JVNO se inspira na filosofia e na poesia em rock alternativo no Som Nascente

Definir o som da banda JVNO (lê-se Juno) é uma tarefa complicada quando você percebe que o grupo mistura filosofia, poesia, rock alternativo, maracatu, jazz e blues, às vezes na mesma música. Para entender melhor o estilo inusitado do grupo pessoense, o programa Som Nascente convida a banda, idealizada e liderada por Nicka Bezerra, para participar deste terceiro episódio da segunda temporada. 

A JVNO surgiu em 2016, a partir das ideias de Nicka em colocar um corpo nas composições que ela escreveu enquanto participava de outras bandas de João Pessoa. “Antes de cantar nesses grupos, eu já fazia minhas composições e queria introduzir nos projetos formados, mas não me sentia confortável para isso. Quando finalmente decidi me abrir para criar uma coisa minha, convidei os outros integrantes que compartilham da mesma essência e percebi que tudo não podia ter acontecido em melhor momento”, diz.

Apesar de compartilhar o mesmo nome da deusa romana, a inspiração para a banda veio com a personagem Juno McGuff, interpretada por Ellen Page no filme homônimo de 2007. “O que me chamou atenção e me agrada é o fato de ser um nome feminino mas que tem uma sonoridade masculina. Eu descobri que havia a deusa depois, mas já estava cativada pelo nome”, explica a vocalista.

Com pouco mais de um ano de existência e pelo menos nove meses de shows, o grupo trabalha na produção do primeiro disco, com músicas que já foram experimentadas nas apresentações. As letras são da vocalista, que revela uma surpresa: também compõe as melodias mesmo sem tocar nenhum instrumento.

“Embora eu não toque nada, quando eu escrevo a letra eu já penso numa melodia e chego pros meninos com a estrutura pronta. O lance é encaixar o que eu pensei com os instrumentos adequados e passar para o público a intenção que quero imprimir com aquilo”, diz Nicka.

O guitarrista Gabriel Reisenden fica responsável pela adaptação da melodia em notas musicais. “É um pouco demorado o processo de composição porque eu tenho que fazer os acordes a partir do que Nicka pensou e passar para o restante do pessoal. A partir daí, o resto fica quase como uma jam session”, comenta.

Literatura e filosofia

Entre as composições do disco está a música Sonho de Samsa, inspirada no romance A Metamorfose, de Franz Kafka. “Eu aprecio bastante o trabalho de Kafka, apesar de não ser especialista. A letra faz uma referência ao personagem Gregor Samsa, que acorda metamorfoseado em um inseto”, diz Nicka Bezerra.

A música mescla as referências ao livro com um viés filosófico. “O ponto chave da música é pensar acerca dessa mutabilidade que é o ser humano. O que seria do homem se tudo aquilo que a gente conhece e dá valor, de repente deixa de fazer sentido. É sobre essa questão do amanhã, da fluidez da vida, coisas que a gente não tem controle, que podem estar neste minuto e no próximo não estar mais. Então a música é sobre como a gente lida com essas mudanças”, explica.

Poesia e maracatu

Outra canção destacada pela banda no disco é Tilintar, que já ganhou uma versão acústica. No final da música, a cantora declama uma poesia de autoria própria. “Eu resolvi incluir esses versos para enfatizar as nossas raízes nordestinas. É muito comum a gente ver bandas daqui que inconscientemente cantam com o sotaque do sudeste, então quero reforçar nosso sotaque local, resgatar essa identidade”, diz Nicka.

O nordeste também está representado na música A Orca, quando a música tem uma quebra de ritmo e incorpora elementos do maracatu. “Estar nessa banda tem esses desafios. Nicka pensa na música de um jeito que de repente muda para outro, isso para mim é a parte preferida de tocar com a JVNO, esses elementos diferentes que são colocados na composição, de um jeito que tem a transição natural”, completa o baterista Marcus Matheus. Informações do G1.