Os acidentes de trânsitos estão no topo das ocorrências do Hospital Estadual de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa. Só no primeiro trimestre de 2018 foram 2.537 entradas. No ano de 2017 foram contabilizadas 11.009 vítimas, um aumento de 7% em relação a 2016, quando 10.272 casos foram registrados. A unidade hospitalar é referência para pacientes politraumatizados, que tenham fraturas acima do cotovelo ou acima do joelho, além das fraturas mais graves – que apresentam lesão de vasos ou nervos.

De acordo com o setor de estatística da unidade de saúde, o mês de dezembro é considerado o mais violento quando comparado aos outros meses. Nesse período, os acidentes aumentam em até 9%. Os incidentes de motocicletas lideram: em 2017, foram 8.131, representando 74% de todos os acidentes. Os demais casos foram de atropelamento (1.136), automóvel (1.054), bicicleta (634) e ônibus (79).

Para o ortopedista Felipe Sena, os acidentes de trânsito já são considerados uma pandemia, devido aos números caóticos. “Há 15 anos, ninguém imagina isso, os plantões do Hospital de Trauma eram tranquilos. E atualmente de cada 10 pacientes que atendemos aqui, sete são de acidentes de trânsito – principalmente moto”, frisou.

Os bairros onde ocorre a maioria dos acidentes em João Pessoa estão localizados na Zona Sul: Mangabeira, Valentina, Geisel e Bancários, que representam 13% dos acidentados. Outros locais que chamam a atenção estão nas BRs 230 e 101, que juntas somam 7% das vítimas. Já em relação às cidades João Pessoa, Santa Rita, Bayeux, Mamanguape e Cabedelo são as que registram a maior parte dos acidentes.

Afonso da Silva Felinto, 54 anos, foi vítima de acidente de moto na BR 101, próximo de Mamanguape. Ele está internado na instituição há 15 dias. “Eu estava cansado, chovia muito, lembro só de querer chegar em casa. Foi quando fui surpreendido por um automóvel, mas graças a Deus estou aqui na unidade hospitalar, vivo. Só quero me recuperar por completo e voltar para minha família”, contou.

Os números também mostram que o sexo masculino representa 74,6% das vítimas de trânsito, enquanto as mulheres são apenas 25,4%. E ainda segundo o setor de Estatística, a grande maioria dos acidentados, 89%, concentra-se na faixa etária entre 18 e 59 anos, o que agrava mais ainda porque esses pacientes representam um grupo em plena capacidade produtiva.

É o caso do jovem Alemilton Faustino Barbosa, 20 anos, vítima de acidente de motocicleta, que deu entrada no último dia 09 de abril na unidade de saúde em estado grave. Ele estava de carona e não usava capacete. “Não me lembro de quase nada do acidente, só da sensação de estar sendo arremessado. No interior não temos o costume de usar capacete, por isso, estava sem o equipamento e quase morri. Hoje pensarei duas vezes ao sair de casa sem ele”, comentou.

Segundo o coordenador da Ortopedia, Umberto Jansen, no Hospital de Trauma de 85 a 90% dos leitos são ocupados por pacientes vítimas de acidentes de trânsito, além disto, são realizadas mensalmente 400 cirurgias ortopédicas, em média, tanto de emergências como eletivas.

Umberto Jansen associa o maior número de acidentes à imprudência no trânsito, o consumo de álcool e também as condições climáticas, principalmente neste período chuvoso. Ele também afirma que os acidentes com motociclistas deixam sequelas mais graves nos pacientes, que precisam de um tempo maior de internamento. “Os acidentes são mais graves, deixam mais sequelas, e os pacientes permanecem mais tempo internados, impactando gravemente (na ocupação) de leitos do hospital”, pontuou.

Para a diretora geral da instituição, Sabrina Bernardes, as vítimas de acidentes de trânsito requerem uma demanda maior de profissionais envolvidos. “Devido à gravidade dos acidentes é solicitado um número maior de especialidades, tais como ortopedista, cirurgiões: neurologista, bucomaxilo, vascular e plástico, o que torna o custo ainda mais elevado para unidade de saúde. Quanto maior a gravidade, maiores são as sequelas”, concluiu.

Felipe Sena orienta para necessidade de socorrer o mais rápido possível o paciente. “Existem acidentes de trânsitos leves e graves. Os leves não precisam esperar o Samu, somente os mais graves, como por exemplo, capotamento, quando o motoqueiro é ejetado para longe da moto. Nestes casos o risco é grande e tem que esperar o socorro, pois o transporte inadequado pode causar um dano maior à saúde do acidentado”, ressaltou.