Paraíba Já.
A Prefeitura de Santa Rita também tem um Centro de Testagem, localizando no CAIC, com equipe completa e multidisciplinar, para atendimento a realização de testes nos santarritentese. “Objetivo é conseguirmos mapear nosso município e sabermos quais são os bairros com maiores incidências, para fazermos ações dirigidas, a exemplos das regiões dos mercados públicos”, explicou o secretário.
Ainda conforme Carneiro, Santa Rita passa por um momento de estabilização nos números da Covid-19, antes sendo a segunda cidade em número de óbitos e infectados, agora já caiu no ranking em ambos os cenários.
SRAG aumenta mais de 1000% entre 2019 e 2020
Nos seis primeiros meses do ano passado, foram registrados 12.666 óbitos por doenças respiratórias – pneumonia, insuficiência respiratória, septicemia, SRAG, demais óbitos (asma, bronquite, enfisema, tuberculose, H1N1), além das que apresentam causas indeterminadas. Já em 2020, foram emitidos 12.372 atestados de óbitos referentes a mortes por causas respiratórias. São 294 óbitos a menos ligados à causas respiratórias no mesmo período deste ano.
Neste mesmo período, os municípios paraibanos apresentam uma alta de 1092% nos registros de óbitos ligados a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com relação ao mesmo período do ano passado. Foram 14 registros em 2019, enquanto este ano já são 167.
Desde o dia 16 de março, apontado como dia do primeiro registro em cartório de morte por coronavírus na Paraíba, até o dia 30 de junho, há um aumento de mais de 56% no número de morte por causas indeterminadas ligadas à doenças respiratórias no estado, se comparado os anos de 2019 e 2020. No ano passado foram 39, já neste ano são 61.
Neste mesmo período, no ano passado eram registradas 7.754 mortes por causas respiratórias, já neste ano são 7.618.
Percentual de Covid-19 dentro das mortes gerais
Proporcionalmente, os números apresentados por Santa Rita nas notificações não se refletem dentro do contexto de mortes por Covid-19 dentro dos óbitos gerais nas cidades. Das 537 mortes totais – por qualquer causa – na cidade, 99 delas, de acordo com a prefeitura em boletim neste dia 30, foram por coronavírus, o que representa que 18,4% das mortes totais da cidade foram por infecção com Sars-Cov-2.
14% da população pessoense que morreu nos seis primeiros meses deste ano foram por coronavírus. Dos 2.805 óbitos totais registrados na capital, 390 deles foram devido à Covid-19.
Em Campina Grande, que teve 1.941 mortes no geral até o dia 30 de junho, tem um percentual de 10,7%, com 209 óbitos por Covid-19.
Do ‘boom’ à estabilização: aumento percentual de mortes na Paraíba
Em contraste com o aumento localizado que acontece nos municípios, no último mês a Paraíba vem demonstrando estar entrando numa fase de estabilização dos casos de mortes por Covid-19. Uma média de 27,07% no aumento de mortes nas últimas cinco semanas epidemiológicas no estado.
O território paraibano passou por um ‘boom’ de mortes entre o fim de maio e começo de junho. O fim do quinto mês do ano (27 de maio a 2 de junho) teve um aumento de mortes de 27,18%, quando passou de 298 para 379 mortes, e apresentou um crescimento drástico de 40,89% na semana seguinte (2 de junho a 9 de junho), onde foi de 379 para 534 óbitos por coronavírus. Inclusive, esta semana foi a que apresentou o maior aumento percentual entre as cinco observadas.
A terceira semana observada, que compreende os dias entre 9 de junho de 17 de junho, demonstrou um aumento de 30,33%, evoluindo de 534 para 696 óbitos. O que representa uma queda no aumento percentual de mortes, em aproximadamente 10%. A semana seguinte também apresenta queda de quase 11%, quando o estado passa de 696 para 828 mortes por Covid-19, um aumento de 18,96%.
Na semana entre 24 e 30 de junho, a Paraíba aumenta de 828 para 977 mortes notificadas por coronavírus, aumento de 17,99%. Porém, mesmo que pequena, sendo praticamente 1%, ainda uma queda com relação ao período anterior.
Efeito nas cidades
João Pessoa, Bayeux, Sapé e Mamanguape apresentam cenários semelhantes ao do estado, com um crescimento no fim de maio para começo de junho, e depois uma queda e estabilização no número de mortes ao longo das próximas semanas até o fim de junho.
Já Campina Grande e Santa Rita, só apresentam redução no número de óbitos desde o dia 27 de maio até o dia 30 de junho, com espaço para reduções substanciais entre algumas semanas epidemiológicas.
Patos e Guarabira têm comportamento diferente das citadas anteriormente. O município do Brejo paraibano tem um aumento de 133,33% na terceira semana observada (9 a 16 de junho), saltando de 6 para 14 mortes. Também na terceira semana, a cidade sertaneja tem um grande crescimento no número de mortes, com um aumento percentual de 58,62%, passando de 29 para 46 óbitos.
O comportamento do número de mortes em Cabedelo, dentro das semanas observadas, tem peculiaridades. Apesar de seguir o mesmo ritmo de João Pessoa, Bayeux e Sapé, que apresentam crescimento na primeira semana de junho, o município tem três semanas com 0% de aumento. Das cinco semanas analisadas, três delas têm números estacionados.
Cajazeiras é outro município que destoa dos comportamentos anteriores, mas também reflete a detecção informada pela Secretaria de Saúde da Paraíba sobre a interiorização da pandemia. O município no Alto Sertão apresenta sua maior taxa de aumento na quarta semana (17 a 24 de junho), com um crescimento de 71,42%, indo de sete para 12 mortes.
As cidades observadas na reportagem correspondem aos 10 municípios com o maior número de mortes notificadas no estado, conforme o boletim epidemiológico desta terça-feira (30).