Homem negro é espancado até a morte em supermercado do grupo Carrefour

Vítima teria discutido com a caixa do estabelecimento e foi conduzido pela segurança da loja até o estacionamento, no andar inferior

Um homem negro de 40 anos morreu na noite de ontem após ser agredido no supermercado Carrefour, na zona Norte de Porto Alegre, às vésperas do feriado da Consciência Negra. A vítima, identificada como João Alberto Silveira Freitas, teria discutido com a caixa do estabelecimento e foi conduzido pela segurança da loja até o estacionamento, no andar inferior. Um cliente, policial militar temporário, acompanhou o deslocamento ao lado de uma funcionária do mercado.

Durante o percurso, Freitas teria desferido um soco contra o PM, segundo afirmou a funcionária em depoimento à polícia. “A partir disso começou tumulto, e os dois agrediram ele na tentativa de contê-lo. Eles (o PM e a segurança) chegam a subir em cima do corpo dele, colocado perna no pescoço ou no tórax”, observou o delegado plantonista Leandro Bodoia. A cena lembra o que aconteceu com George Floyd, que morreu sufocado nos Estados Unidos ao ser contido por policiais.

Vídeos que mostram a comemoração e a tentativa de socorristas de salvar o homem circulam nas redes sociais desde a noite desta quinta-feira (19). Na gravação, Freitas recebe de um dos homens vários socos na região do rosto, enquanto o outro tenta segurá-lo. Uma mulher que estava usando proteção facial é vista perto deles, assistindo aos agressões. Funcionários do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegam a se deslocar até o local, fizeram massagem cardíaca, mas ele acabou não resistindo.

Ainda não se sabe a causa da morte de Freitas, o que deve ser apontado em laudo pericial. A esposa dele o acompanhava e já foi ouvida, mas disse que não presenciou as agressões. A mulher relatou que estava longe dele quando houve o desacato na caixa. “Ele (Freitas) chegou a fazer sinal para ela, mas achou que era brincadeira, nada de mais”, observa o delegado.

O PM temporário e a segurança foram levados à delegacia, mas permaneceram em silêncio durante depoimentos. Os dois estavam acompanhados de uma advogada.

A polícia agora aguarda o laudo pericial e mais imagens de câmera para esclarecer o caso. A investigação segue agora com a 2ª DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Carrefour decide romper contrato com empresa de segurança

Após o caso vir à tona, o Carrefour decidiu romper o contrato com a empresa de segurança e fechar a loja. Em nota, o mercado afirmou que “adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso”.

“O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário”, disse a empresa em nota.

O Carrefour, ainda em nota, disse “lamentar profundamente o caso” e salientou que iniciou uma “rigorosa apuração interna”.

“Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo o que aconteceu e acompanhamos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais”, salientou a empresa em nota.

Mercado já teve morte de cachorro e corpo coberto por guarda-chuvas

O Carrefour reúne uma série de casos de violência. No final de 2018, um cachorro foi morto por um segurança após ser agredido por uma barra de metal em Osasco, na Grande São Paulo.

Em agosto deste ano, um homem teve um mal súbito e acabou morrendo no interior da loja no Recife. Para manter o funcionamento local em funcionamento, funcionários bloqueiam o acesso visual ao corpo de Moisés com tapumes e guarda-sóis. O caso gerou revolta na internet.

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Do UOL