Especialistas analisam as chances do Facebook perder o reinado em 2016

Em 2008, o Facebook se tornou a rede social mais popular do mundo, superando o MySpace. No Brasil, isso ocorreu três anos depois, ao desbancar o então líder Orkut. Uma vez que sentou nesse trono, não saiu mais nesses últimos quatro anos. E no apagar das luzes de 2015, não parece dar sinais de que sairá tão cedo, na opinião de especialistas.

Devido à sua rapidez para trazer novos recursos, além da administração eficiente da equipe de Mark Zuckerberg, o Facebook continua se mantendo no topo e ainda comprou dois de seus possíveis concorrentes, o Instagram e o Whatsapp. As redes sociais veteranas – Twitter, Google Plus, Pinterest – não estão acompanhando o crescimento da grande rival no mesmo ritmo, e as novatas – Ello, Tsu – não disseram ainda a que vieram.

Sendo assim, o que o futuro reserva? Devemos esperar ainda por um “novo Facebook”, ou este será justamente o próprio Facebook?

“Cito cinco motivos para o seu sucesso: a inovação constante, boa administração, aquisições acertadas, fidelidade aos usuários e o acréscimo de novos serviços”, definiu Alex Primo, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“O Facebook é uma empresa como nenhuma outra em termos de plataforma e infraestrutura. São milhares de pessoas trabalhando para que os usuários tenham a melhor experiência. Esta gera dados que serão utilizados para melhorar a entrega de mídia para anunciantes. É um trabalho muito bem feito para manter as pessoas ativas e os anunciantes satisfeitos”, argumenta Ian Black, diretor executivo da New Vegas, agência digital especializada em mídia social.

E ao contrário do que esperava, as aquisições do Instagram e do Whatsapp não levaram à deterioração de nenhum dos dois.

“O fato de manter elas funcionando de forma independente talvez seja um indício de que o objetivo é mais compartilhar expertise do que propriamente acabar com a ferramenta original. O Facebook estaria mais interessado em desenvolvedores para dispositivos móveis, setor em que eles não eram fortes ainda”, ressalta a pesquisadora Gabriela Zago, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS.

Rivais à deriva

Hoje em dia, as opções de quem quer sair da supremacia do Facebook são o Twitter, focado na grande interação de eventos em tempo real e na coesão de seus 140 caracteres; e o Google Plus, que apesar de pouco usada até hoje mantém uma boa base de usuários, muito por conta da polêmica imposição do Google de se criar uma conta na rede social para usar seus outros serviços.

No ano passado, o Facebook lançou live video streaming, um serviço de notícias (Instant Articles), passou a aceitar GIFs na timeline e expandiu o recurso de alertas de segurança. Mas o Twitter também teve um 2015 agitado, com a criação do serviço de live streaming Periscope, o fim do limite de 140 caracteres para mensagens diretas, a transformação do “favoritar” em “curtir”, um serviço de curadoria de notícias chamado “Moments”… tudo levando aos caminhos do seu rival ao passou que desagradou usuários veteranos.

O Twitter rebate a polêmica com dados: segundo o vice-presidente de produtos da empresa, Kevin Well, houve um crescimento de 6% de engajamento na plataforma na primeira semana após a mudança para o “curtir” com ícone de coração.

Há ainda as redes bem sucedidas nos celulares: Snapchat, Tinder, Vine, Whatsapp e Instagram, sendo que a terceira é do Twitter e as duas últimas, do Facebook. Outras apostam em focos específicos, como o Pinterest (compartilhamento de conteúdo criativo), Linkedin (mercado profissional); e fazem sucesso no oriente, como o Weibo (China), VK (Rússia), Mixi (Japão) e QZone (China).

Por fim, as novas redes sociais dos últimos dois anos parecem longe de ameaçar a rede de Zuckerberg. O Ello, que promete nunca usar dados dos usuários para fins publicitários; e o Tsu, que diz pagar usuários em troca da geração de conteúdo, ainda não pegaram. No Brasil, tivemos o curioso caso do Faceglória, cópia do Facebook para evangélicos e devidamente acusada de plágio.

“À medida que surgem essas redes menores, o usuário precisa dividir seu tempo. Só vou me concentrar em uma nova rede se ela me oferecer um diferencial muito grande nos contextos de relacionamento, de facilidade de uso, de trazer alguma vantagem extra. Se for excepcionalmente bom, vou permanecer; se não, vou ser fiel ao que já tenho porque está funcionando”, detalha a professora Beth Saad, especialista em mídias sociais da Universidade de São Paulo (USP).

“Enquanto não houver uma decadência entre quem está na liderança, os novatos não sobem. Recebi convites pro Ello, mas entrei lá e aí, não tinha todo mundo com quem converso. A mesma coisa com o Google Plus. Não faz sentido estar lá sem obter a mesma experiência positiva das outras redes”, finaliza.

O vice-presidente do Twitter para a América Latina, Guilherme Ribemboim, concorda. “As plataformas têm que ter papéis claros e diferenciados. Claro que se você tem uma rede grande e outra pequena que faz a mesma que a grande, a pequena não fará sucesso. As empresas ao longo do tempo devem continuar inovando para fortalecer esse diferencial”.

Sucessores na linhagem

Com Instagram e Whatsapp consolidados, além do crescente sucesso do Snapchat, será que o futuro das redes sociais está no celular? “Numa sociedade em que a demanda por ‘broadcast’ (comunicação interligada) pessoal e móvel só aumenta, o Snapchat é a ferramenta que melhor atende nesse sentido. E ele vem escalando de maneira muito rápida no Brasil, não só entre jovens”, aponta Ian Black. Sobre se será ele um “futuro Facebook”, o executivo não arrisca. “Acho que as chances de surgir um ‘novo Facebook’ são as mesmas para o surgimento de um ‘novo Google’”, teoriza.

Beth Saad ressalta que para haver uma nova rede social tão grande quanto o Facebook, a forma como entendemos a internet precisaria mudar. “O Snapchat bombou por trazer uma tremenda instantaneidade, como o Twitter, mas agora usa exclusivamente imagens e um tom narrativo muito personalista. Não é uma rede para informação, mas de puro relacionamento da vida alheia. Mas o ‘novo Facebook’ não vai vir em 2016, pois há um tempo de gestação para isso. E teria que ser uma nova configuração de rede para além do que temos hoje. Algo mais amplo, que envolva mais inteligência artificial e geolocalização, coisas que pensem adiante”.

“O que pode haver também é uma dispersão dos usuários do Facebook para muitas outras redes, e não mais teremos um único serviço de posse de todas as nossas vidas. Em uma hipótese de dispersão maciça das pessoas, elas por exemplo perderiam acessos a outros serviços que dependem de login para o Facebook. É uma rede que conseguiu ampliar cada vez mais nossa dependência”, pondera Alex Primo. As informações são do Uol.