Filho do presidente argentino eleito neste fim de semana é drag queen e cosplayer

A partir do ano que vem, a Casa Rosada, sede do governo argentino, vai se tornar a moradia de uma drag queen e cosplayer —pessoa que se fantasia como personagens de desenhos japoneses. Estanislao Fernández, filho de Alberto Fernández, estava discreto vestido todo de preto no palanque do político, eleito presidente da Argentina neste domingo (27). Porém, o jovem de 24 anos é conhecido é conhecido na cena artística portenha por causa de sua persona Dyhzy. Designer gráfico, ele faz parte de um movimento muito popular na comunidade LGBT em que homens se maquiam e se vestem para interpretar uma mulher com traços exagerados.

“Gostaria de falar que hoje foi um dia muito emocionante para mim”, Estanislao falou em seu Instagram, após mostrar um pouco da festa após o anúncio de que Alberto havia vencido nas urnas. “Quero agradecer todo o amor que tenho recebido e dizer, principalmente, que não me arrependo de nada que fiz até agora.”

O agora “primeiro-filho argentino” esteve, neste ano de corrida eleitoral de seu pai, sob os holofotes da mídia argentina e foi alvo de declarações homofóbicas de críticos às propostas de Alberto. Porém, antes de chamar a atenção por subir no salto de Dyhzy, Estanislao contou em entrevista para a rádio “Formosa” que começou a se montar inicialmente como cosplayer. “Estava me relacionando com uma garota que fazia cosplay e comecei a me interessar. Foi assim que comecei a me fantasiar e, ao mesmo tempo, conheci o mundo das drag queens”, falou. A primeira vez que usou a peruca de sua personagem foi em uma sessão de fotos em que uma amiga precisava de modelos homens e mulheres. “Eu disse: faço os dois”, contou em papo para a rádio “La Once Diez”.

O jovem cursou ilustração na Universidade de Palermo, onde foi premiado por trabalhos relacionados a redes sociais e quadrinhos. A instituição também o celebrou por causa do trabalho fotográfico “O poder da Maquiagem”.

Hoje, Estanislao tem mais de 110 mil seguidores no Instagram e, por fazer uma drag queen muito inspirada pela cultura pop, é conhecido na cena cosplayer de Buenos Aires e já participou da Comic Con Argentina, maior evento do tema do país. Autor e produtor de seus próprios figurinos, ele já apareceu como uma versão sensual do Pikachu, de “Pokémon”, de Wario, antagonista do jogo “Mario Bros”, e de Arlequina, do filme “Esquadrão Suicida”. No entanto, nem sempre ele foi tão aberto sobre o seu hobby. “No começo, me escondia um pouco, tinha medo da rejeição dos meus pais”, contou Estanislao à rádio “La Once Diez”. “Por causa do que nos ensinam desde que somos pequenos, como a homossexualidade, era um processo de degradação. Era isso que me diziam na catequese, geram esse medo em você.”

Por trás da make

Além de se montar, Estanislao é estudante da Universidade de Buenos Aires, onde seu pai é professor da Faculdade de Direito, e também trabalha esporadicamente como entregador da plataforma Rappi para completar sua renda. Durante a campanha do pai e no palanque da festa da vitória, o jovem está sempre acompanhado de sua namorada, Natalia Leone, com quem está há três anos. Ele, porém, se identifica como um homem homossexual desde a adolescência. “Me lembro bem que nunca senti empatia com os que insultavam gays ou transgêneros”, narrou em entrevista à rádio local. “Costumava ouvir ofensas mesmo quando eu não sabia que era gay.”

Estanislao contou que já teve relacionamentos com homens, mas que as relações duraram apenas algumas semanas. O namoro com Natalia é o mais longo que já teve. “Ela é realmente o amor da minha vida. Em casa, ela é amada quase como uma filha.” Sobre a possibilidade de manter um relacionamento heterossexual mesmo se considerando homossexual, o jovem foi categórico: “A sexualidade é um espectro e eu escolhi estar com minha namorada.”

Orgulho do pai

Em entrevista à rádio “Radio com Vos”, Alberto Fernández, que ganhou a eleição preliminar à presidência da Argentina, disse não tem medo da rejeição por causa de seu filho e que o rapaz é “um grande homem”. “Nesse mundo [de drag queen], que não conheço muito, ele é muito respeitado e reconhecido. Tenho orgulho do meu filho. Como não vou tê-lo? Ele é militante dos direitos dessa comunidade. Ficaria preocupado se meu filho fosse um delinquente”, declarou. Com informações do UOL.