Em discurso na ONU, Bolsonaro defende ‘cessar-fogo imediato’ na Ucrânia

O presidente Jair Bolsonaro discursou nesta terça-feira (20) na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), e defendeu que haja um “cessar-fogo imediato” na Ucrânia.

Por tradição, o Brasil é o primeiro país a discursar na sessão de debates desde 1955 (veja detalhes abaixo). Antes de Bolsonaro, discursaram o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e o presidente da assembleia, Csaba Korosi.

A guerra na Ucrânia começou em fevereiro deste ano, quando tropas militares russas invadiram o país. Várias cidades ucranianas foram bombardeadas, civis e militares morreram, e Bolsonaro jamais condenou a atitude do presidente russo Vladimir Putin.

“Diante do conflito em si, o Brasil tem se pautado pelos princípios do direito internacional e da Carta da ONU. Princípios que estão consagrados também na nossa Constituição. Defendemos um cessar-fogo imediato, a proteção de civis e não-combatentes, a preservação da infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de todos os canais de diálogo entre as partes em conflito”, declarou Bolsonaro na ONU nesta terça.

O presidente, que disse defender uma solução “duradoura e sustentável”, declarou ainda avaliar que a solução para o “conflito” na região só será alcançada se houver diálogo entre os envolvidos.

“Faço um apelo às partes, bem como à toda a comunidade internacional, não deixem escapar nenhuma oportunidade para pôr fim ao conflito de garantir a paz. A estabilidade, a segurança e a prosperidade da humanidade correm sério risco se o conflito continuar”, completou.

Esta é a quarta vez que Bolsonaro discursa na Assembleia Geral da ONU. Em 2020, o evento foi virtual em razão da pandemia, e o presidente enviou um vídeo gravado. Nas ocasiões anteriores, os discursos foram marcados pela defesa da soberania brasileira na Amazônia e por fake news sobre a Covid.

Ao todo, líderes mundiais de 193 países devem se reunir na Assembleia Geral, incluindo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, autorizado pelo plenário a participar remotamente em razão da invasão do país pela Rússia.

Balanço de ações do governo

Antes de Bolsonaro discursar, o presidente da assembleia, Csaba Korosi, pediu que os discursos durassem 15 minutos. O do presidente brasileiro durou mais de 20 minutos, e Bolsonaro aproveitou para fazer um balanço de ações do governo federal e criticar gestões anteriores.

Bolsonaro citou ações como criação do Auxílio Brasil, redução de impostos que levaram à queda do preço dos combustíveis e privatizações de empresas estatais.

Candidato à reeleição e em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Lula (PT), Bolsonaro disse que o governo acabou com a “corrupção sistêmica” que, para ele, existia no país. O presidente citou as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, reveladas pelas investigações da operação Lava Jato.

“No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 a 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má-gestão, loteamento político e em desvios chegou à casa dos US$ 170 bilhões. O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores deveram US$ 1 bilhão de dólares e pagamos para a Bolsa americana outro bilhão por perdas de acionistas. Este é o Brasil do passado”, declarou Bolsonaro.

Agenda internacional

Além de fazer o discurso de abertura, segundo o Ministério das Relações Exteriores, Bolsonaro deve se reunir com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e com os presidentes da Polônia, Andrzej Duda, e do Equador, Guilhermo Lasso – ambos, de direita e conservadores.

Bolsonaro viajou de Londres para Nova York na tarde desta segunda (19) – o presidente e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, estavam na capital do Reino Unido para o funeral da rainha Elizabeth II. A comitiva presidencial deve embarcar de volta para Brasília ainda nesta terça, ao fim das agendas oficiais.

O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, deve permanecer em solo norte-americano e, segundo o Itamaraty, terá “encontros com homólogos de vários países e de eventos multilaterais de grupamentos dos quais o Brasil é parte”.

Ainda de acordo com o Itamaraty, a delegação brasileira participará de reuniões sobre “temas como desenvolvimento sustentável, educação, minorias étnicas, eliminação de armas nucleares, operações de paz, reforma do Conselho de Segurança, conflito na Ucrânia e mediação”.

O tema da 77ª Assembleia Geral da ONU é “Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados”. A chamada “semana de alto nível” do evento – quando participam chefes de Estado, ministros e secretários – se estende até a próxima segunda (26).

Entrevista antes do discurso

Ao deixar o hotel em Nova York, Bolsonaro concedeu entrevista a jornalistas. Entre outros pontos, o candidato à reeleição defendeu ações do governo e repercutiu pesquisas eleitorais que o mostram em segundo lugar nas intenções de voto, atrás de Lula (PT).

“A população quer realmente a continuidade do nosso governo. Eu entendo que é no primeiro turno pra nós. As pesquisas não valem de nada. Erraram tudo em 2018. E agora obviamente potencializa o outro lado, que não pode sair às ruas nem para tomar um refrigerante no bar”, declarou Bolsonaro.

Brasil é primeiro a discursar

Desde a 10º Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1955, o Brasil é o primeiro país a discursar no debate geral. Antes, em 1947, o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha já tinha sido o primeiro orador na 2ª Assembleia Geral, que foi presidida por ele.

A tradição só não foi seguida em 1983 e 1984, quando o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, foi o primeiro a usar o microfone.

Em geral, os EUA falam em seguida ao Brasil, na posição de “país-sede” da Assembleia-Geral da ONU. A ordem dos demais países segue outros critérios, incluindo o nível hierárquico de quem fará o discurso (chefe de Estado, ministro ou embaixador).

Antes de Bolsonaro, devem usar o microfone nesta terça dois representantes da própria ONU: o secretário-geral da organização, António Guterres; e o presidente da 77ª Assembleia, o diplomata húngaro Csaba Kőrösi.

Anos anteriores

Em 2019, no primeiro ano de governo, Bolsonaro usou a tribuna da Assembleia Geral para defender a soberania brasileira sobre a Amazônia e dizer que o país não faria novas demarcações de terras para indígenas.

Naquele momento, ainda antes da pandemia, o Brasil figurava no noticiário internacional graças ao aumento do desmatamento e das queimadas e ao desmonte progressivo da legislação ambiental.

Em 2020, primeiro ano da pandemia, Bolsonaro participou do evento a distância e disse que o Brasil era “vítima” de uma campanha “brutal” de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.

O presidente também disse que a imprensa no Brasil tinha “politizado” o vírus e que as medidas de isolamento – que foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal e adotadas por governos locais, à revelia do governo federal – “quase” levaram o país ao “caos social’.

Já em 2021, último discurso até aqui, Bolsonaro distorceu dados sobre o meio ambiente e a economia brasileira e defendeu, no plenário da ONU, o uso de medicamentos sabidamente ineficazes contra a Covid em protocolos de “tratamento precoce”.

Bolsonaro também se posicionou contra restrições adotadas à época, por diversos países, contra pessoas que se recusavam a tomar a vacina.

Do g1