‘Estou confessando, ela nunca esteve em Brasília’, diz Bolsonaro sobre Wal do Açaí

O presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta quinta-feira (24) que a ex-secretária parlamentar Walderice Santos da Conceição, contratada para o gabinete dele quando era deputado, nunca esteve em Brasília e tomou posse no cargo “por procuração”.

Bolsonaro criticou a decisão do Ministério Público Federal de propor à Justiça uma ação de improbidade administrativa contra ele e a ex-secretária, apontada como possível “funcionária fantasma” de seu gabinete na Câmara por mais de 15 anos.

“Não precisa interrogar a Wal não, e nem a mim. Eu estou confessando: ela nunca esteve em Brasília. É verdade. Ela tomou posse por procuração”, declarou Bolsonaro em transmissão ao vivo nas redes sociais.

Segundo Bolsonaro, a prática de manter assessores parlamentares no estado de origem do deputado, sem comparecer a Brasília e sem participar do mandato, é comum entre os parlamentares. O presidente afirmou:

“Ela nunca esteve mesmo [em Brasília], pelo que tenho conhecimento, ela nunca esteve em Brasília, a Wal. Ela mora num distrito de Angra dos Reis. Tem deputados aqui, não vou perguntar. Eu duvido qual deputado fora do DF que não tenha [funcionários fora de Brasília]”, disse Bolsonaro.

“Esse pessoal que está no estado não vem a Brasília, toma posse por procuração. Eu fiz isso a vida toda. E a Wal ganhava o equivalente a R$ 1,5 mil por mês, já somado o auxilio alimentação”, prosseguiu.

Walderice Santos da Conceição já afirmou em depoimento a procuradores que “nunca” esteve em Brasília.

O nome de Wal do Açaí ganhou notoriedade em 2018, quando ela figurava como secretária parlamentar de Bolsonaro. Desde então, Bolsonaro sempre negou irregularidade envolvendo a secretária.

Durante o depoimento, prestado em 2018, o procurador questiona: “A senhora tomou posse aqui em Brasília? Como é que foi a posse da senhora?”.

Wal do Açaí, então, responde: “Não, não foi não. Não foi, não foi em Brasília. Eu nunca fui, nunca fui a Brasília.”

A ação do MP pede que Wal do Açaí e o presidente sejam condenados pela prática de improbidade administrativa e o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados.

A ação foi enviada à 6ª Vara Federal do Distrito Federal.

Movimentação atípica em contas

Segundo o MP, a análise das contas bancárias de Walderice revelou uma movimentação atípica: 83,77% da remuneração recebida nesse período foi sacada em espécie, sendo que, em alguns anos, esses percentuais de saques superaram 95% dos rendimentos recebidos.

O MPF aponta que o presidente Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento de que Walderice não prestava os serviços correspondentes ao cargo e, mesmo assim, atestou falsamente a frequência dela ao trabalho em seu gabinete para comprovar a jornada laboral exigida pela Câmara dos Deputados, de 40 horas semanais, e, assim, possibilitar o pagamento dos salários.

Para o Ministério Público, “as condutas dos requeridos e, em especial, a do ex-deputado federal e atual presidente da República Jair Bolsonaro, desvirtuaram-se demasiadamente do que se espera de um agente público”.

“No exercício de mandato parlamentar, não só traiu a confiança de seus eleitores, como violou o decoro parlamentar, ao desviar verbas públicas destinadas a remunerar o pessoal de apoio ao seu gabinete e à atividade parlamentar”, diz a ação.

Do g1