Lula culpa Putin e “potências” por ação na Ucrânia: “Pré-história”

Em discurso nesta quinta-feira (3/2), na Câmara dos Deputados do México, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência da República, se posicionou contrário à ação da Rússia de invadir a Ucrânia. Ele considerou que, se tivesse conversado com o presidente russo, Vladimir Putin, antes da guerra, deflagrada no dia 24 de fevereiro, teria se colocado contrário à ofensiva.

“É inadmissível que em plena segunda década do século 21 alguns líderes insistam em se comportar como nossos antepassados da pré-história, quando não existia diplomacia e a única lei em vigor era a lei do mais forte, disse Lula. “É inadmissível que um país se julgue no direito de instalar bases militares em torno de outro país. E é absolutamente inadmissível que um país reaja invadindo outro país”, enfatizou.

A posição de Lula insere uma crítica direta ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que se encontrou com Putin uma semana antes da deflagração do conflito e diz ter conversado com Putin sobre a Ucrânia. Bolsonaro, no entanto, não revelou o teor da conversa.

“Nova Guerra Fria”

Além disso, o presidente brasileiro estendeu a crítica para os países do Ocidente que, segundo ele, não entendem que o mundo não está interessado em uma “nova Guerra Fria”.

“As grandes potências precisam entender que não queremos ser inimigos de ninguém. Não interessa a nós, nem ao mundo, uma nova guerra fria envolvendo Estados Unidos, China ou Rússia, arrastando o planeta inteiro a um conflito que pode colocar em risco a sobrevivência da humanidade”, disse o petista, que está no México para uma série de compromissos políticos com o presidente Andrés Manuel López Obrador e membros do partido, o Morena.

“Sou e serei contra todas as guerras e qualquer invasão de um país por outro país, seja no Oriente Médio, na Europa, na América Latina, no Caribe, na África, em qualquer lugar do planeta. Defenderei até o fim a paz e a soberania de cada nação diante de agressões externas”, disse Lula.

“Trilhões de dólares foram gastos em guerras recentes, antes e depois do 11 de setembro, no Oriente Médio e mesmo na Europa. Quantia suficiente para eliminar a fome no mundo e preparar o planeta para lidar melhor com as mudanças climáticas”, criticou.

“Cada míssil de milhares ou milhões de dólares disparado contra uma população civil, seja na capital de um país ou na aldeia mais remota, traz em seu rastro a triste certeza de que parte da humanidade insiste em caminhar para a autodestruição”, completou.

“Nobel para Assange”

O ex-presidente brasileiro agradeceu o presidente mexicano pela oferta de asilo político para o jornalista Julian Assange, que está preso em Londres.

Fundador do WikiLeaks, Assange é acusado de vários crimes por Washington, entre eles, o de publicar por meio do site milhares de documentos militares secretos e correspondência diplomática sobre as atividades dos Estados Unidos nas guerras do Iraque e do Afeganistão. O material, de acordo com o jornalista, revela corrupção e crimes norte-americanos.

“Eu digo sempre que o Assange não deveria estar preso, ele deveria ter recebido um prêmio Nobel porque ele efetivamente mostrou o tipo de política que os poderosos fazem contra os países mais pobres”, disse Lula.

“Desculpas de Obama”

“Falo isso porque o Brasil, no governo da presidente Dilma Rousseff, foi espionado e o presidente Obama teve coragem de pedir desculpa para a Angela Merkel, na Alemanha, mas não teve coragem de pedir desculpas para a Dilma, no Brasil, pela espionagem que estava fazendo e também pela espionagem na Petrobras, que hoje já temos muitas testemunhas de que, depois que descobrimos o pré-sal, fomos vítimas de muita espionagem”, disse.

“Não por acaso, se diz que em uma guerra a primeira vítima é a verdade por ousar revelar a verdade, Assange tornou-se ele próprio uma vítima da guerra”, disse Lula.

O ex-presidente se referiu, nesse caso, às revelações feitas em 2015 sobre os vazamentos do WikiLeaks, de que revelaram uma lista classificada pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos como “ultrassecreta”, na qual se inseria grampos no gabinete da então presidente Dilma Rousseff e mais 29 telefones do governo petista, incluindo o de ministros, diplomatas e assessores. Todos eles foram espionados pela agência de inteligência norte-americana.

Guerra do Iraque

Ao direcionar as críticas aos Estados Unidos, Lula lembrou da motivação da invasão do Iraque ordenada pelo então presidente George W. Bush, em 20 de março de 2003.

“Muitas das guerras que acontecem no mundo, a gente não sabe por que ela acontecem. Mas eu tenho certeza que uma delas foi mentirosa. Tenho certeza que a Guerra do Iraque foi mentirosa”, disse Lula, que estava em seu primeiro ano de governo no Brasil na época.

“Nunca fui aliado do Sadam Russein, mas posso dizer para vocês que a mentira contada pelos americanos e pelos ingleses que tinha armas químicas no Iraque e que era preciso invadir o país para acabar com o poder era uma mentira”.

Segundo apontou então o episódio envonvendo o diplomata brasileiro José Maurício Bustani, que foi diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), órgão da ONU, e que foi afastado, a pedido dos Estados Unidos, por não endossar a versão de que o Iraque possuia armas químicas, pretexto utilizado pelo governo do presidente republicano George W. Bush para promover a invasão daquele país em 2003.

“Esse cidaddo disse que não tinha armas químicas. Por conta disso, os Estados Unidos pediram que ele fosse afastado. Ele foi afastado e os Estados Unidos invadiram. Até hoje, passados quase 20 anos, ninguém apresentou ao mundo as arma química que o Iraque tinha”, enfatizou o brasileiro.

Do Metrópoles.