Imprensa nacional volta a ‘pegar no pé’ do vereador Marmuthe Cavalcanti

O vereador Marmuthe Cavalcanti voltou a ser ‘destaque’ na imprensa nacional. Depois de ser ‘alvo’ de extensa reportagem veiculada no UOL, na última sexta-feira (6), o parlamentar de João Pessoa foi o ‘protagonista’ de artigo do jornalista Humberto Dantas, publicado nesta segunda-feira (9), na versão online do jornal Estado de S.Paulo (Estadão).

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A imprensa nacional começou a ‘pegar no pé’ de Marmuthe Cavalcanti depois que um vídeo publicado pelo próprio vereador gerou grande polêmica nas redes sociais.

No vídeo, gravado em sua residência no Valentina Figueiredo, Marmuthe aprece mostrando equipamentos de ginástica adquiridos pela Prefeitura de João Pessoa. Na filmagem, o vereador alega que o material seria um ‘presente’ que ele e o prefeito Luciano Cartaxo estavam dando aos moradores, por ocasião do aniversário do bairro.

Diante da repercussão negativa, o parlamentar justificou que apenas se prontificou a guardar, temporariamente, os equipamentos de ginástica em sua casa. Ele, contudo, reconheceu que errou ao ter postado o vídeo nas redes sociais.

Clique aqui ou leia abaixo o artigo completo publicado no Estadão:

A eterna solidariedade de nossa política

Está lá, no capítulo 5 da obra Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, escrito bem antes da metade do século XX: “o Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo”. Pois é. E o que seria capaz de nos manter tão próximos desse tipo de característica até hoje? O que nos falta para entendermos que parece impossível vivermos sob a sombra da mais absoluta confusão entre o público e o privado? Algo que no século XIX o pensador Max Weber já havia apontado como o elemento mais essencial para a consolidação de uma sociedade que se pauta em regras com caráter universal, no Brasil insiste em sobreviver. Esse maldito sentimento de que determinados agentes podem tomar para si o que é público em nome de seus projetos pessoais. Sejam tais questões individuais ou associadas a uma política mal feita e eternizada.

O exemplo que trago aqui pode parecer pequeno e repleto de boa vontade – para alguns será um absurdo eu tratá-lo de forma negativa. Assim: julgue você mesmo. Fique à vontade. Em João Pessoa, capital do estado da Paraíba, um vereador guardou em sua casa equipamentos de ginástica que seriam instalados numa praça em frente à residência, afirmando ser aquele o presente que ele e o prefeito ofertariam ao bairro pelo aniversário da cercania. A versão ofertada pelo representante é digna, inclusive, do nome do partido ao qual pertence: Solidariedade. Seu dom de ser solidário comove. Vamos à história.

O político fez um requerimento para a instalação de equipamentos de ginástica numa praça de um bairro de João Pessoa. No dia 23 de outubro o material chegou e foi descarregado por um caminhão. Por problemas técnicos não havia condições de instalação naquele instante. Solidariamente o representante disse que tudo poderia ser estocado em sua casa, e no dia seguinte os equipamentos foram regularmente alocados na praça. A polêmica que se seguiu foi grande. O político disse que agiu com a melhor das intenções, e que foi vítima de um jornalista que tentou o extorquir. Até aqui muitos cidadãos vão dizer que efetivamente o parlamentar foi bacana, agindo com boa vontade. À parte o fato de que esse tipo de guarda de materiais não é muito razoável, tudo poderia passar tranquilamente. E nesse caso o jornalista citado pelo representante pode mesmo ser da pior espécie. Mas vamos terminar a história com alguns pontos adicionais. Primeiramente: estranho que o requerimento de equipamento privilegie a praça onde mora o próprio vereador, mas paciência. Ele pode ter sido eleito fazendo campanha em nome do bairro, naquela lógica de distritalização que tanto encanta alguns. E nesse caso: o despachante do feudo zelou pela melhoria local. Segundo, e esse é o ponto mais grave: precisava do vídeo? Ué! Que vídeo? Pois é, assista aqui. O vereador gravou um vídeo e o postou nas redes sociais. Ao longo da narrativa mostra os equipamentos guardados sob a lógica solidária e diz que tudo aquilo é um presente dele e do prefeito para o bairro aniversariante. Presente? Pois é: “fruto de um requerimento nosso, uma grande conquista, a gente está dando de presente…”. Na gravação está claro que se não fosse a parceria entre prefeito e vereador a dádiva divina – inclusive a igreja é destacada na gravação – o grande milagre não teria ocorrido. É essa mesmo a função de um vereador? É dele e do prefeito o presente para o eleitor? Ou estamos diante de uma política pública que de forma organizada deveria servir aos cidadãos, atendendo às demandas da cidade? Entrevistado pelo UOL ele afirma que foi mal interpretado, e talvez não tenha sido feliz na questão do vídeo. Talvez? Eu iria além: o vereador MARMUTHE Cavalcanti (SD) teve a sensibilidade de um elefante em seu gesto. Mas tão pesado quanto o paquiderme é essa nossa cultura política repleta de boa vontade, de solidariedade.

Assista abaixo o vídeo gravado pelo vereador Marmuthe Cavalcanti que originou toda a confusão: