Em quatro anos, partidos políticos ganham mais de 1,4 milhão de novos filiados

Entre as eleições de 2012 e 2016, o número de pessoas filiadas aos partidos políticos no Brasil teve aumento de 9,63%, passando de 15,1 milhões para 16,5 milhões de indivíduos associados. Isso quer dizer que, durante esse período, as agremiações ganharam, a cada dia, cerca de 958 novos integrantes. O levantamento foi feito pelo portal iG com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesse mesmo intervalo, a população brasileira cresceu 6,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Chama a atenção o fato de esse crescimento ter ocorrido em meio a uma das maiores crises políticas que o País já enfrentou, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em agosto, e as revelações dos escândalos de corrupção investigados pela força-tarefa da Operação Lava Jato. A descrença em relação à classe política e às eleições fez com que as agremiações fossem renegadas por parte da população. Nas manifestações de 2013, por exemplo, eram comuns faixas e gritos alertando que os protestos eram “sem partido”.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, avalia que parte da militância das ruas está enxergando os partidos como uma ferramenta de mudar o País, o que explica, na sua opinião, o aumento das filiações. Para o tucano, esse movimento se intensificou após a eleição de 2014, que reelegeu Dilma. “Isso, a meu ver, demonstra que aquilo que vínhamos falando desde 2014, seja em relação ao desastre na condução econômica e à corrupção generalizada, teve eco na sociedade.”

Para especialistas ouvidos pela reportagem, os novos ativistas chegaram à conclusão de que, sem aderir a alguma organização oficial, fica mais difícil atingir os objetivos relacionados às mudanças na sociedade. “Não adianta negar os partidos. Até porque, nas decisões internas, são os filiados quem participam e votam”, comenta o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). O especialista avalia, por outro lado, que ainda é cedo para falar em aumento na participação política do brasileiro. No seu entendimento, ainda há um grande número de cidadãos que negam as agremiações e que não se sentem representados por elas.

O cientista político Édison Nunes, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), analisa que há um maior interesse do brasileiro na política. Além das recentes manifestações populares com alto número de participantes, ele cita o engajamento da sociedade em discussões realizadas no Legislativo ou no Executivo, como a Lei da Ficha Limpa e as dez medidas anticorrupção propostas pelo Ministério Público Federal (MPF). O documento criado pela Procuradoria foi assinado por mais de 2 milhões de pessoas em todo o Brasil.

Nunes, entretanto, não acredita que esse crescimento na participação da sociedade seja o responsável pelo aumento no número de filiados aos partidos. Para ele, a elevação se deve ao surgimento de novas agremiações, que acabam atraindo alguns indivíduos em busca de espaço. Entre 2012 e 2016, seis siglas obtiveram registro junto ao TSE: Solidariedade, PROS, PEN, PMB, Rede Sustentabilidade e Novo. Com isso, o total de agremiações passou de 29 para 35. “Esses surgimentos explicam essa onda [de adesões]. Tanto que os mais tradicionais, que tinham muitos filiados, não estão crescendo no mesmo ritmo”, acrescenta.

Divisão

O PMDB, partido do presidente Michel Temer e principal articulador do impeachment de Dilma, continua sendo a sigla com maior número de integrantes. Em setembro deste ano, a agremiação tinha quase 2,4 milhões de filiados em todo o Brasil, o equivalente a 14,5% do total. De 2012 a 2016, o crescimento foi de 1,87%. O PT se manteve como segundo maior do País em número de filiados, com quase 1,6 milhão de pessoas. No entanto, sua taxa de participação caiu de 10,3%, em 2012, para 9,6% em 2016.

Entre as cinco maiores legendas do Brasil, a que mais cresceu foi o PSDB, que viu o total de filiados saltar de 1.352.177 para 1.442.371 em quatro anos, o que representa um aumento de 6,67%. Os tucanos superaram o PP e passaram a ser o terceiro maior partido do País em número de pessoas associadas.

Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), a maioria dos 90.194 novos filiados ao partido em quatro anos não integravam os quadros de outras agremiações. “É uma população que não era filiada e se viu engajada.” O tucano, que ficou em segundo lugar no pleito presidencial de 2014, acrescenta que a sigla promoveu em 2014 uma campanha para atrair novos membros. “Isso teve consequência direta do PSDB disputando e vencendo diretórios acadêmicos de inúmeras universidades, coisa que não tínhamos. [Esses espaços] eram quase um feudo dos partidos chamados de esquerda”, complementa.

Outro resultado, complementa Aécio, é observado nas urnas. Considerando as 93 maiores cidades do País – que possuem mais de 200 mil eleitores – o partido venceu as eleições municipais deste ano em 14 delas e está disputando o segundo turno em outras 19, podendo, portanto, chegar a 33 vitórias nesses colégios eleitorais. Atualmente, a legenda comanda 18 desses municípios. O tucano aproveita o desempenho para alfinetar os petistas: “A vitória do PSDB só não foi maior do que a derrota do PT”, provoca.

“O PSDB, mesmo tendo perdido a eleição de 2014, não perdeu a conexão com uma parcela da população”, finaliza Aécio, que avalia que, se os prefeitos tucanos eleitos em 2016 fizerem um bom trabalho, o partido terá boa vitrine para 2018, quando haverá outro pleito para presidente.

Esquerda

Considerando todos os partidos, o PSOL foi o que mais cresceu entre 2012 e 2016: 84,04%, o que representa um aumento de 65.890 para 121.266 filiados – 55.376 a mais, portanto. O PPL apresentou variação proporcionalmente superior (171,3%). Entretanto, a base de comparação é mais fraca: a legenda tinha 13.971 associados em 2012, chegando, neste ano, a 37.903: mais 23.932.

O PT, que cresceu 2,53% nesse intervalo (39.180 novos integrantes), teve um desempenho pior do que seus outros três maiores adversários do campo da esquerda. Além do PSOL, o PCdoB aumentou 15,56%, o que equivale a 52.469 indivíduos a mais. O PDT ficou 3,55% maior, já que contou com a adesão de 42.798.

Para Juliano Medeiros, membro da Direção Executiva Nacional do PSOL e presidente da Fundação Lauro Campos, o partido tem atraído “uma nova geração de ativistas sociais e lutadores de movimentos, que geralmente não enxergam nos partidos de esquerda mais tradicionais uma alternativa política capaz de defender uma agenda independente e autônoma”.

Outro fator que tem ajudado a atrair novos associados é, segundo Medeiros, a “coerência”. “Nos nossos 11 anos de legalização, conseguimos aliar a prática ao discurso. Fomos oposição ao governo do PT, nunca tivemos cargos no governo petista. Mas quando teve o impeachment e a democracia foi ameaçada, nos engajamos na luta contra o golpe.”

O dirigente não considera, entretanto, que o PSOL tem ocupado o espaço do PT. “Não diria que é o espaço do PT, mas talvez o papel que o PT cumpriu nos anos 1980, de catalizador das lutas, uma nova esquerda catalizadora das novas demandas sociais, principalmente nos centros urbanos.” Por esse motivo, Medeiros avalia que os novos integrantes não migraram de outros partidos, tento, portanto, o PSOL como primeira sigla. “PSOL está reencantando as pessoas pela política”, garante.

O PSOL surgiu em 2004 a partir de grupos dissidentes do PT. Diversas lideranças da legenda vieram das bases petistas, como os deputados federais Ivan Valente e Chico Alencar e o candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro Marcelo Freixo. Após o surgimento da Rede Sustentabilidade, em 2015, entretanto, sofreu baixas, como o senador Randolfe Rodrigues (AP) e ex-senadora Heloísa Helena Helena, que disputou as eleições de 2006 e teve 6,5 milhões de votos, terminando em terceiro lugar, atrás de Geraldo Alckmin (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações são do iG.