Filme “Menino Azul” estreia na próxima semana no 15º Fest Aruanda

Curta de ficção dirigido por Odécio Antonio será exibido em sessão especial da mostra Homenageados/Aruandinha

Menino Azul, curta de ficção dirigido pelo ator, palhaço e cineasta Odécio Antonio é uma obra com uma característica muito particular: um filme com abordagem e linguagem lúdicas, com apelo para o público infantil, mas que aborda temas sérios e densos como alcoolismo, conflito familiar e morte. A produção faz sua estreia no 15º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, que acontecerá de 10 a 17 de dezembro e terá exibições de forma virtual e gratuita, sendo exibida na Mostra Sessão Homenageados/Aruandinha. O projeto é fruto do edital Walfredo Rodriguez 2016/2017, financiado pelo Fundo Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de João Pessoa.

O enredo do filme gira em torno do universo da infância e da relação do menino João com seus pais e seu tio, Anselmo, ao qual ele é muito apegado, mas que sofre de alcoolismo e padece de sérios problemas de saúde decorrentes da doença. A produção ‘viaja’ pelas brincadeiras e pelos afetos do protagonista, mostrando toda a ludicidade do cotidiano de uma criança, com seus anseios, sonhos e receios, ao mesmo tempo em que também aborda questões sérias como adoecimento e morte.

Para criar essa atmosfera dramática e estabelecer um equilíbrio entre a ludicidade e as temáticas mais pesadas, o diretor Odécio Antonio revela que o conto homônimo que deu origem ao filme, escrito por Aécio Amaral, que também é roteirista da produção, já tinha esse perfil, mas que no processo de adaptação o tom do drama foi sendo amenizado.

Para Odécio, ter uma criança como protagonista também contribuiu para trazer mais leveza ao filme. O curta é protagonizado por Théo Koffman, que fez sua estreia no cinema em Menino Azul. “Trabalhar com um menino de 11 anos como o ator principal nos ajudou a trazer essa leveza que surgiu primeiro no próprio set e depois se refletiu na tela. A intenção era mostrar a experiência da primeira grande perda na vida de um menino”, pontuou o diretor.

Elenco

Com elenco que reúne nomes de referência da dramaturgia na Paraíba, outro grande destaque no filme é o ator paraibano Luiz Carlos Vasconcellos, um dos artistas mais prestigiados do cinema brasileiro. Ele interpreta Anselmo, o tio do protagonista, uma figura divertida, carismática e carinhosa, mas que sofre com a condição de alcoólatra e com as outras doenças surgidas dessa patologia.

Luiz Carlos empresta seu enorme talento e carisma para a construção de uma personagem difícil, devido a ambivalência: um tio muito querido do protagonista, mas que é afligido pelo alcoolismo e essa relação ambígua permeia a trajetória dele. Sobre o processo de compor uma personagem que é, ao mesmo tempo, carismática e autodestrutiva, o ator e dramaturgo revela que foi algo desafiador e que buscou referências na sua própria vivência familiar.

“Fazer o tio [do protagonista João] foi um desafio emotivo pra mim. Quem não teve ou tem um vizinho, um parente ou um amigo que tenha enfrentado a questão do alcoolismo? Eu tive um tio muito, muito amado, tenho memórias lindas da infância, do meu tio João, que tinha o mesmo problema e que era de uma alegria, de um coração! Eu pequenininho, ele me levava pra passear, tomava as [bebidas] dele e enquanto isso pagavam uma coca-cola pra eu tomar. Tudo isso foi elemento para composição do tio do menino: essa criatura incrível, que amava o sobrinho, que era expansivo e alegre, mas que arrastava esse fardo, essa doença tão terrível. Então, pra mim foi um desafio apaixonante poder viver esse tio e essa relação com seu sobrinho”, relembra Luiz.

Sobre a escolhas dos integrantes do elenco, o diretor Odécio revela que não fez testes, mas buscou nomes dentro do circuito artístico que já conhecia e admirava o trabalho, sendo Luiz Carlos o primeiro a receber o convite para a participar do filme.

“A seleção foi feita sem teste, escolhi o elenco com algumas boas indicações do roteirista. Mas cada ator e cada atriz teve sua chegada ao projeto de forma específica. O primeiro a ser convidado foi Luís Carlos Vasconcellos. Um ator que protagonizou um dos filmes mais icônicos do Brasil e que marca a retomada do cinema brasileiro O Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, era com quem queria trabalhar. Bem, quando pensei em escolher alguém para o papel do tio do Menino Azul logo pensei nele, assim poderia ter uma primeira experiência no set com esse ator”, revelou o cineasta.

“No caso da mãe, Lívia, interpretada por Giuliana Maria, foi uma escolha desde o dia que resolvi submeter o projeto a um edital. Ela é uma amiga, uma atriz que conheço dos tempos que residia em Aracaju, contracenamos no filme curta-metragem de 2007 Ephifanie, de Gabriela Caldas. No caso do menino que interpreta o João, Théo Koffmann, é outra história…” complementou ele.

O filme conta também no elenco com outros nomes de referência do cinema paraibano e brasileiro, caso de Nanêgo Lira, que interpreta o pai do protagonista e é reconhecido por trabalhos como os longas Reza a Lenda, de Homero Olivetto, Gonzaga: de Pai pra Filho, de Breno Silveira, além do filme argentino Zama, da aclamada cineasta Lucrécia Martel e, mais recentemente, interpretando a personagem Oliveira na novela Amor de Mãe, da TV Globo. Buda Lira, irmão de Nanêgo, também está no curta. Ele tem no currículo produções de grande apelo como Aquarius e Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Kleber e Juliano Dornelles, respectivamente. Outras figuras do circuito artístico da Paraíba integram a produção, como Joálisson Cunha, Yluska Gaião, Luana Valentin e Kassandra Brandão.

Luiz Carlos Vasconcellos ressaltou que a convivência do elenco foi o aspecto mais marcante da experiência de fazer o filme. “O mais marcante pra mim foi o elenco. O Odécio da direção, a Guiliana [Maria, que interpreta a mãe do Menino Azul], o Théo Koffmann que faz o menino, Nanêgo, os atores que fizeram figuração, isso trouxe um ambiente muito confortável e desafiador, vou levar comigo vários momentos das cenas que fizemos e que foram fruto de uma relação de contracena linda. Isso eu vou levar comigo pra sempre!”, destacou o ator.

A escolha do protagonista

Se encontrar as atrizes e atores para a maior parte do elenco foi um processo tranquilo e relativamente simples, o mesmo não se pode dizer da escolha do protagonista do filme, o intérprete do menino João.

“Passei dois anos procurando o menino para protagonizar, pois desde o início do projeto até realizá-lo, o garoto que queria protagonizando cresceu e ficou muito grande para interpretá-lo. Conheci o Théo, quatro meses antes de gravar, em um show do Totonho na Usina Cultural Energisa, e tivemos uma identificação que só aumentou com os meses que se seguiram”, explica Odécio.

Dando detalhes sobre o que foi determinante para a escolha de Théo como protagonista do filme, o cineasta revela que não há grandes diferenças no processo em relação aos demais atores do elenco. “Os fatores que levam a escolha de um ator mirim não são muito diferentes de um ator adulto, desenvoltura na frente da câmera, fotogenia, disponibilidade para o jogo, perfil, capacidade de concentração, prontidão física e psicológica, disciplina, imaginação e flexibilidade”, detalha. Odécio, no entanto, atenta para um detalhe importante que é diferente no caso de escalar uma criança. “No caso de um ator mirim há um fator determinante na escolha: pais ou tutores. Eles são parte estruturante na relação que se constrói entre diretor e ator/atriz. Essa mediação é importante também para a vida da criança depois da experiência. Porque, quantos atores mirins que depois de protagonizarem filmes não conseguem lidar com as consequências, como a fama ou a frustração?” pontuou.

Segundo o diretor, o apoio dos pais do protagonista foi fundamental para que o trabalho fluísse e o filme tivesse um bom resultado. “No caso de Théo, a mãe e o pai dele tanto o apoiaram na sua incursão no cinema como estiveram disponíveis às necessidades de uma produção de um filme – horários para ensaio, encontros para discutir e conhecer equipe, etc”. Ele ainda ressaltou que durante o processo de preparação para as filmagens, traços e características do ator mirim foram incorporados ao enredo. “Houve uma característica que me chamou a atenção e que foi incluída na narrativa. Ele quer – ou queria, antes de atuar – ser piloto de avião, sua brincadeira preferida é montar aeroportos e cidades para sobrevoar sobre elas. Trouxe isso para o filme”, destacou Odécio.

Um filme universal

Abordar a infância, as relações familiares, a doença e conflitos decorrentes dela, a perda provocada pela morte de um ente querido, tudo sob um olhar lúdico e muito sensível, faz de Menino Azul um filme de temática universal, que dialoga tanto com o público infantil quanto com o adulto, aumentando seu caráter universalista e fazendo lembrar de obras com perfil e abordagem similares, como o livro O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, um dos grandes clássicos da literatura mundial.

Sobre essa particularidade, de ser um filme que congrega esses elementos, o diretor Odécio ressalta que embora considere o tom infanto-juvenil da narrativa, ela vai além desse nicho. “Depois de o filme iniciar sua carreira, acredito, cada vez mais, que é um filme infanto-juvenil, apesar de tratar de temas universais. O público alvo pretendido, entretanto, vai além do infantil. Quisemos, ao realizar o filme, para atingir um público mais amplo e diverso, que pudesse ir além dos nichos do cinema infantil e do circuito de festivais”, avalia ele.

Refletindo sobre a experiência vivida nas filmagens, Odécio evidencia a dimensão de afeto que envolveu todo o processo. “O que mais marcou foi o sentimento de afeto que envolveu toda a equipe. Foi um set muito afetuoso e respeitoso. Acho que trabalhar no cinema com crianças é um desafio que vou levar para sempre em minha trajetória. Antes de ser ator e diretor eu sou palhaço. Percebi que essa experiência me qualifica para lidar com este público”, analisou.

Sobre o filme

Menino Azul é um curta-metragem de ficção paraibano, dirigido pelo ator, palhaço e cineasta Odécio Antônio, com produção de Cristhine Lucena através da Rendeira Filmes. Foi realizado com recursos do edital Walfredo Rodrigues de Produção Audiovisual 2016/2017, da Prefeitura Municipal de João Pessoa. O diretor resume o enredo do filme: “O menino João está prestes a viver uma grande perda afetiva, mas não entende bem o que está acontecendo. Através de um sonho lhe é revelado esse dilema, de forma metafórica. Cabe ao espectador decifrar junto com ele as mensagens do seu inconsciente”, narra ele.

Sobre o diretor

Odécio Antonío é formado em Ciências Sociais e mestre em Comunicação Social pela UFPB. É palhaço, ator, preparador de elenco, diretor, roteirista e professor. Dirigiu os curtas-metragens, “Contínuo” (2014), “Cena” (2016), “Não Tema” (2018), “Bolha” (2019) e “Menino Azul” (2020). É coordenador do projeto Circulandô do Cearte (Centro Estadual de Arte da Paraíba), projeto de democratização do ensino de arte e cinema na Paraíba. Reside em João Pessoa, integra o grupo de teatro OSFODIDÁRIO e é sócio da produtora Rendeira Filmes Produções LTDA

O menino Azul (Fic. PB, 2020. 25 min)

Sinopse

Uma viagem onírica na vida do menino João.

Ficha técnica

Direção: Odécio Antonio

Roteiro: Aécio Amaral

Elenco principal: Ian Guedes, Giuliana Maria, Luiz Carlos Vasconcelos, Nanego Lira e Theo Koffmann.

Elenco de apoio: Buda Lira, Cauê Villar, Edna Diniz, Geyson Luiz, Joálisson Cunha, Kassandra Brandão, Luana Valentim, Martinho Patrício, Márcio de Paula, Pablo Rivero, Rodrigo Alves, Sônia Pontes e Yluska Gaião.

Produção Executiva: Cristhine Lucena

Direção de produção: Virgínia Duan

Assistente de produção: Alison Bernardes

Assistente de produção/Platô: Pablito

Direção de fotografia: Breno César

1o Assistente de fotografia: Carlinhos Albuquerque

1o Assistente de direção: Gian Orsini

2o Assistente de direção: João Paulo Palitot

Som direto: Giancarlo Galdino

Microfonista: Janaína Lacerda

Direção de arte: Ingrid Marla

Assistente de arte: Laysa Santos

Figurino: Marina Pessoa

Maquiagem: Naiara Cavalcante

Edição/Montagem: Roda Filmes e João Paulo Palitot

Chefe de Elétrica: França Produções e Eventos

Assistente de elétrica: Zé carlos (Costinha)

Trilha sonora original: André Abujamra, Eron Guarnieri e Pedro Abujamra

Mixagem: Jeffeson Mandú

Desenho de som: Ester Rosendo

Makking Off: Erê Morais Teixeira

Motorista: Flávio Augusto e Adriano

Design gráfico: Sílvio Sá

Still: João Lira

Tradução: Ângela Lopés (espanhol), Gian Orsini (italiano), João Paulo Palitot (inglês),Matteo Ciacchi (italiano), Rossana Koffmann (francês)

Legendagem: Erê Teixeira e Odécio Antonio

Contabilidade: Contabilite Assessoria e Consultoria

Consultora de Arte: Fabiana Penna