Especial: Paternidade precoce traz danos sociais e emocionais, diz especialista

Muito se fala nos desafios de ser mãe na adolescência, mas se esquece que também existe a figura paterna. Para eles, tão jovens, assumir a paternidade representa responsabilidades que estão muito além do que imaginam, como danos sociais e emocionais. É nesse momento que ele decide se vai assumir o desafio ou se vai fugir. Para especialista, o que definirá se ele vai desenvolver essa tarefa de forma satisfatória é como foi construída a figura paterna, bem como o apoio familiar.

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Quando se é pai na adolescência e decide assumir a responsabilidade, acontecem danos reparáveis, como define a psicóloga Patrícia Barbosa. São dois tipos de danos. O primeiro é o social, pois há “perda de liberdade de ir e vir” e “ter que ttrabalhar para sustentar a família ou deixar de estudar para trabalhar e cuidar do filho”. Já os danos emotivos podem ser o “misto de sentimentos e sensações quando se pensa na responsabilidade de criar um filho”.

Ela afirma que, a princípio, há uma confusão de pensamentos. “Ele começa a se questionar se vai conseguir ser pai e depois sente um super poder de ter sido capaz de produzir, gerar uma nova vida. Ele se pergunta ‘o que eu vou fazer agora?’. É aí que ele percebe que saiu da responsabilidade de ser jovem para ser pai. Já para a menina quando é mãe, o processo é menos dolorido, pois ela já é preparada desde a infância para isso ao brincar com bonecas, de preparar comidinhas na cozinha”, disse.

A forma como o adolescente vai lidar com a paternidade está diretamente ligada à história de vida. Se ele teve um pai presente, há grandes chances dele também ter atitude similar. “Quando eles têm filhos nessa idade, sempre dizem que foi um acidente, que foi um descuido. Mas alguns conseguem assumir. Ele vai sentir como é ser filho e avaliar como foi criado. O meio que esse adolescente viveu influenciará na educação de seu filho. Eles podem ser até incoerentes, mas podem assumir esse papel muito mais sério do que muitos adultos”, explicou.

Os pais do adolescente são fundamentais para que ele compreenda e possa exercer da melhor maneira possível a paternidade. “O adolescente nunca estará preparado para essa missão e todo o apoio familiar nesse momento é importante, para que ele não seja consumido pela confusão de pensamentos  sentimentos, que faça com que ele queira fugir da responsabilidade”, declarou.

E se não está preparado, é melhor não assumir

Patrícia afirma que é possível que realmente não haja o sentimento amor envolvido em muitos casos em que não há uma relação parental próxima. “Pode não existir amor, mas algum sentimento, como carinho. Porque ele não vivenciou a paternidade e o amor é algo construído. E se não está preparado para ser pai, é bom que não assuma a responsabilidade, porque pode danificar a criança. É melhor sair de cena”, afirmou.

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Ela explica que os danos mais frequentes que podem acontecer aos filhos são a falta de amor, insegurança, falta de apego, desproteção e, principalmente, a baixa autoestima. “É tão comum encontrar crianças em clínicas se perguntando porque o pai desaparece, porque o pai do coleguinha vai às reuniões e festas da escolinha, se ela é ruim… Esse é o mundo de pensamentos da criança e a imaginação vai criando conclusões conflituosas. Na verdade, eles são órfão de pais vivos”, esclareceu.

 

Colaboração Edilane Ferreira/Jornal A União