Fiquem em casa: não é histeria, não é socialismo, não acreditem neles e não voltem à ‘vida normal’

Vivenciamos tempos assustadores. Não há dúvida. No meio de uma pandemia esse tempo piora. O que antes era ruim, ficou péssimo – ou algum outra hipérbole negativa na qual não consigo expressar neste exato segundo. Alcançamos o ponto de nos tornarmos uma sociedade tenebrosa, onde tudo e todos necessitam ser do contra, por mais abominável e irracional que isso seja. No ápice do século XXI, a Terra é plana, o aquecimento global é invenção e grupos abominam a imunização por vacina. Tem até quem fale – ainda! – sobre comunismo ou socialismo no Brasil, mesmo com nossos poros econômicos respirando capitalismo e, parafraseando ‘As Meninas’, com o rico cada vez ficando mais rico, e o pobre cada vez ficando mais pobre. E, como bem canta Carla Cristina, o motivo todo mundo já conhece.

É bizarro, não há outra classificação, ver que há quem defenda a volta da vida à normalidade. Não estamos num tempo normal, não estamos bem, e o caso não é ideológico, não é paixão, não é preferência ou gosto, é saúde pública. Pública por ser sobre todos nós. De uma hora para outra, todos ficaram compadecidos com os empresários – aliás, empresário e rico é quem lucra com o capital, se você só empreende sua “casta” é mais baixa, sinto informar –  e com a economia. O banqueiro, o empresário milionário, o dono de uma rede de lojas, o sócio-presidente de uma companhia, eles não vão quebrar. E você precisa aceitar. O elo frágil da economia não está aí.

Aliás, a pandemia tem sido um bom momento para todo e qualquer cidadão, seja ele “de bem” ou não, ter convicção de quem é que faz a economia funcionar e o capital girar, não é? Sem mão-de-obra fica complicado mesmo. O trabalhador é – sempre foi e será – a principal engrenagem de um sistema que triplica o preço do álcool em gel ou o quilo da carne mesmo em meio a uma pandemia.

Mas vamos lá… nos atenhamos, finalmente, ao que suscitou esta coluna. Senti que urgia um preâmbulo.

Está emergindo das profundezas das mídias sociais vídeos de diversas pessoas tentando desmistificar o perigo e o risco gigantesco e fatal do novo coronavírus (Covid-19). Tem gente de todo tipo, expelindo verbalmente qualquer tipo de impropério, talvez baseados em algum tweet de Carlos Bolsonaro, vídeo esdrúxulo do Allan dos Santos (do Terça Livre), ou quem sabe em alguma publicação do astrólogo Olavo de Carvalho.

Queria apontar algumas abordagens dessa turma e comentá-las em sequência.

Se alguém “denunciar” que os hospitais estão vazios – Levando em conta que a Paraíba já tinha um plano de contingência preparado desde janeiro e foi um dos primeiros estados do Brasil a entregá-los ao Governo Federal, atrelado ao fato do governador João Azevêdo levar com seriedade e responsabilidade social toda essa crise, é, de fato, compreensível que esteja numa “normalidade”. Mas que sequer está perto da normalidade. Estamos no meio de uma pandemia. O pico do contágio na Paraíba está previsto para acontecer na próxima semana, entre 15 a 20 de abril. Surreal tudo isso ser tratado como “normalidade”. Não é bicho de sete cabeças uma doença que para diversos países, registra quase duas mil mortes em 24 horas nos Estados Unidos, fazem corpos ficarem expostos no meio da rua no Equador, ou simplesmente dizima parte da população como na Itália? É nítido que sim (!) é mais do que um bicho de sete cabeças, no mínimo, deve ter umas 14, ou 21.

Quando alguém cita socialismo e comunismo – Nesse ponto gostaria de saber se a pessoa teria de cabeça umas três referências bibliográficas sobre socialismo ou comunismo, ou se ela é só uma máquina reprodutora de comentários superficiais – tal qual um Caio Coppola (abraço Gabriela Prioli). O Estado é maravilhoso para ajudar os banqueiros em detrimento dos trabalhadores, quando autua uma farmácia que prometia a cura do coronavírus, ou talvez quando fiscaliza e multa um supermercado por estar vendendo um álcool em gel com o preço triplicado; quem sabe ainda quando é procurado por empresários para salvar seu negócio, ou até mesmo quando recebe apelos para perdoar dívidas junto à União. Estado mínimo é ótimo, porém, só quando me dá lucro e me deixa sonegar meus impostos em paz. O mercado não é um santinho que se autorregula, ele se “autoaumenta” para lucrar em detrimento da demanda do povo. E o Estado tem que fiscalizar e lucrar com impostos sim.

E se falam sobre hospitais vazios para defender fim do isolamento – Num estado que teve uma preparação prévia muito bem executada, juntamente com os municípios, ainda bem que estamos com os hospitais referências no tratamento do Covid-19 “vazios”. Mas já são mais de mil casos notificados, mais de 400 ainda em investigação, quatro mortes, e um crescimento de 41% no número de casos confirmados em menos de uma semana na Paraíba. Nossos estados fronteiriços registram 1.051 casos (Ceará), 352 (Pernambuco) e 254 (Rio Grande do Norte). É sério que dá para voltar à normalidade? Como afirmou um dos maiores médicos desta nação, Drauzio Varella, durante o UOL Debate: “esquece sua vida normal, vai demorar muito tempo para voltar”. Não leve isso para o lado ruim, quanto mais tempo nos separamos, mais rápidos voltaremos a nos juntar. É básico.

Ou até quando tentam cuidar da vida deles e eles atacam – Imagina alguém sinalizar reclamação porque estão cuidando da sua saúde… Isso só prova que o Estado cuida de você mesmo quando você não quer. Chegou ao ponto em que precisamos – incluo aqui poder público, especialistas e até jornalistas – proteger as pessoas delas mesmas. Não sei onde fracassamos enquanto sociedade ou na evolução da espécie, mas é estarrecedor este período. Período este que tenho certeza que será demarcado nos livros de história daqui a alguns anos com alguma etimologia que prefiro não sugerir.

Quando fala que o brasileiro não sabe votar – Neste tópico, apenas um breve comentário: concordo, e espero que a mudança venha em 2022. Quem pegar, pegou.

E até se falam que você precisa apoiar Bolsonaro – A cobrança seria igual a feita ao prefeito de Milão (pode ir dar Google, eu espero)? Será que isso traz vidas de voltas? Que apoio? A quem? Por quê? Um presidente que não liga se vão morrer idosos, afinal não são seus familiares mesmo, talvez até já tenham sido usados por ele e o deram sufrágios. Um chefe de Estado que trata a doença como “gripezinha”, incita manifestações com aglomerações durante uma pandemia, prefere atacar a imprensa ao invés de gerenciar uma crise, que queria oferecer R$ 200 de auxílio emergencial – da qual quase não pagava -, age como criança birrenta nas redes sociais, quer governar através de MPs, frita ministro por estar fazendo um trabalho melhor que o dele, estremece relações internacionais – olha só a deusa economia batendo na porta, ora ora – e ainda, supostamente, esconde o próprio exame que daria positivo para o contágio pelo coronavírus e mente para seu povo. Repito: apoio a quem? E, deixando claro: não apoiem o presidente enquanto ele faz ações que prejudiquem a saúde pública e as suas vidas. Mas também sejamos sinceros para elogiar quando tiver decisões acertadas.

No mais, gostaria de encerrar com um apelo à população:

FIQUEM EM CASA!

O portal Paraíba Já está com uma página especial sobre coronavírus. Indico também as fontes oficiais que estão com páginas específicas sobre o Covid-19: Ministério da Saúde e Governo do Estado (que também conta com uma página para desmentir fake news). Você encontra notícias, boletins, informações e cuidados de saúde e higiene para prevenir a doença.