Filho de paraibana desaparecida na Ucrânia relata luta por informações

Em entrevista, Gabriel Pilipenko afirmou que mantém o otimismo e acredita que os pais ou a avó não foram atingidos por nenhum ataque na cidade

Gabriel e a mãe, Silvana. (Foto: reprodução/ arquivo pessoal)

O marinheiro mercante Gabriel Pilipenko, de 26 anos, filho da paraibana Silvana Vicente e do ucraniano Vasyl Pilipenko, segue em busca de informações sobre os pais, que estão em Mariupol, cidade mais atacada na Ucrânia.

Em entrevista à BBC News Brasil, o filho da paraibana revelou que deixou a embarcação na qual trabalhava em Taiwan, pois não conseguia se concentrar no trabalho pensando nos pais.

“Não conseguiria continuar trabalhando tranquilamente sem notícias dos meus pais. Estava pensando nisso toda hora. Seria perigoso continuar embarcado, porque é um trabalho que requer muita responsabilidade e seria difícil continuar enquanto estava com a mente ocupada por problemas pessoais”, declarou à BBC News Brasil.

Conforme a reportagem, Gabriel não tem notícias dos familiares há 20 dias. Na Paraíba, a família de Silvana também tenta ter informações sobre ela, o marido e a sogra, que é idosa e tem problemas para se locomover.

No último contato com a família, Silvana explicou que não poderia se comunicar, pois vários pontos da cidade já estavam sem energia devido aos ataques russos.

Para Gabriel, cada dia sem notícias dos pais aumenta ainda mais a angústia que tem vivido. “Já passou muito tempo. A cidade está com problemas com abastecimento de água, sem água para beber, e sem comida. Isso me deixa muito preocupado, porque mesmo que eles estejam bem, podem estar passando por dificuldades”, comentou.

No momento, Gabriel está na Alemanha. Ele afirmou que deve permanecer no local, esperando notícias da família, pois as estradas até Mariupol estão perigosas e ele tem medo de ficar preso e não conseguir ajudar os pais.

O marinheiro mantém o otimismo e acredita que os pais ou a avó não foram atingidos por nenhum ataque na cidade.

“Estou tentando ser o mais informado possível para saber como posso ajudar os meus pais”, diz. “Tenho tentado arranjar um jeito de tirar a minha família de lá e sei que vou conseguir”, acrescentou.

No início de março, quando fez o último contato com a família, Silvana gravou um vídeo para um veículo de imprensa paraibano no qual contou que Mariupol estava cercada e todas as saídas estavam fechadas.

“Não saímos logo no início (do conflito) porque temos a mãe do meu esposo, a minha sogra, muito fragilizada, e é quase impossível tentar se aventurar a sair da cidade com ela”, disse.

A paraibana ainda comentou que a Embaixada brasileira em Kiev, capital da Ucrânia, ofereceu transporte e trem para deixar o país, mas não se responsabilizou por possíveis riscos no trajeto em meio ao conflito. “Então seria por conta e risco nosso. Diante desses obstáculos, decidimos ficar aqui em Mariupol”, relatou no vídeo.

O filho da paraibana reclama da falta de assistência do Itamaraty e cobra que a entidade ajude a resgatar os pais dele. “O Itamaraty apenas disse que estava em contato com a Cruz Vermelha, mas falou que não está resolvendo casos individuais, apenas tentando mandar comida para a cidade. Na minha opinião, não estão se esforçando o suficiente”, afirmou.

Em nota à BBC News Brasil, o Itamaraty diz que está ciente do caso da brasileira e afirma que já acionou organizações internacionais de apoio humanitário que estão na cidade para “tentar localizar a cidadã”.

Ainda em nota, o Itamaraty diz que tem mantido contato regular com familiares de Silvana por meio de um escritório de apoio em Lviv, na Ucrânia.

Sem respostas, Gabriel evita pensar em planos para o futuro. Ele só deverá retornar ao trabalho quando souber dos pais.

“Para onde a minha família vai, após ser encontrada, não tem a menor importância agora. Só preciso que eles estejam bem. Agora, basicamente, quero que eles sejam retirados de Mariupol e levados para algum outro país da Europa que esteja dando suporte moral e financeiro a refugiados da Ucrânia”, pontuou.

Com informações da BBC News Brasil