Funcionários de hospital batem ponto ao lado de pacientes internados; assista

Em vídeo divulgado em redes sociais é possível ver em umas cenas uma fila de macas com pessoas no corredor de um andar da unidade

A atendente Andreia Barros, de 46 anos, que está com a mãe internada no Hospital 28 de Agosto, em Manaus, denunciou a superlotação do local e a falta de anestesista para cirurgias. A mãe dela está no local para fazer uma amputação e não tem Covid-19. A unidade é referência para tratamento da doença e, segundo Andreia, funcionários que tratam os infectados pelo vírus circulam livremente nas demais dependências do hospital.

Em vídeos gravados dentro da unidade na manhã deste domingo (3), Andreia relatou uma série de problemas. Em uma das filmagens é possível ver funcionários do hospital batendo o ponto entre os leitos de pacientes. Em outra imagem, há uma fila de macas com pessoas no corredor de um andar do hospital.

Assista

“A minha mãe tem 72 anos. É hipertensa, diabética e deu entrada no hospital no dia 26 para a retirada de um dedo, só que quando vão operar, sempre dizem que não tem anestesista. Agora, tiraram minha mãe da área de pacientes vasculares e colocaram no corredor, no meio de um monte de gente. Eu estou desesperada com a possibilidade de ela se infectar”, denunciou a atendente, que disse poder permanecer na unidade como acompanhante por conta da idade avançada da mãe.

Andreia também contou que chegou a questionar a equipe do hospital sobre a mudança do leito da mãe e a falta de anestesista no local, mas não foi dado um posicionamento para ela sobre o fato.

“Eles disseram que vão transferir minha mãe para um hospital onde não tivesse Covid. Mas eu pergunto: onde que não tem? “

A atendente teme pela vida da mãe: “Todos os hospitais e prontos-socorros estão cheios de pessoas infectadas. Aqui é médico, funcionário, gente que serve alimento, todos transitando entre os pacientes com Covid e os que não estão com a doença. Essa é a minha preocupação. Tem que separar”.

Há dois meses, Andreia conta que perdeu o pai para a Covid-19.

“Meu pai deu entrada no [Hospital] João Lúcio com uma infecção urinária, pegou a Covid. Foi levado para o Delphina e de lá não saiu mais com vida. Fico apavorada porque a situação é igual. Ele era hipertenso e diabético. Estou muito preocupada com a minha mãe”, concluiu.

Questionada sobre a situação no Hospital 28 de Agosto, a Secretaria da Saúde encaminhou a seguinte nota:

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) e seus servidores não têm medido esforços no trabalho de ampliação dos leitos para pacientes com Covid-19. Para isso, a SES-AM deu início ainda no mês de novembro um Plano de Contingência para o Recrudescimento da Covid-19 no Estado.


Desde o início do plano, houve um acréscimo de 127%, mais que dobrando a oferta de leitos exclusivos para Covid-19 na rede estadual de saúde, saindo de 457 para os atuais 1.038 leitos. Fato que evidencia que a rede trabalha para dar resposta a grande demanda, mas também reforça a necessidade da população colaborar e não promover ou participar de qualquer tipo de aglomerações, assim como fazer uso frequente de álcool em gel e a higienização das mãos com água e sabão, para frear a proliferação do vírus.


A SES-AM informa que o houve um maior pico de atendimento no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, que demandou o remanejamento de pacientes estáveis para outra área para a abertura de mais leitos de atendimento a pacientes com Covid-19. Os pacientes remanejados continuam recebendo assistência médica e estão sendo gradualmente transferidos para unidades de apoio. A direção da unidade também ressalta que o ponto eletrônico já foi retirado do local.


Afim de orientar a população quanto ao fluxo de atendimento, a secretaria reforça que a população deve procurar o atendimento inicial – já nos primeiros sinais e sintomas gripais – nas
 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), que são a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), onde poderá iniciar o tratamento para a doença. Os prontos-socorros da capital, devem ser buscados em caso de sintomas graves, como a baixa saturação de oxigênio (< 95%) e falta de ar“.

Fila de funcionários para bater o ponto no Hospital 28 de Agosto ao lado de macas para internados — Foto: Arquivo Pessoal

Fila de funcionários para bater o ponto no Hospital 28 de Agosto ao lado de macas para internados — Foto: Arquivo Pessoal

Alta de casos

O Amazonas já registrou mais de 5,3 mil mortes e 200 mil casos confirmados de Covid-19. No dia 31 de dezembro, Manaus bateu recorde de hospitalizações por Covid-19: foram registradas 124 internações em um único dia, maior número desde o início da pandemia, quando a cidade sofreu colapsos no sistema de saúde e funerário.

No dia 29 de dezembro, por causa do grande aumento de casos de Covid-19 em Manaus, dois hospitais montaram tendas externas para triagem de pacientes. No dia 2 de janeiro, o G1 visitou os dois hospitais e ouviu reclamações de pacientes.

O governo do Estado está reconfigurando a rede de saúde para enfrentar a pandemia, inclusive prevendo o uso de maternidades para tratar os pacientes. É o caso do Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu, que deve começar a receber doentes a partir da próxima semana. A medida gerou protestos do Sindicato dos Médicos do Amazonas.

As câmaras frigoríficas, usadas para armazenar os corpos de mortos durante o primeiro pico da doença, voltaram a ser instaladas nos hospitais.

A alta de casos de Covid-19 em Manaus também fez com que a prefeitura da cidade precisasse preparar novas áreas em cemitérios para enterrar os mortos vítimas da doença. Segundo a Prefeitura de Manaus, a média de enterros diários na cidade aumentou de setembro para cá, passando de 30 para 45 sepultamentos.

Fechamento do comércio

A Justiça do Amazonas determinou, no sábado (2), a suspensão total das atividades consideradas não-essenciais pelo prazo de 15 dias. Já as atividades consideradas essenciais poderão funcionar desde que adotem medidas que impeçam a aglomeração de pessoas. O G1 entrou em contato com o governo do Amazonas e aguarda um posicionamento oficial sobre as determinações.

A multa diária em caso de não cumprimento das medidas é de R$ 50 mil.

O governador Wilson Lima já tinha tentado fechar, sem sucesso, o comércio no Estado. Ele havia publicado um decreto que impedia atividades consideradas não-essenciais que entraria em vigor em 26 de dezembro. No entanto, uma multidão foi às ruas para protestar contra o fechamento das lojas.

Com a pressão exercida pelos comerciantes, o governador recuou e liberou o funcionamento das atividades não essenciais, com apenas algumas restrições de horário.

Do G1.