IBGE: Brasil teve redorde de mortes e menos nascimentos em 2021

Nunca morreu tanta gente no Brasil como em 2020, ano marcado na história mundial pela pandemia da Covid-19. Estudo divulgado nesta quinta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que passou de 1,5 milhão o número de registros de óbitos feitos no país ao longo do ano – maior contingente de mortes da história recente do país.

Ao todo, foram registradas 195.965 mortes a mais no país na comparação com 2019, o que corresponde a um aumento de 14,9% dos registros de óbitos – maior aumento, tanto em número absoluto quanto em percentuais, desde 1984, quando teve início a série histórica das Estatísticas do Registro Civil feita pelo IBGE.

O número de mortes a mais que o registrado em 2019 coincide com total de mortos em decorrência da Covid-19 contabilizado pelo Consórcio de Veículos de imprensa – foram 195.441, conforme balanço divulgado no dia 1º de janeiro de 2021. Como são levantamentos com fontes e metodologias diferentes, porém, não é possível estabelecer uma relação direta entre os números.

Até esta quarta-feira (17), o Brasil registrava 611.898 mortes desde o início da pandemia, sendo que a grande maioria desse total de óbitos (68%) ocorreu em 2021.

Com pandemia, número de mortes no Brasil teve salto histórico - nunca morreu tanta gente no país. — Foto: Economia/g1

Com pandemia, número de mortes no Brasil teve salto histórico – nunca morreu tanta gente no país. — Foto: Economia/g1

Antes, o maior aumento no número de mortes no Brasil havia sido registrado entre 1992 e 1993 – foram 56,4 mil registros a mais de um ano para o outro, o que corresponde a uma alta de 6,7%.

“Nessa época, o sub-registro era muito alto, o que pode interferir nessa variação. Então, fizemos essa análise considerando os últimos dez anos. Nesse intervalo, o maior aumento foi registrado na passagem de 2015 para 2016, cerca de 43,2 mil mortes a mais, ou uma alta de 3,5%”, apontou a gerente das Estatísticas do Registro Civil, Klivia Brayner.

A pesquisa mostrou, também, que:

  • 91% do total de mortes ocorridas no país se deram em decorrência de causas naturais;
  • 73,5% dos óbitos registrados no país ao longo de 2020 ocorreram em hospitais;
  • o aumento substantivo foi concentrado entre pessoas acima de 60 anos de idade;
  • o número de mortes aumentou mais entre homens (16,7%) que entre mulheres (12,7%);
  • houve queda no número de mortes na faixa etária abaixo de 15 anos

O levantamento considerou o total de registros de óbitos feitos no país, que inclui mortes por causas naturais (classificação que inclui a Covid-19) e não naturais (homicídios, suicídios, acidentes de trânsito, afogamentos, quedas acidentais etc), além daquelas de natureza desconhecida. A causa da morte em si não foi objeto do estudo. Todavia, segundo a coordenadora da pesquisa, alguns dados permitem apontar que o aumento de mortes está diretamente relacionado à pandemia.

“Houve um crescimento bastante relevante das mortes por causas naturais, o que é condizente com o cenário de uma epidemia”, apontou Klívia Brayner.

O IBGE destacou que, das 195.965 mortes a mais registradas em 2020 na comparação com o ano anterior, 190 mil se deram em decorrência de causas naturais, sendo que 148.561 foram de pessoas com mais de 60 anos, grupo com maior taxa de letalidade da Covid-19. Além disso, desse total, 73,5% dos óbitos ocorreram em ambiente hospitalar.

Maioria das mortes registradas no Brasil em 2020 ocorreram em ambiente hospitalar — Foto: Economia/g1

Maioria das mortes registradas no Brasil em 2020 ocorreram em ambiente hospitalar — Foto: Economia/g1

Para a epidemiologista Fátima Marinho, assessora sênior da Organização Não Governamental (ONG) Vital Strategies, “a grande maioria do excesso de mortes [em relação a 2019] foi por Covid-19”.

“Sabemos que aumentou um pouco o número de mortes por homicídio e que caiu um pouco o número de mortes por acidentes de transportes. Foram as mortes por causas naturais que aumentaram e o que chamamos de risco competitivo teve pouco impacto sobre esse aumento”, apontou.

Risco competitivo, explicou a pesquisadora, são doenças pré-existentes que aumentariam os riscos de morte por Covid-19. As principais, segundo ela, são doenças cardiovasculares e pneumonia, ambas com queda na comparação com 2019.

As mortes em decorrência de causas naturais representam 91% do total de óbitos registrados no país em 2020. Na comparação com o ano anterior, as mortes dessa natureza tiveram aumento de 16%, enquanto os óbitos por causas não naturais registraram uma alta de, apenas, 1,52%.

Maio e julho foram os meses com os maiores número de óbitos registrados no país. — Foto: Economia/g1

Maio e julho foram os meses com os maiores número de óbitos registrados no país. — Foto: Economia/g1

Maio e julho foram os meses que registraram os maiores números de mortes no país. Na comparação com 2019, os maiores aumentos do número de registros mensais foram observados em maio e dezembro. A gerente da pesquisa ponderou que “julho é um mês em que, historicamente, se vê um volume maior de óbitos mesmo”, supostamente relacionados às baixas temperaturas do inverno brasileiro.

Aumento de mortes concentrado entre idosos

Dentre as 195.965 mortes registradas a mais em 2020 na comparação com o ano anterior, 148.561 foram de pessoas com mais de 60 anos de idade. Ou seja, a população idosa, mais vulnerável às complicações da Covid-19, respondeu por 75,8% do aumento do número de óbitos no país.

Considerando apenas os óbitos por causas naturais, houve aumento de 16,6% entre os idosos, o que corresponde a 144.704 registros na comparação com 2019.

“Para as idades abaixo de 15 anos, observou-se redução dos óbitos entre 2019 e 2020”, destacou o IBGE. A redução de mortes nessa faixa etária foi de 15,1%, sendo ligeiramente maior para os homens (15,5%) e menor para as mulheres (14,6%).

Segundo a gerente da pesquisa, “o fato de as crianças e adolescentes terem ficado em casa parece ter reduzido expressivamente os óbitos até os 15 anos, talvez pela menor exposição a agentes patógenos em geral ou a riscos de causas externas”.

O número de óbitos dos menores de 1 ano de idade caiu 13,9%, o que corresponde a 4,1 mil mortes a menos entre bebês

“Esse fato pode estar relacionado tanto com a diminuição dos níveis de mortalidade quanto com o menor número de filhos nascidos no último ano”, apontou a gerente da pesquisa.

Ela destacou, ainda, que entre crianças na faixa etária entre 1 e 4 anos de idade, as reduções no número de óbitos foram foram ainda mais significativas, de 23%, o que corresponde a 1.326 óbitos a menos) – um anos antes, este grupo havia registrado alta de 1,5% do número médio de mortes.

Na análise por gênero, o IBGE observou que “o padrão da curva da sobremortalidade masculina, em 2020 não se alterou em relação àquela observada em 2019, já que os óbitos dos dois sexos sofreram aumentos”.

O número de mortes aumentou mais entre homens (16,7%) que entre mulheres (12,7%). Considerando óbitos de qualquer natureza, em média, são registrados 128 óbitos masculinos para cada 100 femininos. Quando se observa apenas as mortes naturais, são 117 óbitos de homens para 100 de mulheres.

Já entre entre as mortes decorrentes de causas não naturais, são registradas, em média, cinco óbitos masculinos para um feminino.

Maior aumento no Norte, puxado pelo Amazonas e Pará

Ao fazer a análise dos registros de óbitos regionalmente, o IBGE observou que todas as regiões do país tiveram alta significativa na comparação com 2019. Os maiores aumentos foram no Norte (25,9%) e no Centro-Oeste (20,4%).

O Nordeste (16,8%) também teve alta superior à média do país . Nas regiões Sudeste (14,3%) e Sul vieram a seguir (7,5%) o aumento foi menor que a média nacional.

O aumento na Região Norte foi puxado, sobretudo, pelo Amazonas (32%) e por Pará (28%), estados com as maiores altas percentuais do número de registros de mortes em relação ao ano anterior.

“Em todas as 27 unidades da federação houve aumento número de mortes em 2020. As menores variações foram observadas no Paraná (10,6%), Santa Catarina (9,5%), Minas Gerais (7,9%) e Rio Grande do Sul (4%).

Em números absolutos, a Região Sudeste, a mais populosa o país, concentrou quase a metade do total de registros de óbitos em 2020 – foram 702,3 mil, o que corresponde a cerca de 46% do total de mortes no país. O Nordeste, região com a segunda maior população do país, com 388 mil óbitos registrados, respondeu por cerca de 1/4 (25%) das mortes ocorridas no país.

Da mesma forma, São Paulo, que concentra a maior população absoluta do país, foi o estado com o maior número de óbitos registrados em 2020 – 347,7 mil, o que corresponde a aproximadamente 23% de todas as mortes ocorridas no Brasil.

Nascimentos diminuem ainda mais com a pandemia

Enquanto o número de mortes disparou no país, o número de nascimentos diminuiu ainda mais em meio ao cenário de pandemia. De acordo com o IBGE, o número de registros de nascimentos em 2020 teve queda de 4,7% em relação ao ano anterior.

Foram 2.728.273 registros de nascimentos em 2020 – cerca de 160 mil a menos que em 2019 – sendo que, desse total, 2.678.992 se referem a crianças nascidas em 2020 e registradas até o 1º trimestre de 2021. Cerca de 2% (49.281) são nascidos em anos anteriores ou com o ano de nascimento ignorado.

Em meio à pandemia, número de nascimentos no Brasil tem queda mais acentuada desde 2016 — Foto: Economia/g1

Em meio à pandemia, número de nascimentos no Brasil tem queda mais acentuada desde 2016 — Foto: Economia/g1

Segundo a gerente da pesquisa, Klívia Brayner, a queda da natalidade no ano passado foi a segunda mais intensa desde 2016, quando o país viveu uma pandemia de Zika vírus e viu o número de nascimentos cair em 5%.

“Em 2020, contudo, cabe ressaltar que a pandemia pode ter agravado o adiamento dos registros, por conta da dificuldade de deslocamento até os cartórios. Então, pode ser que uma parte dos 133 mil registros de nascimentos a menos tenha apenas sido postergado”, explica Brayner.

Houve queda no número de nascimentos em todas as regiões, sendo superior à média nacional nas regiões Norte (-6,8%) e Nordeste (-5,3%), e igual ou inferior no Centro-Oeste (-4,7%), no Sudeste (-4,3%), e no Sul (-3,1%).

Entre as unidades federativas, o Amapá teve a maior queda (-14,1%), seguido por Roraima (-12,5%), Acre (-10,0%) e Amazonas (-7,4%).

O levantamento evidenciou, ainda, que as mulheres seguem, cada vez mais, adiando a maternidade. Em 2020, do total de nascimentos registrados, 62,1% das mães tinham menos de 30 anos, enquanto 34,2% delas tinham entre 30 e 39 anos. Duas décadas antes, em 2000, esses percentuais eram, respectivamente, de 76,1% e 22%.

As mães na faixa dos 20 a 29 anos sempre concentraram mais de 50% do total de nascimentos. Em 2000, eram 54,5% das genitoras e, em 2010, 53,1%. Porém, em 2020, pela primeira vez, esse percentual ficou abaixo da metade (48,7%).

Do G1.