Família de Moïse recebe concessão de quiosque na Barra onde congolês foi morto

Familiares de Moïse Kabagambe, morto após ser agredido em um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, receberam a concessão do quiosque Tropicália nesta segunda-feira (7). Segundo a Prefeitura do Rio, o quiosque Biruta, que fica ao lado, também será cedido à família tão logo uma questão judicial seja resolvida.

O prefeito Eduardo Paes e o secretário de Fazenda e Planejamento, Pedro Paulo, formalizaram a entrega da concessão em um evento na Prefeitura, no Centro do Rio.

“Desde o início entendíamos que a gente deveria lembrar permanentemente as pessoas do absurdo crime cometido contra uma pessoa, no caso o Moïse. Entendemos que isso poderia se juntar à presença da própria família do Moïse ali. É uma oferta feita pela prefeitura, mas também da Orla Rio”, disse Paes no início do evento.

A Orla Rio é a concessionária detentora dos direitos da concessão pública dos dois quiosques.

O governo do Rio ofereceu ajuda à família de Moïse para fazer a gestão do negócio.

Documento de concessão do quiosque à família de Moïse — Foto: Henrique Coelho/g1

Documento de concessão do quiosque à família de Moïse — Foto: Henrique Coelho/g1

‘Até 2030’

O prefeito do Rio explicou ainda que a concessão dos dois quiosques ficará com a família de Moïse até fevereiro de 2030.

“A decisão é de fazer a concessão, a entrega desses quiosques, para a família do Moïse. A Orla Rio está entregando uma carta compromisso, em que se compromete a ceder os dois quiosques, onde estão os quiosques Tropicália e Biruta, até fevereiro de 2030”.

Paes acrescentou que o Tropicália já foi entregue imediatamente.

Prefeitura vai transformar quiosques na Barra da Tijuca em memorial em homenagem ao congolês Moïse Kabagambe e à cultura africana — Foto: Divulgação/Prefeitura do Rio

Prefeitura vai transformar quiosques na Barra da Tijuca em memorial em homenagem ao congolês Moïse Kabagambe e à cultura africana — Foto: Divulgação/Prefeitura do Rio

A família do congolês aceitou a oferta, que ainda contará com projeto de reforma e outras ações da Orla Rio, assim como outros treinamentos necessários para gerir o negócio.

A ação conta ainda com parcerias da Fundação João Diamante, do SindRio (Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio), da Danni Camillo e do Instituto Akhanda.

“Gostaríamos de agradecer ao povo brasileiro pela solidariedade. A gente sabe que essa ação que aconteceu com o meu irmão não é o coração de todo o povo brasileiro. Recebemos muitas mensagens de apoio de muitas instituições. Gostaríamos só de agradecer a todos”, disse o irmão de Moïse, Samy Kabagambe, que falou em nome da família.

Rodrigo Mondego, procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, disse que a família de Moïse aceitou a concessão do quiosque com a oferta de que o espaço virasse um espaço de memória. A informação já havia sido divulgada no sábado (5).

“A família, quando viu a homenagem para ser um espaço de memória, para a não repetição, para que não se repita, a família aceitou, antes mesmo de ver como um empreendimento comercial”, disse o advogado.

Mondego disse que, no termo de compromisso da Orla Rio, está previsto que os funcionários do espaço em memória de Moïse também sejam imigrantes.

“O que está no termo de compromisso da Orla Rio é que aquele espaço ali vai ser um espaço para tratar pessoas como Moïse, pessoas sem oportunidade, que diferente do que o Moïse teve, vão garantir ali, ao assumir aquele espaço, os direitos trabalhistas de quem ocupar aquele lugar”.

E completou:

“O objetivo é transformar aquele espaço de tortura, de dor, sofrimento, em um espaço de memória de alguém que veio fugido de seu país de origem para o Brasil para garantir a segurança e que foi morto aqui”.

Linha de crédito para gerir quiosque

Também nesta segunda, 11 familiares de Moïse foram recebidos por secretários de governo, no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul. Por questões médicas, o governador Cláudio Castro participou do encontro por telefone.

Durante a reunião, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Vinícius Farah, ofereceu à família linha de crédito por meio da AgeRio, para que eles possam dar continuidade aos projetos da família, além de gerir o quiosque Tropicália.

Já o secretário de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Matheus Quintal, ofereceu um programa de proteção à família de Moïse.

“Oferecemos para que os familiares façam parte do programa Provita, que visa proteger vítimas ou testemunhas que possam sofrer ameaças”, disse.

Defensoria representará a família de Moïse

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro vai prestar assistência jurídica à família de Moïse.

A mãe do jovem, Ivana Lay, acompanhada por um grupo de congoleses, foi recebida nesta segunda pelo defensor-geral, Rodrigo Pacheco, na sede da Defensoria.

Além de cuidar das questões relacionadas à reparação cível aos familiares da vítima, a instituição também prestará apoio para que a permanência do grupo no Brasil seja regularizada.

Já Rodrigo Mondego seguirá representando a família nas questões referentes à ação criminal contra os agressores.

Memorial e centro cultural

Projeto do quiosque com memorial a Moïse — Foto: Divulgação

Projeto do quiosque com memorial a Moïse — Foto: Divulgação

Os quiosques Biruta e Tropicália serão transformados em um memorial e ponto de transmissão da cultura de países do continente africano.

O secretário municipal de Fazenda Pedro Paulo Carvalho disse que a transformação do quiosque é uma forma de reparação à família. E vai ser um espaço público de lembrança para que a barbárie não seja esquecida e não se repita.

Ele acrescentou ainda que as oportunidades de emprego ligadas aos dois quiosques deverão, também, ser oferecidas a refugiados africanos residentes no Rio.

Projeto mostra o rosto de Moïse no quiosque  — Foto: Divulgação

Projeto mostra o rosto de Moïse no quiosque — Foto: Divulgação

Manifestação

No sábado (5), o local e outras cidades foram palco de atos cobrando justiça por Moïse e promovendo a luta contra o racismo e a xenofobia.

Do g1.