Em carta, patroa pede perdão a mãe de Miguel: ‘solidária a seu sofrimento’

Criança morreu na terça-feira (2), ao cair do 9º andar de um dos prédios do condomínio Píer Maurício de Nassau, no Recife

Sarí Mariana Gaspar Hacker Corte Real, pediu perdão à ex-funcionária Mirtes Renata Santana de Souza, pela morte do filho dela, Miguel Otávio Santana da Silva, 5, em um texto divulgado na noite de hoje, intitulado de “carta a Mirtes.” Miguel morreu na terça-feira (2), ao cair do 9º andar de um dos prédios do condomínio Píer Maurício de Nassau, no bairro São José, área central do Recife.

O texto foi divulgado após três dias de silêncio de Sarí e a família Hacker da Corte Real sobre a morte do menino Miguel. Hoje, dois protestos ocorreram em Recife pedindo justiça ao caso. A carta foi enviada ao UOL pela assessoria de imprensa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB), marido de Sarí. No texto, ela pede perdão a Mirtes e diz ser solidária ao sofrimento da ex-funcionária (leia a íntegra ao fim desta reportagem).

“Não há palavras para descrever o sofrimento dessa perda irreparável. Nunca, mas nunca mesmo, pude imaginar que qualquer mal pudesse acontecer a Miguel, muito menos a tragédia que se sucedeu. Te peço perdão”, escreveu Sari, que assina no texto apenas o sobrenome “Gaspar” tentando desvincular o nome da família de políticos a qual pertence.

Sari Corte Real diz estar sendo vítima de julgamentos pela “opinião pública”, que “redes sociais potencializam o ódio das pessoas” e o “pesar” sobre a morte do menino Miguel o “acompanhará pelo resto da vida”.

“Não tenho o direito de falar em dor, mas esse pesar, ainda que de forma incomparável, me acompanhará também pelo resto da vida. Estou sendo condenada pela opinião pública como historicamente outros foram. As redes sociais potencializam o ódio das pessoas”, diz Sari Corte Real.

Ela ainda diz que a “Justiça esclarecerá a verdade”, pois, segundo Mirtes, em entrevista ao UOL, Sarí negou a ela que apertou o botão da cobertura do prédio. Imagens mostram que ela apertou o botão e ainda deixou o menino sozinho dentro do elevador.

“Na nossa casa sempre sobrou carinho e amor por você, Miguel e Martinha [avó do menino]. E assim permanecerá eternamente”, diz a primeira-dama de Tamandaré. “Rezo muito para que Deus possa amenizar o seu sofrimento e confortar seu coração”, finaliza.

Investigação

Hoje, o Ministério Público Estadual informou que está investigando o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker Corte Real, para apurar “possível prática de improbidade administrativa”, pois o nome da empregada doméstica aparece na lista dos funcionários da prefeitura de cargo comissionado. Mirtes diz que nunca trabalhou na prefeitura e desconhece o uso do nome dela.

A empregada doméstica tem o nome na lista de cargos comissionados da prefeitura desde 1º de fevereiro de 2017. Teoricamente, ela exerce a função de gerente de divisão com lotação na manutenção das atividades de administração da prefeitura de Tamandaré. O salário para este cargo é de R$ 1.093,62, segundo os dados do portal da transparência.

O menino estava acompanhando a mãe ao trabalho porque a creche está sem funcionar devido à pandemia do novo coronavírus. Mirtes trabalhava havia quatro anos no apartamento do 5º andar de uma das torres do condomínio, onde moram o prefeito de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker, a mulher, Sarí Mariana Gaspar Corte Real, e os dois filhos na capital pernambucana. Sarí estava como responsável pelo menino quando ele morreu ao cair de uma altura de 35 metros.

Sarí Corte Real chegou a ser presa pelo crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), depois que a Polícia Civil de Pernambuco analisou imagens do circuito interno do condomínio e viu que ela deixou a criança sozinha no elevador. A primeira-dama pagou a fiança de R$ 20 mil e foi liberada para responder pelo crime em liberdade.

Nas imagens do elevador, o menino Miguel entra correndo no local e Sarí chega em seguida. Ela segura a porta e gesticula reclamando com o menino, que aperta botões do painel do elevador. Depois, ela aperta o botão do 41º andar e solta a porta do elevador. O menino fica sozinho dentro do equipamento, sai no 9º andar a procura da mãe e, em seguida, segundo a polícia, cai ao subir na grade do guarda-corpo do prédio, que não tinha tela de proteção.

A empregada doméstica deixou o filho com a patroa enquanto desceu com o cachorro da família para o animal fazer as necessidades fisiológicas em passeio na via pública próximo ao condomínio. Na volta, ela encontrou o filho caído no térreo do condomínio e se desesperou. Miguel foi socorrido para o hospital da Restauração e morreu.

Leia a carta na íntegra:

Carta a Mirtes

Como mãe, sou absolutamente solidária ao seu sofrimento. Miguel é e sempre será um anjo na sua vida e na sua família.

Não há palavras para descrever o sofrimento dessa perda irreparável.

Nunca, mas nunca mesmo, pude imaginar que qualquer mal pudesse acontecer a Miguel, muito menos a tragédia que se sucedeu.

Te peço perdão. Não tenho o direito de falar em dor, mas esse pesar, ainda que de forma incomparável, me acompanhará também pelo resto da vida. Estou sendo condenada pela opinião pública como historicamente outros foram. As redes sociais potencializam o ódio das pessoas. Tenho certeza que a Justiça esclarecerá a verdade.

Na nossa casa sempre sobrou carinho e amor por você, Miguel e Martinha. E assim permanecerá eternamente.

Rezo muito para que Deus possa amenizar o seu sofrimento e confortar seu coração.

Sarí Gaspar

Do UOL