Gigabrow expõe “Romance do Pavão Encantado” até o próximo domingo

A delicadeza do traço do artista visual Gigabrow remete ao tempo da infância, em seu trabalho exposto neste mês dentro do projeto Arte na Empresa. Romance do Pavão Misterioso, inspirado no cordel homônimo de José Camelo de Melo Rezende, pode ser conferido no Hall de Exposição da Energisa, na BR 230, KM 25, no Cristo Redentor. A visitação acontece das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30, até o próximo dia 19, com entrada gratuita.

Gigabrow escolheu a história por se tratar de um clássico da cultura popular, principal fonte de inspiração para seu trabalho. Trechos do cordel ganham vida através dos belos e expressivos traços do artista. “O Romance do Pavão Misterioso foi um dos cordéis mais publicados até os dias de hoje e sua história me fascina pela sua narrativa, quando cruza o destino de dois jovens que se apaixonam e decidem viver esse amor. Foi isso que passei pra essa série de pinturas”, comenta.

O traço do artista tem influência direta da chamada arte naïf, uma categoria que não se enquadra necessariamente nos cânones da arte institucionalizada nem mesmo na linha da arte popular, embora beba de ambas das fontes. Através de autodidatismo e senso estético desenvolvido através de experiências pessoais, os artistas naïf desenvolvem sua técnica. Alguns dos principais representantes são Antônio Poteiro, Alexandre Filho e Henri Rousseau.

“A necessidade de criar uma identidade visual para o meu trabalho foi o que me levou a pintar o naïf, algo que também me ajudou muito na hora de passar nas oficinas as técnicas que uso para pintar”, comenta Gigabrow. Na exposição, as obras apresentadas são, em sua maioria, feitas com tinta acrílica e aquarela, ou ainda uma técnica mista. “Uso spray, tinta acrílica, caneta posca, tinta aquarela, tinta lavável, entre outras”, explica.

Nascido no bairro da Torre, em João Pessoa, viveu parte da infância, principalmente durante a infância, no sítio da família, em Itapororoca, interior da Paraíba. Lá, passou a ter seu primeiro contato com argila e desenho, usando como modelos de inspiração os bichos que viviam na região.

Seu irmão foi quem o introduziu a essas técnicas. “Ele fazia esboços e eu me divertia colorindo aquelas figuras. Certa vez, ele me ensinou a técnica do desenho: primeiro um olho, depois um nariz e por aí em diante”, relembra. Aos 21 anos, montou o primeiro ateliê, no bairro do Cristo Redentor. Mas, apesar disso, um dos principais suportes para expressar sua arte não foi a tela.

Não é difícil andar por João Pessoa e encontrar sua arte estampada em paredes e ambientes públicos. Com traço característico, Gigabrow faz um trabalho detalhado de cores. Sobre a arte de rua, uma das características destacadas pelo artista é a efemeridade. “Hoje, eu passo em uma rua que tinha um grafite, amanhã devem estar colando um cartaz por cima. É o movimento natural da rua, o tempo passa e as artes se apagam também, ficando guardadas na foto ou na lembrança que alguém carrega”, reflete Gigabrow.

Com uma carreira de quase 20 anos, ele também desenvolve seu trabalho em outras áreas. Como diretor de arte, um de seus trabalhos mais recentes pode ser conferido no Canal Brasil, que está exibindo o filme Batguano, de Tavinho Teixeira. Giga é responsável por dar vida ao futuro distópico onde a dupla decadente Batman e Robin sobrevive em meio a uma rara doença.

Além disso, ele também é responsável pelos quatro banquinhos emblemáticos dos shows do grupo paraibano A Troça Harmônica. “Através do grafite, tive contato com outras pessoas que produziam cinema aqui em João Pessoa e recebi o convite de participar da produção de arte, além de criar objetos de cena. Isso me levou a ter outro olhar sobre as coisas que faço e para as que vão pro lixo. A partir daí comecei a reciclar móveis e objetos encontrados na rua”, pontua.

Com informações de André Luiz Maia, do jornal Correio da Paraíba