Em áudio vazado, Diá expõe confusão com o presidente do Campinense

O clima no Campinense não é nada bom. Como se não bastasse o impasse no Campeonato Paraibano, que, por ora, impede o Rubro-Negro de disputar o título, o técnico Francisco Diá e o presidente William Simões se desentenderam ao ponto de o treinador ameaçar abreviar a sua permanência no clube. Em áudios vazados por aplicativos de bate-papo nesse fim de semana, Diá revela que teve uma discussão áspera com Simões e, sentindo-se desrespeitado, disse que não tem “a mínima condição de continuar num clube desse”.

Francisco Diá foi procurado pelo clube para falar mais detalhadamente sobre o assunto, mas as ligações não foram atendidas. A assessoria de imprensa do clube, contudo, confirmou que os áudios são mesmo do treinador. Já o presidente William Simões se recusou a falar sobre o assunto, confirmando apenas que Diá segue no clube até o fim do Campeonato Paraibano.

Os áudios nos quais o técnico rubro-negro expõe a discussão com o presidente teriam sido gravados no último sábado, enviado a uma pessoa identificada apenas como “amigo” e “você”. No domingo, depois dos primeiros áudios viralizarem, ele gravou uma nova mensagem no qual tenta apaziguar a situação, revelando que os áudios anteriores haviam sido vazados e pedindo desculpas.

Nos primeiros depoimentos, num tom de aparente descontentamento com a situação, Diá dá a entender que o desentendimento com William Simões aconteceu durante um encontro cara a cara entre os dois. O impasse teria começado quando o presidente acusou o treinador de empresariar jogadores e de querer tirar alguns atletas do clube. Segundo Diá, Simões chegou a querer agredi-lo.

– Minha passagem pelo Campinense foi uma passagem vitoriosa, com honestidade, revelando jogadores, e um desesperado presidente daquele vir dizer um negócio desse, dizendo que eu fico empresariando jogador e tirando jogador do clube. Nem em clube nenhum eu estou, porque mantive minha palavra em terminar o campeonato pelo Campinense, quando eu tinha proposta do América (de Natal). E ele, desesperado, fazer um negócio daquele comigo. Eu não tenho a mínima condição de continuar num clube desse, onde o presidente me desmoralizou na frente de todo mundo; chegou até o ponto de querer me agredir. Então eu não tenho fator psicológico mais para continuar numa equipe dessa – descreve Diá em um dos áudios, gravado num ambiente barulhento, com música ao fundo.

Campinense x Santa Cruz Copa do Nordeste (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)Diá foi campeão paraibano com a Raposa em 2015, mas neste ano não conseguiu conquistar a Copa do Nordeste
(Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)

Em um outro áudio, Diá cita o atacante Adalgiso Pitbull como sendo um dos jogadores que William Simões o acusa de querer tirar do Campinense. O técnico se diz triste e chateado com a situação e reage à acusação, dizendo que, na verdade, em vez de tirar atletas do clube, ele foi um dos responsáveis por montar um elenco barato e de qualidade na Raposa. Ele lembra que o atacante Rodrigão – artilheiro do Brasil nesta temporada – foi levado por ele ao Rubro-Negro. E rebate o presidente, acusando-o de não saber administrar a entrada e a saída de jogadores no clube.

Adalgiso Pitbull, atacante do Campinense (Foto: Reprodução / TV Paraíba)Adalgiso Pitbull foi um dos jogadores citados pelo técnico da polêmica com o presidente rubro-negro
(Foto: Reprodução / TV Paraíba)

– Quando eu cheguei aqui (no fim de 2014), não tinha um jogador, não tinha um atleta. Ele não sabia nem o que era prender um jogador ao clube. Nunca conseguiu vender um jogador. E eu trazendo jogadores baratos, com o conhecimento que eu tenho. E ele falar um negócio daquele. Dizer que eu queria tirar (Adalgiso) Pitbull. Eu fiquei muito triste, estou triste até agora, constrangido. Eu não fico mais nenhum dia nesse clube.

Essas declarações teriam sido feitas por Diá no último sábado. Já no domingo, o técnico gravou um outro áudio para explicar melhor a situação. Ele avisa que os áudios foram vazados, mas confirma que teve “uma discussão muito grande” com o presidente raposeiro. No entanto, ele tenta contemporizar o impasse, diz não ter nada pessoal contra William Simões e que os problemas internos do clube serão resolvidos entre os dois.

– Amigos, ontem, num momento de tristeza muito grande, eu tive uma discussão muito grande com o presidente, e esse áudio vazou. Eu quero dizer a vocês o seguinte: que eu não tenho nada contra a pessoa do presidente. Eu estava muito triste ontem, desabafei, e as coisas internas do clube, eu quero dizer a vocês que eu resolvo com o presidente. Eu e ele, a gente se resolve. Já houve outras discussões, eu e ele, e a gente vai resolver. Agora, jamais vazar um áudio desse… Foi um momento de tristeza, eu desabafei. Não tem como voltar atrás. Mas não falei nada de ninguém, nem nada de mais, só o que eu tava sentindo. Obrigado.

Já na manhã desta segunda-feira, o presidente William Simões falou superficialmente sobre o caso. Na verdade, ele se omitiu de comentar as declarações de Diá, mas garantiu que o treinador segue no clube até o fim do estadual.

– Eu não vou comentar esses áudios – resumiu o dirigente, para logo em seguida, assegurar que Diá segue no clube:

– Ele não vai sair. Ele vai ficar para as finais – emendou.

Mesmo sem saber ainda se Francisco Diá vai mesmo continuar no Campinense até o fim do Campeonato Paraibano, o fato é que não se sabe quando a competição vai ser retomada.

O estadual está parado por determinação da justiça desportiva. A Raposa jogaria uma das semifinais da competição contra o CSP, mas o Treze acionou a justiça pedindo que o Rubro-Negro seja excluído do torneio. A alegação do Galo é que o Campinense tem pendências tributárias, o que fere a lei do Profut. O Alvinegro ainda tenta assumir a vaga do arquirrival na competição. O TJD da Paraíba chegou a iniciar o julgamento em primeira instância, mas o STJD alegou falta de imparcialidade do tribunal local para dizer que é a instância superior que vai decidir sobre o caso.

Mais declarações de Diá

O técnico Francisco Diá, nos áudios vazadas, demonstra irritação principalmente por causa da acusação de que ele estaria negociando atletas do clube:

Sobre Rodrigão, ele diz que deu um lucro de R$ 2 milhões para o clube:

– Todos os jogadores que estão aí no Campinense foram trazidos por mim. Jogadores parados, inclusive Rodrigão, que deu um lucro para o time de R$ 2 milhões em uma parceria de 40%. Como é que o cara vem dizer que eu sou empresário? Tinha que me respeitar mais, a minha história.

Rodrigão (Foto: Marlon Costa (Pernambuco Press))Atacante Rodrigão é citado por Francisco Diá como um dos jogadores que chegaram ao clube quando era barato e que rendeu um lucro de R$ 2 milhões (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)

Em seguida, ele diz que se fosse mesmo empresário, ficaria rico. Mas nega ser este o caso, dando a entender que esta é uma função incompatível com a de treinador.

– Eu não sou empresário. Se eu fosse empresariar, eu largava minha profissão, ia ficar rico, porque ninguém conhece mais jogador do que eu. Eu tenho um nome a zelar. Mas é isto mesmo: cada um dá o que tem. Aquele lá de cima não falha. As informações são do Globo Esporte Paraíba.