Com quebra-pau, camburão na porta e ameaça de prisão, o clima pesou durante a assembleia que elegeu Henrique Fogaça novo síndico do condomínio Baronesa de Arary, edifício da Avenida Paulista onde o chef mora. A reunião foi realizada na noite de ontem após determinação da Justiça.
Moradores enfrentaram fila longa enquanto eram checadas as procurações de cada um, se estavam aptos a votar. Em seguida começou a troca de acusações de fraude. Houve bate-boca, empurrões e gritaria a ponto de a polícia ser chamada para intervir e liberar o acesso aos moradores (Assista ao vídeo acima). Um policial ameaçou dar voz de prisão em meio à confusão.
Alegando não haver condições, um homem identificado como Otávio (representante da empresa ADTEC, responsável pela gestão do condomínio) determinou o cancelamento da assembleia e foi registrar boletim de ocorrência na 78ª DP. Fogaça e a mulher, Carine Ludvic, também registraram B.O. na mesma delegacia.
“Mais uma vez querem fazer aos moldes deles. Temos várias provas de procurações falsas, descumpriram a ordem judicial e aí deu esse barraco todo. Fomos para delegacia”, explicou Fogaça ao UOL. “O delegado vai abrir inquérito e eles vão responder cível e criminalmente”, completou Carine.
Após ir à delegacia, Fogaça e a mulher retornaram para a reunião mais de três horas depois.
O grupo formado por 100 condôminos, que resistiu até as 23h, decidiu então improvisar a assembleia elegendo, por unanimidade, Henrique Fogaça como o síndico, além de um novo subsíndico e 7 conselheiros. A ata da reunião será enviada para a juíza, que havia determinado uma nova eleição. Cabe a determinar se a eleição foi válida ou não.
“Coisa de filme. Algo surreal!”, disse o representante do grupo de Fogaça, o advogado Márcio Rachkorsky, especialista em condomínios do “SPTV”, da Globo.
Segundo os condôminos, o orçamento anual do Baronesa de Arary é de R$ 4,2 milhões.
Histórico de confusão
Fogaça já havia sido eleito síndico em um pleito marcado por tumulto, em outubro do ano passado, após a atual administração barrar o acesso ao local da assembleia. Impedido de assumir o cargo, o chef também registrou boletim de ocorrência na ocasião contra a administração do condomínio.
Segundo o documento, ao qual o UOL teve acesso, Fogaça apontou o desvio de R$ 176 mil da conta do prédio. Essa quantia, de acordo com o documento, foi transferida para a conta da ADTEC.
Em fevereiro, a juíza Daniela Dejuste de Paula, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, anulou a assembleia improvisada que elegeu Fogaça como novo síndico e determinou uma nova eleição em até 30 dias, sob pena de multa caso não fosse cumprida a decisão.
“Na atual conjuntura, o prédio se encontra acéfalo, o que torna necessária a realização urgente de uma nova assembleia”, escreveu a juíza.
Há cerca de três anos, o chef e jurado do “MasterChef” mora no edifício, que possui três blocos e tem capacidade para abrigar até 3 mil moradores. Em 2013, a eleição para síndico já havia sido marcada por bate-boca entre dois grupos rivais. Um deles registrou boletim de ocorrência.
No panfleto de sua campanha, Fogaça dizia que sua proposta inicial era “reduzir o valor da taxa de condomínio e otimizar a utilização dos recursos”. O chef também prometeu abrir mão do salário de R$ 10,7 mil de síndico em troca da isenção da taxa de condomínio mensal.
Ao UOL, Fogaça criticou a administração do prédio, que se reveza no comando do Baronesa há 18 anos.
“Pelo número de pessoas, dá para diminuir o valor do condomínio e aproveitar melhor as dependências do prédio. A administração não cuida muito desse lado. São melhorias. É renovando, porque tudo tem começo, meio e fim. Já temos uma administração de 18 anos. É preciso ‘sangue novo'”, disse.
Caso se mantenha no cargo, Fogaça acumulará as funções de síndico, chef, empresário (ele é sócio de três restaurantes em São Paulo) e jurado do “MasterChef Brasil”. As informações são do UOL.