Estudo da Fiocruz sugere que variante Delta pode causar mais reinfecções

No Brasil, 11 casos da cepa, classificada como “preocupante” pela Organização Mundial da Saúde, foram detectados

Um dia depois de o Brasil confirmar duas mortes pela variante Delta do novo coronavírus, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou, nesta segunda-feira (28/6), que um estudo recém-publicado na revista científica Cell — que contou com a participação de pesquisadores da instituição brasileira — indicou que a variante detectada inicialmente na Índia pode aumentar o risco de reinfecções. No Brasil, 11 casos da cepa, classificada como “preocupante” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram detectados.

“A pesquisa aponta que o soro de pessoas previamente infectadas por outras cepas é menos potente contra esta variante viral”, explicou a Fiocruz em nota. Segundo o estudo, o problema foi observado entre indivíduos que contraíram a variante Gama, identificada em Manaus e hoje dominante no Brasil, e também por pessoas infectadas pela alteração Beta, detectada pela primeira vez na África do Sul. “Nesses casos, a capacidade de neutralizar a cepa Delta é 11 vezes menor”, indica a Fiocruz.

Os pesquisadores avaliaram a ação de 113 soros sobre seis variantes do novo coronavírus: uma linhagem próxima do vírus inicialmente detectado em Wuhan, na China; as mutações de preocupação Alfa, Beta, Gama e Delta; e a Kapa, que é relacionada à Delta. Os soros foram colhidos de pacientes que se infectaram pelo novo coronavírus ou foram imunizados.

Perda de potência

Apesar de indicar que as vacinas continuam sendo efetivas contra a Delta, o estudo sugere que os imunizantes podem perder alguma potência contra a variante originada na Índia. “A capacidade de neutralizar a cepa é 2,5 vezes menor para o imunizante da Pfizer e 4,3 vezes menor para o da AstraZeneca”, informou a Fiocruz. Os índices, segundo os autores do estudo, são semelhantes aos verificados com as mutações Gama e Alfa — que surgiram no Brasil e no Reino Unido, respectivamente.

“Parece provável, a partir desses resultados, que as vacinas atuais de RNA e vetor viral fornecerão proteção contra a linhagem B.1.617 (que possui três sub-linhagens, incluindo a Delta), embora um aumento nas infecções possa ocorrer como resultado da capacidade de neutralização reduzida dos soros”, indicam os pesquisadores no artigo na Cell.

A variante Delta surgiu na Índia em outubro de 2020 e se tornou uma preocupação. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, os casos da nova mutação foram confirmados no navio MV Shandong da Zhi, de tripulação indiana, fundeado na Baía de São Marcos (MA); em Campos dos Goytacazes (RJ), em Juiz de Fora (MG), em Apucarana (PR) e em Goiânia.

A pesquisa que concluiu sobre a reinfecção pela Delta foi liderada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, mas contou com a colaboração científica de 59 pesquisadores de outros países, como Estados Unidos e Brasil. Aqui, participaram o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).