Dilma recebe no Planalto apoio de artistas contrários ao impeachment

Em uma cerimônia organizada no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff recebeu nesta quinta-feira (31) uma manifestação de apoio de artistas e intelectuais contrários ao processo de impeachment que ela é alvo no Congresso Nacional.

Entre as celebridades que participaram do ato político na sede do Executivo federal estão a cantora Beth Carvalho, os atores Letícia Sabatella, Osmar Prado e Sérgio Mamberti, o escritor Fernando Morais e a cineasta Anna Muylaert, diretora do filme “Que horas ela volta?”.

Convidada a discursar no evento, Letícia Sabatella disse, sob os olhares de Dilma, que, atualmente, faz oposição ao governo petista, mas fez questão de ir ao ato em defesa da presidente porque, na opinião dela, há em curso um “plano maquiavélico de tomada de poder na marra” por parte de partidos oposicionistas.

Ato de artistas contra o impeachment
Ato dos artistas contra o impeachment reuniu várias figuras importantes do cenário nacional. Na imagem, a atriz Letícia Sabatella discursa e é ouvida plea plateia e pela presidente Dilma, que está sentada ao lado da cineasta Anna Muylaert.

“Eu sou oposição ao seu governo, presidenta Dilma. Mas eu tenho um contentamento em poder dizer isso na sua frente porque vivo num estado que se pretende utopicamente, em exercício neste momento, ser um estado democrático. Ou seja, preservando a liberdade”, declarou a atriz.

Na sequência, o cerimonial do Planalto exibiu em telão um vídeo gravado pelo ator norte-americano Danny Glover, famoso por sua atuação na franquia “Máquina Mortífera”.

Reconhecido internacionalmente por sua militância social, Glover afirmou na gravação que Dilma não está sozinha na “luta” contra o impeachment, que é uma luta pela “democracia, pela paz e pela justiça”.

“Estamos com você e estamos declarando: Não vai ter golpe”, destacou o ator norte-americano no encerramento do vídeo, falando em português.

Agradecimento

Dilma
Presidente Dilma discursa no ato dos artistas contra o impeachment e agradece o apoio.

Ao discursar, a presidente da República, inicialmente, agradeceu as manifestações de apoio e os manifestos entregues a ela contrários ao impeachment. Em sua fala, Dilma destacou o fato de que, entre os artistas e intelectuais que estavam presentes no evento, muitos têm posições contrárias ao governo e outros sequer votaram nela.

“Todos aqui têm distintas filiações partidárias, muitos deles não as têm e outros têm inclusive posições contrárias ao governo. Muitos nem mesmo votaram em mim, não integram os 54 milhões que votaram. Isso não tem a menor importância. A importância é que todos votaram nas eleições, participaram do processo democrático”, disse a presidente, sendo aplaudida de pé pelos convidados, que começaram a entoar o grito de ordem “Não vai ter golpe, vai ter luta”.

´Pedaladas  Fiscais’

Durante o discurso, Dilma disse que todos seus antecessores na Presidência da República fizeram “pedaladas fiscais”, manobra contábil que é um dos crimes atribuídos a ela no processo de impeachment que tramita no Congresso Nacional.

A presidente disse que as “pedaladas” foram necessárias para dar continuidade ao pagamento de programas sociais como, por exemplo, o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.

“Meu impeachment baseado nisso [pedaladas fiscais] significaria que todos os governos anteriores ao meu teriam de ter sofrido impeachment porque todos eles, sem exceção, praticaram atos iguais ao que eu pratiquei. E sempre com respaldo legal”, afirmou a presidente.

‘Compromisso com a democracia’

Artista com laços históricos com o PT, Beth Carvalho ressaltou em seu discurso que tem “compromisso” com a democracia “de longa data”.

A intérprete de samba disse aos convidados e à presidente da República que conhece e admira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ela, os avanços sociais dos últimos anos estão “seriamente ameaçados” e, por isso, a classe artística precisa se levantar e cumprir seu papel na defesa da democracia e da legalidade.

“E vai ter luta”, enfatizou.

O cantor e compositor de rap Flávio Renegado afirmou que o encontro desta quinta serviu para defender que as vozes “da comunidade e do povo do gueto” sejam ouvidas. “O rap está aqui para defender isso: vida longa à periferia, e não vai ter golpe.”

Em outro vídeo exibido na solenidade, o cantor Tico Santa Cruz, da banda Detonautas, afirmou que “qualquer pessoa com um pingo de sensibilidade”, concordando ou não com o governo petista, percebe que está em curso “uma grande injustiça”. Ele acrescentou ser “evidente” o “atentado político” contra o estado democrático.

‘Farsa’

O diretor teatral Aderbal Freire Filho criticou o que ele classificou de “farsa” usada na política e, sem citar nomes, disse que há personagens “ridículos, fanfarrões e emperrados até o pescoço em corrupção” que estão capitaneando o processo de impeachment da presidente.

“Quando a imprensa usa esses personagens, há a farsa do impeachment. Esta é a farsa. E há outros gêneros teatrais neste momento político. Estamos assistindo a uma comédia, que podia se chamar ‘Os virtuosos ridículos'”, ironizou Freire Filho, sob aplausos da plateia.

Em seguida, o diretor teatral criticou a imprensa por, segundo ele, “manipular” a população e usar a sociedade como “marionetes”.

Após a fala de Freire Filho, a plateia entoou gritos de apoio à presidente da República, contra o impeachment e com críticas à TV Globo, afirmando que a emissora apoiou a ditadura militar (1964-1985).

A manifestação de apoio de parte da classe artística ocorre na semana em que a petista viu seu principal aliado, o PMDB, deixar oficialmente a base aliada e exigir que seus filiados se desliguem de seus cargos no governo federal. Desde então, Dilma passou a intensificar as conversas com outros partidos aliados para tentar evitar uma debandada da base governista.

Na semana passada, Dilma reuniu no Planalto juristas, advogados, defensores públicos e promotores contrários ao impeachment. No ato, ela recebeu cerca de 30 manifestos de apoio ao governo e juristas também classificaram de “golpe” o processo de impeachment em tramitação no Congresso Nacional.

Com informações do Portal G1.