EUA removem uma das maiores estátuas confederadas em meio a debates sobre racismo

Em meio às discussões sobre monumentos que homenageiam figuras controversas da história, uma estátua do general Robert E. Lee, que defendeu os confederados na Guerra Civil dos EUA (1861-1865), foi removida nesta quarta-feira (8) de Richmond, na Virgínia, após uma batalha legal que durou um ano.

Trata-se de uma das maiores estátuas ainda de pé em homenagem aos confederados, com 6,4 metros de altura e sobre um pedestal de granito de 12,2 metros. A figura de bronze foi instalada na cidade, a antiga capital da Confederação durante a Guerra Civil, em 1890, e retrata Lee em cima de seu cavalo.

Os confederados, grupo derrotado no conflito americano, defendiam a manutenção da escravidão no país, e, por isso, monumentos e bandeiras ligadas ao grupo são alvos de protesto contra o racismo hoje. Nos últimos seis anos, foram removidos mais de 300 símbolos confederados e de supremacistas brancos, enquanto cerca de 2.000 ainda estão de pé, segundo o centro de pesquisa Southern Poverty Law.

Uma estátua de Lee foi removida de Charlottesville, também na Virgínia, em julho deste ano. No Brasil, um importante representante dessa discussão é o monumento ao Borba Gato, na zona sul de São Paulo, incendiado também em julho último. A estátua, polêmica desde a inauguração, é contestada por seu valor estético e histórico, já que homenageia um bandeirante apontado como escravagista e assassino de indígenas e negros —embora nem todos concordem com essa visão.

Em Richmond, na noite desta terça (7), as ruas ao redor da estátua de Lee foram fechadas enquanto o governo preparava uma área para o público assistir à remoção do monumento. A obra será guardada em um local seguro, de acordo com autoridades locais, até que haja uma decisão sobre seu futuro. A base de granito, porém, permanecerá no local, mas a placa que identificava o homenageado será retirada.

Na quinta-feira passada (2), a Suprema Corte da Virgínia decidiu por unanimidade em dois casos que o governador poderia remover a estátua. A retirada, porém, foi contestada por parte dos moradores e por um descendente da família que transferiu a posse da estátua para o estado.

Há mais de um ano, em junho de 2020, o governador Ralph Northam (democrata) anunciou planos para remover a obra, dez dias depois de um policial branco de Minneapolis matar o ex-segurança negro George Floyd, o que gerou uma onda de protestos em todo o país.

Assim, monumentos como um do navegador Cristóvão Colombo também foram atacados; um foi incendiado e jogado em um lago em Richmond. Outro, em Boston, teve a figura decapitada. Um terceiro, em Baltimore, foi derrubado no mesmo dia em que o então presidente Donald Trump acusou manifestantes de tentarem apagar a história do país. Também nos EUA, a prefeitura de Chicago removeu temporariamente mais duas estátuas do navegador italiano, depois que um grupo de ativistas tentou derrubá-las.

Atos semelhantes se seguiram na Europa. Em Bristol, no Reino Unido, o alvo foi uma obra em homenagem a Edward Colston, traficante de escravos e membro do Parlamento britânico que viveu no século 17.

A escultura de uma ativista negra feita por um artista britânico chegou a ser colocada no pedestal onde ficava Colston, mas foi removida pelas autoridades municipais por ter sido instalada sem permissão.

Em Londres, a estátua de Robert Milligan, que chegou a ter 526 negros escravizados em suas fazendas de plantação de açúcar na Jamaica, foi removida pelo Museu das Docas. Na Bélgica, ganhou força uma campanha já antiga para tirar de cena monumentos do rei Leopoldo 2º, e um busto do monarca que colonizou o Congo Belga (atual República Democrática do Congo) foi para o depósito na Universidade de Mons.

Do Folha de São Paulo.