Famintos: áudio revela suposta ‘propina da merenda’ paga a professor por orcrim

Entre as conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal durante a Operação Famintos, que investiga fraudes em licitações e desvio na merenda escolar na gestão do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), uma revela uma situação estarrecedora. Um professor, de uma escola pública, trava um diálogo com um dos empresários investigados e diz que recebia R$ 700 por mês do fornecedor dos produtos da escola via a ‘Orcrim da Merenda’ instalada na atual gestão municipal. A gravação foi feita, com autorização da Justiça, em maio deste ano.

 

Durante o diálogo, ele ainda pede o aumento do valor da suposta propina para R$ 1 mil, alegando que o restante seria repassado para um colega de trabalho. O colega, de acordo com a gravação, teria auxiliado o professor no processo de reeleição para o conselho escolar. Em um dos modelos do PNAE, a compra da merenda é feita diretamente pelas escolas.

 

O nome do professor está sendo mantido em sigilo, já que ele não está sendo formalmente investigado no âmbito da Operação Famintos.  A voz dele também foi distorcida, para evitar qualquer tipo de identificação. O empresário, alvo do suposto pedido de propina, é identificado nos relatórios da Polícia Federal como sendo Severino Roberto Maia de Miranda, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por envolvimento no suposto esquema de fraudes.

Escute:

 

Recentemente um trecho da interceptação telefônica entre a ex-secretária de educação de Campina e ex-cunhada do prefeito, Iolanda Barbosa com o principal empresário investigado na operação Frederico de Brito, revela a proximidade e intimidade entre ambos. Veja as imagens dos trechos no final do texto:

 

Veja a transcrição da conversa do professor com empresário investigado:

Professor: Eu queria fazer um pedido ao amigo.

Empresário: Diga lá.

Professor: Olhe, eu ganhei de novo a eleição a duras penas. Eu vou ficar mais dois anos.

Empresário: Ô coisa boa.

Professor: A partir de setembro termina esse meu mandato… Aí, o que é que acontece… Tu sabe que sou muito verdadeiro contigo.

Empresário: Humhum.

Professor: Eu tive um apoio de um professor que é meu vice-presidente do conselho. Muito forte lá.

Empresário: Ahnhã.

Professor: Pra me poder me permanecer lá, tudo isso.

Empresário: Hum.

Professor: Aí, não tem aquele negocinho da carne que você me dá todo mês?

Empresário: Hum.

Professor: Aquela diferençazinha que dá quase setecentos reais?

Empresário: É.

Professor: Aí, eu queria saber de você se era possível fechar umas comprinha de mil todo mês?

Empresário: A gente vai e aumenta lá… alguma coisinha que seja lá.

Professor: Porque eu pegava, eu dava um negocinho a ele, sabe?

Empresário: Pronto. Eu boto e dou uma aumentada nas compras lá, fecha no negócio lá.

Professor: É, porque assim, é… setecentos, mais ou menos já dá de carne, né? A diferençazinha que tu me dá.

Empresário: É, a gente aumenta na nota, porque eu não posso dar mais do que esse valor não. Eu já tô dando muito, que ninguém dá isso não.

Professor: É, aí, eu…

Empresário: Só quem dá isso, só quem dá isso sou eu. Ninguém dá não, viu.

Professor: É, eu sei. Aí eu vou pegar, eu vou. Tem que dar uma ajuda a ele, sabe? Todo mês dar um negocinho a ele.

Empresário: Pronto. Tá bom. Ok.

Professor: Aí, quando tu me repassar o negócio … no mês, eu repasso pra ele também.

Empresário: Ok. Pois tá bom.

Com informações do Jornal da Paraíba