Diário de uma crônica nunca recebida

Hoje foi o dia que tive coragem de te pedir uma crônica para mim. Eu me sinto tão especial quando estou contigo. Muitas das vezes, estou imbatível: eis a mulher mais sortuda do mundo. Nossa, que pessoa fantástica, que divindade está ao meu lado. Como não amar?

1 mês depois

Não pude conter minhas lágrimas depois que ele foi embora. Mas enquanto ele me dizia, naquele tom irônico, sarcástico, que esse meu pedido era algo muito narcísico, muito infantil, segurei a dor do impacto. Não me permiti embrenhar no pranto.

1 ano depois

Estou aqui lembrando de quando pedi a crônica. Será que fui narcisista mesmo? Poxa… eu só queria uma lembrança para guardar comigo, uma mensagem de amor. E quando você for embora, o que vai ficar? Será mesmo narcisismo?

2 anos depois

Hoje me doeu um bocado. A saudade me sufoca. Queria tanto vê-lo, ouvi-lo… se ele ao menos tivesse me entregado aquela crônica, seria mais confortável toda essa sofrencia.

3 anos depois

Sinto que ele gosta de mim. Aquela crônica que eu pedi, que coisa! Para que? O que importa é ele estar por perto, me dando atenção, carinho, amor…

4 anos depois

As coisas estão passando muito depressa. Eu só tenho feito trabalhar feito louca. Trabalho 24h, mas na maioria do tempo penso nele. Naquele forma de falar dele. Que sotaque lindo! *_______* Como eu queria saber o que ele realmente sente por mim. Será que sou especial? Será que gosta um tantinho de mim?  Por que ele não escreve uma crônica para mim falando sobre isso?

5 anos depois

Eu não assimilo com facilidade as mudanças de humor dele. O que foi que eu fiz? Por que tudo que eu faço está errado? Sinto que se eu respirar, ele estará bufando. Eu sou realmente uma idiota. Patética. Mas eu só fiz amar. Eu o quero tanto. E quero tanto bem… estou com vergonha de assumir que ainda choro por ele, mas como não ficar na bad percebendo que se está na merda e não tem nada além das lembranças longínquas de que tudo isso foi algo até bonito? Qual a dificuldade de me dar a crônica?

6 anos depois

Eu já entreguei para Deus. Tudo ele reclama, tudo está errado. Por que ele simplesmente não me ama? E se não, por que não se vai? Todo esse tempo só dediquei amor. Mas não poderia me anular. Concessões todos fazemos numa relação, mas sacrificar conquistas, até profissionais? Eu só acho que entre nós existe só amor, cumplicidade, respeito… É tão triste admitir que todo esse tempo eu espero que você me diga, diga para mim, que gosta de mim. Eu sei, é platônico, não é? Nos 30, pareço ter 15. A única prova de amor que pedi foi a crônica. Nunca consegui.

***

Este é um diário de uma mulher jovem às voltas com aquele que julga que é o amor de sua vida. Nada é perfeição. Ela é romântica, mas entende que o outro pode até não ser. Isso não quer dizer que o outro não ame. Mas aqui fica a exposição de quem espera por algo que nunca vai existir: aquela crônica, uma mensagem, um afago eterno. Uma mensagem de amor.