Lula se emociona ao contar como lutou para dominar o ódio dentro da prisão

O ex-presidente Lula se emocionou nesta quinta-feira (21) ao discursar durante reunião do Diretório Nacional do PT em São Paulo, onde também aconteceu o Seminário das Mulheres do Partido dos Trabalhadores e o lançamento do livro Lula e a Espiritualidade, uma parceria da Editora 247 com a Editora Kotter.

“Eu comecei a pensar que nós precisamos melhorar nossa formação política, precisamos saber o que queremos falar para o nosso povo. Quando você está preso e você tem que dominar seu ódio, tudo se resolvia quando eu pensava que o povo estava mais ferrado que eu. Toda vez que eu ficava pensando e batia o desespero, eu lembrava que, mesmo preso, eu estava vivendo melhor que 70% do povo brasileiro. O povo está fodido e esse governo está acabando com o povo. Isso me alimentava. Então eu acho que saí um homem melhor do que eu entrei”, contou Lula.

O ex-presidente discursou ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, do ex-prefeito Fernando Haddad, entre outras lideranças do partido.

O livro

O livro Lula e a Espiritualidade reúne uma antologia de artigos de líderes religiosos, como Frei Betto, Leonardo Boff, Monja Cohen, entre outros – alguns que chegaram a visitar Lula na prisão – sobre a relação do ex-presidente com a meditação, a oração e a militância.

Leia abaixo o prefácio do livro:

Em tempos de exploração da fé e manipulação política promovidas por falsos profetas que semeiam a ganância e o ódio, este livro é um sopro de esperança. Aqui estão reunidas diferentes vozes, das mais diferentes religiões, falando a mesma língua: a do amor. Para mim, e para os autores e as autoras deste livro, não há outra maneira de vivenciar a espiritualidade que não seja exercer o Bem.

Não sei dizer com exatidão quando a espiritualidade entrou na minha vida. O que posso dizer com toda a certeza é que desde muito cedo aprendi a amar o próximo. Serei eternamente grato ao povo brasileiro pela bênção de poder governar este país e transformar em ações concretas a minha crença mais profunda: a de que a vida só tem sentido se cada um de nós fizer as coisas com amor, generosidade e senso de humanismo.

Não aprendi a odiar. Não odeio sequer meus algozes, que me trancaram numa cela porque tiveram medo que eu voltasse à Presidência para cuidar dos mais necessitados,achando que com isso teriam seus lucros reduzidos, e porque odeiam qualquer um que sonhe em dividir o pão. Eles não sabem dividir. Eles não aprenderam a sonhar,enquanto eu, há tanto tempo privado de minha liberdade, sigo sonhando com um mundo melhor, onde reine a paz, a fartura e a justiça para todos.

Vivi a minha vida inteira cercado daqueles que mais amo: meus familiares, meus amigos, o povo brasileiro. Sei a dor que a distância deles me causou. No entanto, a solidão que me foi imposta fez de mim um ser humano melhor. Rezei, meditei, mergulhei numa jornada de autoconhecimento. A comunhão comigo mesmo renovou minha esperança e minha crença no ser humano.

Aprendi que a gratidão é um dos sentimentos mais fortes e mais nobres. Sou grato a cada pessoa que vem me visitar na prisão, que enfrenta o frio, o sol e a chuva na inesquecível Vigília pela minha liberdade, e que mesmo à distância ora por mim, envia energias positivas e me deseja o Bem.

Aprendi também que nunca estamos verdadeiramente sós, que somos parte de um Todo. Que a cada um é dada a missão de ser feliz e fazer os outros felizes, embora tantos ainda queiram o contrário.

Agradeço de coração ao amigo e irmão Mauro Lopes, idealizador deste livro, que nunca me faltou nas horas mais difíceis, e a cada autor e a cada autora que humildemente trouxe sua mensagem de fé e esperança. A todas e todos, minha eterna gratidão.

Paz e Bem.

Luiz Inácio Lula da Silva