Lucy e a difícil arte de se viver de música

Viver de música não é nada fácil. Passei alguns anos buscando complementar minha renda produzindo shows e as únicas coisas que ganhei de verdade foram amigos e ainda mais interesse por cultura

Nos últimos dias, as redes sociais foram tomados por comentários nada elogiosos à mudança de postura na carreira da paraibana Lucy Alves. Ela, que conquistou o Brasil em um desses programas eliminatórios de cantores, tinha uma trajetória até então calcada por ritmos nordestinos e com a sanfona sempre presente.

De uma hora pra outra, Lucy deu uma guinada na sua carreira com o lançamento da música Caçadora, nessa linhagem pop que também não me agrada, mas que me faz entender perfeitamente a necessidade da cantora em expandir seus horizontes no mundo do entretenimento.

Com uma mistura de Marília Mendonça, As coleguinhas e naipes desse nicho que enchem casas de shows Brasil afora, atrelado a um visual bastante parecido com Beyonce, Lucy busca nessa reviravolta em sua carreira uma consolidação que poucos artistas no país têm, mas que garantem a longevidade de construir um caminho que dê sustento e possibilidade de fazer o que realmente gosta fomentado por canções na linha das tendências do mercado.

Eu não condeno nem um pouco a trilha que a paraibana buscou ao gravar Caçadora. Tá certo que a gente estranha, acha esquisito, apelativo e que ela teoricamente não precisava disso, mas não é bem assim. Viver de música precisa de ambição, pés no chão, muito trabalho e um pouco de sorte. Mas, acima de tudo, é necessário ter o apoio do público, que muitas vezes só sabem reclamar de uma mudança, mas não prestigia aquilo que defende quando se nega a ir a um show de um artista local achando caro pagar 10 reais. Todos os finais de semana o Centro Histórico de João Pessoa é palco de alguns eventos de artistas locais e de fora que cobram entrada a preços populares que não pagam nem o custo de manter a banda e muitas vezes de graça, especialmente no início da caminhada.

Por isso que defendo o direito de Lucy Alves tentar no Pop consolidar sua carreira. Ela viveu por muito tempo do lado mais independente da música e tem o direito de querer galgar outros públicos. Porque talento ela tem de sobra para fazer discos plurais, explorando todas suas vertentes e gravando também o que realmente gosta, usando as tendências musicais que o mainstream aponta atualmente para ser seu cartão de visitas e seu mecanismo para alavancar e manter sua carreira.