Lula: última cartada para tentar bloquear avanços do ‘caranguejo’ Cunha

Por Walter Galvão

“Nunca aos domingos” é como se intitula a fase atual da Operação Jararaca que tenta desmontar alguns efeitos da Operação Lava Jato.

Entre esses efeitos, está a novidade vazada a respeito de propina supostamente paga pela empreiteira Andrade Gutierrez. O dinheiro público desviado segundo a metodologia do petrolão teria sido doado legalmente aos partidos políticos. Desde quinta-feira, quando do vazamento, que ninguém fala em outra coisa: usaram a Justiça Eleitoral para lavar o dinheiro sujo de corrupção. Incrível, né? Mas é isso mesmo.

Os manuais das fraudes indicam os tipos mais comuns de lavagem de dinheiro: contas com nomes falsos ou em nome de “laranjas”, devolução de empréstimos, offshores em paraísos fiscais, empresas fantasmas, letras de câmbio falsas, contrabando de dinheiro,internet banking… Mas, ao que tudo indica, transformar a Justiça Eleitoral em lavanderia é uma invenção tipicamente nacional.

Sobre o fato, disse o ministro, para muitos também um golpista, Gilmar Mendes, do STF: “Isso é realmente grave, vai causar certamente embaraço para a Justiça Eleitoral”. E mais: “É uma situação muito séria. Isso obriga a discutir a reforma não só do sistema de financiamento eleitoral, mas do sistema político como um todo.”

Mas afastemos o espanto, guardemos a perplexidade. E vamos retomar a nossa conversa.

A Jararaca, como é do conhecimento de quase todos, é aquela operação que tem como estrategista mor o ex-presidente da República e por enquanto quase ministro da Casa Civil Luiz Inácio Lula da Silva. Quase ministro, pelo menos até a tarde desta sexta-feira enquanto escrevo estas notas.

A estratégia de Lula, que já realizou mais de 60 reuniões com grupos políticos e lideranças parlamentares de quase todos os matizes nos últimos 15 dias, é clara e coruscante: impedir o golpe embutido no pedido de impeachment sob avaliação da Câmara dos Deputados; estabelecer parcerias, inclusive com a oposição, para firmar um novo pacto nacional de restauração da governança e da governabilidade.

A estratégia lulista prevê também direcionar as parcerias de forma a dissolver o núcleo central da Lava Jato encastelado no que ele batizou de República de Curitiba. E mais: restabelecer a credibilidade da economia através da nomeação de Henrique Meireles para o Ministério da Fazenda; refundar o PT; definir uma agenda com os governadores.

Inclui ainda a estratégia do ex-presidente petista: integrar a agenda nacional a uma nova dinâmica com a Alba – Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América; se candidatar a presidente da República, vencer as eleições de 2018 e descansar no sétimo dia.

O Instituto Lula não informou se, ou quando, tudo isso foi combinado com a sociedade brasileira. Mas é compreensível essa lacuna. O povo é só um detalhe. Agora, o importante é a Operação nunca aos domingos. Conforme já foi anunciado, o mix de réu, artilheiro bombardeado do PMDB e presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha quer porque quer que a votação da aceitação ou não da abertura do processo de impeachment da presidente da República aconteça no próximo domingo, 17.

A razão é clara. É aos domingos que os coxinhas saem às ruas cheirando a Chanel Número 5 e empurrando suas babás para bradar preconceitos contra o odor de povo petista no ar. Se a votação for justamente nesse dia, a coisa vai feder. Haverá aquela climão de protesto que faz a alegria da mídia golpista. E os parlamentares poderão até se sentir pressionados, devido à barulheira que geralmente acontece nesses protestos dominicais, a votar favoravelmente à abertura do processo de impeachment.

Além disso, Luiz Inácio falou, o Lula avisou, que o Cunha, de alcunha Caranguejo, ninguém ainda sabe o porquê desse apelido vazado pela Lava Jato, pretende espalhar mais cascas de banana no domingo fatídico pelos caminhos do Governo. Realizar a votação a partir dos Estados em que ele sabe que os deputados são contra a permanência de Dilma seria uma das armadilhas. Com isso, ele criaria um clima favorável aos que querem o afastamento da presidente.

Mas Lula, que ofega mas não desiste nunca, afinal ele ainda é brasileiro (contrariando a “Veja” golpista que disse que Lula estaria se preparando para viver na Itália), está disposto a desmontar a trama. A fase “Nunca aos domingos” da Operação Lava Jato haverá de funcionar. E o Brasil, phoenix entre phoenix, ressuscitará.

(Publicado na edição do jornal A União 10/04/2016)