Juiz vê indícios de que João de Deus chefiava organização criminosa

O juiz Liciomar Fernandes da Silva, ao determinar a prisão de João de Deus por posse ilegal de arma de fogo, afirmou que as investigações apontam que o médium “chefia uma organização criminosa que atua principalmente na cidade de Abadiânia”, no Entorno do Distrito Federal. O investigado é acusado de abuso sexual por centenas de mulheres que o procuraram para tratamento espiritual, foi indiciado por um caso e está preso desde o último dia 16 de dezembro. Ele nega os crimes.

Advogado do médium, Alberto Toron afirmou, em nota que o “juiz fez uma afirmação grave e sem qualquer base empírica. Essa é a verdade”.

O magistrado, ainda na determinação de prisão, também autorizou buscas em cinco endereços relacionados ao médium. Quatro dos mandados foram cumpridos em Abadiânia, onde fica a Casa Dom Inácio de Loyola – local dos atendimentos espirituais e onde teriam ocorrido os abusos –, e um deles em Itapaci, na região norte de Goiás.

Nas últimas buscas, a Polícia Civil encontrou esmeraldas, medicamentos e uma mala com R$ 1,2 milhão na casa do médium. O dinheiro foi localizado em um porão, acessado por um fundo falso em um armário.

Em buscas anteriores, policiais já haviam encontrado mais R$ 400 mil em moedas nacional e estrangeiras, além de armas, também na casa dele – o que motivou o pedido de prisão, concedido pelo magistrado.

O defensor acrescentou, neste sábado em mensagem à TV Anhanguera, que “muito do dinheiro encontrado tem a ver com antigas doações”.

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) levantou que há 255 vítimas em potencial. As mulheres que procuraram o órgão para denunciara os abusos teriam entre 9 e 67 anos nas datas dos crimes. Desses casos, o órgão acredita que 112 prescreveram.

Os promotores pretendem ouvir João de Deus ainda na semana que vem e denunciá-lo em seguida. Junto com o inquérito já fechado pela Polícia Civil, o órgão deve juntar outros casos recentes, ainda deste ano.

“Além do inquérito da Polícia Civil, o MP pretende agregar outros três fatos: dois crimes de violação sexual mediante fraude e um de estupro de vulnerável”, explicou o promotor Luciano Meireles.

Situação atual

  • Médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de arma;
  • MP recebeu 596 relatos de abusos sexuais e identificou 255 vítimas;
  • Mulheres que denunciaram João de Deus ao MP têm entre 9 e 67 anos;
  • Polícia Civil colheu depoimentos de 16 mulheres. Um inquérito foi concluído e há oito em andamento;
  • Em operações em endereços ligados a ele foram achadas armas, pedras preciosas e mais de R$ 1,6 milhão;
  • Justiça também decretou a prisão do médium por posse ilegal de armas de fogo;
  • Há relatos de supostas vítimas 15 estados brasileiros e outros seis países;
  • MP e polícia também querem apurar denúncia de lavagem de dinheiro;
  • Não há pedido para suspensão do funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola;
  • Defesa teve dois habeas corpus negados e foi ao STF
  • Mesmo que o ministro Dias Toffoli conceda o habeas corpus, João de Deus segue preso por causa do outro mandado de prisão

Investigação

João de Deus teve a prisão decretada no dia 14 de dezembro, a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que passaram a receber vários relatos de abuso sexual durante tratamento espiritual após a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus denunciar o médium no programa Conversa com Bial sete dias antes.

No dia 16, ele se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia. João de Deus prestou depoimento em seguida, durante três horas, e afirmou à Polícia Civil que, antes de as denúncias virem à tona, foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Além disso, negou os crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos dias anteriores à prisão.

O jornal “O Globo”, a TV Globo e o G1 publicaram nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.

Nota da defesa de João de Deus

1. É deplorável que profissionais da imprensa tenham acesso à decisão e os advogados do investigado, não!

2. A decretação da nova prisão preventiva, além de desnecessária, pois o investigado já está preso, se mostra inidônea porque calcada no desejo de calar o clamor público contra a impunidade. A jurisprudência de nossos tribunais é pacífica no sentido de que a prisão preventiva não se presta a punir sem processo e sem defesa. Prisão preventiva serve para tutelar os interesses cautelares do processo, coisa que não se demonstrou.

4. A nova busca e apreensão foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que é inadmissível. Mais: não se lavrou Auto de Apreensão no local como manda a lei. Portanto, a diligência é írrita.

Alberto Zacharias Toron, advogado

Informações do G1