Genivaldo 6 anos: o adeus a um dos maiores ídolos da história do Belo

Rogério Ceni, Marcos, Fred, Leonardo Moura, Magrão, Harley. São poucos os casos mais atuais de jogadores que permanecem por um bom tempo vestindo apenas um único traje no futebol. Tanto que dá para contar nos dedos das mãos. Mãos que foram os instrumentos principais da passagem do goleiro Genivaldo pelo Botafogo-PB. Mãos que salvaram o time de derrotas, de empates, de gols que o botafoguense sempre quis que não acontecessem. Mãos que receberam homenagens e que agora fazem os seus últimos movimentos: o de botar um ponto final na história pelo Belo e o de dar adeus após seis temporadas vestindo a camisa do Botafogo-PB.

Genivaldo e Juliana, casamento (Foto: Arquivo pessoal)
Genivaldo e Juliana: casados e apaixonados por João Pessoa (Foto: Arquivo pessoal)

Se para o time paraibano tem tudo para ser um definitivo “tchau”, para João Pessoa ele garante que é um “até logo”. O arqueiro, após todo este tempo com a estrela vermelha à frente do peito, não foi procurado pela diretoria botafoguense para renovar contrato e não vai vestir mais a camisa do Belo. Mas ele diz que não quer desistir da capital paraibana.

Natural de Urussunga, em Santa Catarina, e esposo de uma cearense, Genivaldo tem em seu sotaque o maior retrato da sua vida boleira. Cada lugar em que viveu é lembrado em seu papo em forma de gírias e expressões. Mas foi por João Pessoa que Genivaldo se apaixonou mais e, por isso, escolheu a cidade como futuro lugar para viver, após encerrar a sua carreira no futebol.

– Aqui vai ser sempre a minha segunda casa. E a ideia é fixar residência em João Pessoa. Aqui fiz muitos amigos. Ninguém nunca me viu falar que sou de Santa Catarina. Eu sempre digo agora que sou de João Pessoa. E quem sabe vou poder dizer em breve que tenho filhos paraibanos – falou o goleiro.

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CHEGADA COMO ILUSTRE DESCONHECIDO

O ano era 2010. O Botafogo-PB se preparava para mais uma temporada e seu primeiro teste seria um amistoso contra o Alecrim, no dia 9 de janeiro. Genivaldo iria para aquele que seria o primeiro dos 208 jogos que faria com a camisa do clube paraibano. E com a camisa 1, subiu ao gramado do Almeidão. Começou a escrever ali a sua trajetória no Belo. Pegou um pênalti na partida e acabou com boa parte da desconfiança que girava em torno de sua contratação.

Argeu dos Santos, técnico do Tiradentes (Foto: LC Moreira/Agência DIário)
Argeu dos Santos foi o responsável por levar Genivaldo ao Botafogo da Paraíba, ainda em 2009
(Foto: LC Moreira/Agência DIário)

– Em 2009, o Argeu dos Santos (treinador contratado para aquela temporada) me telefonou e disse que precisava de mim. Para ajudar ele no Botafogo. Eu já havia treinado com ele antes e nós tínhamos uma ótima relação. Lembro que eu tinha pré-contrato com uma equipe do Ceará para a temporada de 2010. Mas ele disse: “te vira, eu quero você comigo”. Resolvi minha situação no Ceará e alguns dias depois eu fechava com o Belo – relembra o arqueiro.

Vindo do Maranguape e com passagens recentes em times de menor expressão no interior do Nordeste, Genivaldo chegou sob muitas dúvidas. Era homem de confiança de Argeu dos Santos, mas a única referência que o torcedor paraibano tinha era a de uma passagem rápida pelo Atlético de Cajazeiras. Na segunda divisão do estadual. E como reserva.

– A gente subiu de divisão no Atlético, mas eu nem era titular. Era um momento muito difícil da minha carreira. E o Atlético me deu a oportunidade de treinar lá e consegui voltar a ficar empregado. Não muito tempo depois, eu já estava no Botafogo. Mas a torcida queria caras conhecidas e eu cheguei como um estranho – contou.

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AUGE EM MEIO À CRISE

Após o período de desconfiança, Genivaldo teve uma temporada quase perfeita. Foi destaque do campeonato e aos poucos passou a ganhar moral dentro do Botafogo. Principalmente, com a torcida botafoguense.

– Naquele ano, o Argeu acabou sendo demitido após perdermos um clássico contra o Treze dentro de João Pessoa. O time ainda era terceiro colocado, mas a diretoria acabou preferindo tirar o treinador. Eu me lembro de ter dito a Argeu que se ele precisasse de mim em outro clube, que ele me chamasse. Mas o próprio Argeu falou para eu ficar e buscar meu espaço. Segui o conselho dele e acabei ficando – prosseguiu.

Genilvaldo, goleiro do Botafogo-PB, na partida contra o Treze (Foto: Nelsina Vitorino / Jornal da Paraíba)
Genilvaldo rapidamente ganhou o respeito dos torcedores (Foto: Nelsina Vitorino / Jornal da Paraíba)

A temporada de estreia só não foi perfeita porque o Belo ficou com o vice-campeonato paraibano, perdendo o título para o Treze, melhor equipe daquele torneio. Com o fim do estadual, Genivaldo renovou pela primeira vez seu contrato e disputou ainda a Copa do Nordeste e a Copa Paraíba daquele ano.

 – Foi meu primeiro ano e não conseguimos conquistar o estadual. Mas a gente ganhou a Copa Paraíba em 2010. Alguns falam que é uma competição menor, mas eu tenho orgulho daquele título – observou Genivaldo.

Para o início da temporada de 2011, Genivaldo já não era colocado nas discussões futebolísticas como desconfiança, mas sim como o pilar de um bom time que poderia vir a ser formado. O que acabou não acontecendo. Mais uma vez a diretoria botafoguense deixou a desejar na montagem do elenco e o Botafogo teve poucos momentos de brilhantismo. Num desses raros momentos, o grande protagonista foi justamente Genivaldo.

Alguns falam que (a Copa Paraíba) é uma competição menor, mas eu tenho orgulho daquele título”
Genivaldo, ex-goleiro do Belo

– Eu sempre acho que quando o goleiro aparece demais em um time é porque alguns setores não estão indo bem. A gente sempre lutava pelo título, mas faltava alguma coisinha. Eu sempre queria fazer o meu melhor, porque se eu não sofresse gols, a gente iria chegar mais longe. E realmente eu me lembro de atuações boas que tive, que até me surpreenderam. Uma que não sai da minha cabeça foi aquela contra o Vitória lá no Barradão, pela Copa do Brasil – analisou.

Após vencer em casa, no Almeidão, por 3 a 1, o Belo foi ao Barradão, em Salvador, para o jogo de volta da primeira fase da Copa do Brasil. Se Genivaldo não sofresse gol, o time paraibano emplacaria seu primeiro avanço de fase na história da competição nacional. O time baiano pressionou o jogo inteiro, mas não conseguiu furar a defesa botafoguense, muito em virtude das grandes defesas do arqueiro. O desempenho de Genivaldo foi destaque nas repercussões da eliminação do Vitória na imprensa baiana. Esse foi o único bom momento do time naquela temporada.

Sem conseguir vaga para nenhuma competição nacional no segundo semestre, o Belo teve que fechar as portas mais cedo. Mas o clube mostrou que estava a fim de formar mesmo um ídolo. Renovou com Genivaldo para, na próxima temporada, contar com o goleiro novamente. O mesmo aconteceu em 2012, após um fracasso semelhante do time que não chegou às finais do estadual. Mas com mais uma renovação, Genivaldo era nome certo para 2013.

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A HORA DAS GLÓRIAS, MAS RESERVA NA PRINCIPAL

Depois de sucessivos fracassos dentro das quatro linhas, o Belo resolveu apostar numa receita caseira para 2013. Contratou o treinador Marcelo Vilar, bicampeão paraibano pelo rival Treze. E com ele vieram vários atletas campeões estaduais pelo Galo. Mas no gol, Genivaldo era intocável. Dono absoluto da primeira camisa do uniforme botafoguense.

Com um time mais organizado, mais entrosado e com melhor qualidade individual do que os elencos dos anos anteriores, a equipe despontou como favorita ao título do Paraibano daquele ano. Além disso, o grupo de jogadores se entendia muito bem também fora de campo. O Belo fez uma boa competição e acabou com o título estadual, após 10 anos de jejum.

– Eu acho que vai levar tempo para fechar um grupo como aquele de 2013. Quando saía um, entrava outro e dava conta do recado. Era um grupo muito bom e unido. Eu me lembro que quando perdemos o primeiro jogo da final, no Almeidão, muita gente desconfiou. A gente não. Ganhamos de 3 a 0 dentro da casa do Treze e fomos campeões. Aquilo vai ficar na história – comentou.

Treze x Botafogo-PB pela final do Campeonato Paraibano 2013 (Foto: Magnus Menezes / Jornal da Paraíba)
Treze x Botafogo-PB: final do Campeonato Paraibano de 2013: título do Belo dentro do Estádio Amigão
(Foto: Magnus Menezes / Jornal da Paraíba)

Aquela não seria a única glória do Alvinegro da Estrela Vermelha em 2013. Com o título estadual, o time paraibano teve o direito de representar o Estado na Série D do Campeonato Brasileiro. Seria a primeira participação do clube na quarta divisão nacional. E a única até agora. Porque com alguns reforços pontuais, o time comandado por Marcelo Vilar encaixou bem, fez uma grande campanha, ascendeu de divisão e faturou o título, a única conquista nacional do futebol paraibano.

Genivaldo conquista seu primeiro título estadual pelo Botafogo-PB (Foto: Magnus Menezes / Jornal da Paraíba)
Genivaldo conquista seu primeiro título estadual pelo Botafogo-PB em 2013 (Foto: Magnus Menezes / Jornal da Paraíba)

Na maior glória de toda a história do clube, no entanto, o ídolo maior acabou se tornando coadjuvante. Saiu de cena dos gramados e passou a ter outro papel na epopeia alvinegra. Foi brilhar nos bastidores, onde foi um dos grandes personagens daquele time.

Botafogo-PB x Juventude, Série D (Foto: Silas Batista / Globoesporte.com/pb)
Final da Série D: quis o destino que Genivaldo fosse reserva na maior das glórias do clube
(Foto: Silas Batista / Globoesporte.com/pb)

Após se lesionar na primeira fase do torneio, Genivaldo perdeu espaço para o até então goleiro reserva, Remerson. E mesmo após ter se recuperado da lesão, Genivaldo seguiu no banco de reservas por escolha do técnico Marcelo Vilar. Foi quando Genivaldo, ao lado de Warley (outro craque do estadual que foi para o banco na Série D), transformaram-se em líderes do time na competição.

– Eu fiquei muito triste por ter me lesionado naquela temporada. Mas uma coisa que é importante é respeitar o momento de quem está jogando. Eu voltei a treinar e fui para o banco. Quando eu estava jogando, o Remerson me apoiava e me respeitava. Não era justo então que eu não fizesse o mesmo com Remerson. Acho que foi visível o respeito que eu tive com ele. E isso é muito raro no futebol. Eu e Warley estávamos no banco. Então a gente treinava muito para ser exemplo para os titulares mais jovens. Era um grupo fantástico. E para vestir essa camisa tem que ter respeito – disse o goleiro.

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FIM DA LINHA

No ano seguinte, Remerson iniciou como titular a temporada, mas não tardou muito para Genivaldo voltar a assumir as luvas da equipe titular. No primeiro semestre a equipe fez um bom papel dentro de campo na Copa do Nordeste, mas o departamento de futebol acabou escalando dois atletas de maneira irregular na partida de estreia contra o Sport. Erro básico que custou a classificação da equipe para a segunda fase.

Genivaldo volta a mandar no gol do Botafogo-PB (Foto: Reprodução / TV Cabo Branco)
Genivaldo seguiu no Belo, retornou ao time titular e ficou no posto em 2014 e 2015, quando deu adeus ao Belo (Foto: Reprodução / TV Cabo Branco)

No Campeonato Paraibano, o Belo, que havia mantido uma base do time campeão brasileiro no ano anterior, acabou levando o estadual com certa tranquilidade. Bateu o Campinense na final e ficou com o título da competição. No segundo semestre a Série C do Campeonato Brasileiro era o passaporte para o sonho e a principal prioridade da temporada: o acesso para a segunda divisão nacional.

Com um time caro, com peças remanescentes e contratações importantes, o Belo entrou para o torneio com prognósticos otimistas da imprensa especializada. No fim, no entanto, mesmo após permanecer 17 rodadas no G-4 de classificação para a segunda fase da competição, o clube ficou de fora da zona de classificação justamente na última rodada, e deu adeus mais cedo à esperança de ascender de divisão. Genivaldo, mais uma vez, foi uma peça importante no ano e acabou renovando para mais uma temporada, que acabou sendo a última, defendendo o time de João Pessoa.

Saio de cabeça erguida”
Genivaldo, ao dar adeus ao Belo

O início de 2015 parecia dar um sinal de que aquele seria um ano complicado para o clube, que vinha de duas temporadas de muitas alegrias. O time fez uma campanha pífia na Copa do Nordeste, somou apenas um ponto em seis jogos e foi o pior dentre os 20 que disputaram a edição do torneio regional. Depois veio o Paraibano e, mesmo com a diretoria do clube bradando aos quatro cantos que o time seria campeão, o time não convenceu em nenhum momento e acabou amargando um vice-campeonato. Logo depois veio a Série C, que poderia ser a esperança de salvamento da temporada. Não era a lógica isso acontecer. E com uma campanha irregular, o time paraibano não entrou em nenhuma rodada na zona de classificação e acabou o ano com um gosto insosso na boca.

– Eu acho que em 2015 tive três lesões que me prejudicaram. Acredito que não fui bem nessa temporada, mas não foi um ano produtivo para nós. De toda forma, levo esse ano com muito aprendizado. Serviu para eu entender melhor que no mundo do futebol as coisas não vão acontecer sempre do jeito que a gente quer. Saio de cabeça erguida, de toda forma – finalizou.

Aos 35 anos, Genivaldo, já na sua reta final de carreira, sai do clube que ficou por mais tempo em sua história como goleiro após sua saída do Criciúma, onde se formou como atleta. Além das defesas, seu ofício dentro de campo, subir dos vestiários para o campo de jogo foi um dos movimentos mais recorrentes na sua vida de boleiro. Cena que ficou gravada no torcedor botafoguense por cerca de cinco anos. Genivaldo agora vai em busca de outras plateias. Já a torcida botafoguense vai ter que se acostumar com outros atores, mas sempre lembrando das atuações memoráveis do “Paredão”.

Genivaldo faz aniversário nesta quarta-feira (Foto: Rammom Monte / GloboEsporte.com/pb)
Adeus, Paredão (Foto: Rammom Monte / GloboEsporte.com/pb)
 As informações são do Globo Esporte PB.