Enquanto Cartaxo festeja ‘novo momento’ na Cultura, artistas veem retrocesso

Durante a inauguração do Centro Cultural de Mangabeira na última quarta (27), o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), declarou que a cidade vive “um novo momento para a cultura“.

O Paraíba Já conversou com representantes de três segmentos da cultura na capital paraibana – audiovisual, música e teatro – para saber a opinião deles sobre as políticas públicas municipais no setor e para saber se realmente a cidade vive um momento novo – culturalmente falando.

Audiovisual

A cineasta e produtora Kalyne Almeida relembra as tentativas de diálogo sobre políticas públicas para o audiovisual de João Pessoa.

“O audiovisual da Paraíba sempre esteve buscando se alinhar com as políticas públicas federais para a cultura, por compreender que através deste existe o Plano Nacional de Cultura, as principais metas seriam cumpridas”, relatou.

“Assim que o novo prefeito assumiu continuamos as conversas, com o, na época, novo presidente da Funjope Mauricio Burity. Tivemos também uma conversa com Zennedy (Bezerra, ex-secretário de planejamento e atual titular da articulação política da prefeitura) para debater as novas possibilidades para a Cultura e o audiovisual. Nos prometeram até um a sala de cinema pública, que no final das contas, nunca aconteceu”, pontuou.

Ela criticou o não cumprimento do edital do Fundo Municipal de Cultura (FMC) e atual gestão da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope).

“O FMC também não é anual como manda a lei. Enfim, falta um planejamento de cultura, metas e meios de se cumpri-las. No entanto, temos uma Fundação, muitas vezes, inoperante, promovendo apenas eventos”, criticou.

Teatro

Para o dramaturgo Paulo Vieira, professor de Teatro na UFPB e diretor da versão 2015 do espetáculo da Paixão de Cristo, a criação do Centro Cultural de Magabeira é uma inciativa louvável, mas está muito longe de representar um novo momento para cultura de João Pessoa.

“Louvo a criação de um Centro Cultural em Mangabeira e gostaria que fosse estendido para todos os bairros, todas as comunidades, mas não posso louvar a gestão que enterrou o espetáculo da Páscoa, nem o modo como os artistas são tratados na Funjope”, criticou.

“Posso estar enganado, mas eu não vejo esse bom momento de uma cultura aparentemente sem projeto”, pontuou ele citando, dentre outras coisas, o cancelamento da Paixão de Cristo da capital paraibana em 2016, rompendo uma tradição de mais 15 anos consecutivos.

Paulo Vieira citou ainda o fim do projeto das oficinas nos bairros de João Pessoa, em que profissionais da cultura iam ministrar oficinas nas mais diversas localidades da capital paraibana. Para ele, a prefeitura ‘enterrou” essa e outras ações que eram desenvolvidas. “Enterrou também o Vertice, em que atrações locais trocavam e se apresentavam com peças de fora nos três segmentos”, relembra.

Sobre o alardeado “novo momento” para as políticas de cultura do município, ele divergiu e é taxativo.”Na minha opinião, se avançou, avançou pra trás”, avalia.

Música

O músico Gustavo Limeira analisou que, em momentos de crise na economia, a gestão cultural é geralmente a primeira área a sofrer cortes da administração pública. Na contramão, Cartaxo, segundo ele, não iniciou o mandato de prefeito numa conjuntura de crise, mas além de não promover avanços no setor, precarizou várias ações e projetos que vinham acontecendo no âmbito municipal.

“O que se viu desde que seu grupo político tomou conta da cidade foi o desmantelamento total de políticas já consolidadas nas gestões anteriores. O circuito das praças talvez seja um dos melhores exemplos. Do FMC nem se fala. E isso é porque estamos falando apenas de uma área da gestão…” avalia.

“Apesar de você…”

Gustavo, no entanto, encontra alguma procedência na fala do prefeito sobre o novo momento para a cultura da capital paraibana.

“Há verdade na fala de Cartaxo. A cultura vive um novo momento apesar de sua gestão. É no âmbito das realizações independentes que isso ocorre, é no centro histórico da cidade que isso ocorre, é em cima do palco – e não do palanque”, provocou.