Depressão transforma Anderson Torres em bomba-relógio contra Bolsonaro

Por Daniel César

Anderson Torres está em profunda depressão e não se trata de uma estratégia da defesa para conseguir a liberdade provisória. É o que garantem pessoas ligadas à Justiça e que acompanham de perto o caso. O problema é que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmam que o político teme que seu antigo ministro não resista às pressões na prisão e acabe falando demais.

Segundo um membro do núcleo duro de Bolsonaro, o ex-presidente tem pedido para pessoas que mantém contato com Anderson para tentar acalmá-lo e garantir que o bolsonarismo segue ao lado dele por reconhecer sua fidelidade. “O maior temor é que Torres fale tudo o que sabe para tentar sair da cadeia”, revelou um deputado, que não explica o significado de ‘tudo o que sabe’.

A pessoas próximas, o ex-presidente demonstra desconforto cada vez que fala sobre Andersson Torres. “O Bolsonaro considera o Anderson uma bomba-relógio, que precisa ser muito bem tratado para não explodir a qualquer momento”, diz um membro próximo do clã. O maior temor, segundo apurou a coluna, é que o ex-ministro da Justiça coloque Bolsonaro na sala de estar de dois crimes ao menos.

O maior deles seria a minuta do golpe, encontrada na casa do próprio Anderson e que a PF já sabe ter sido enviada ao então presidente da República. Se o ex-ministro disser que o documento foi feito por pedido do chefe, Bolsonaro pode ir parar atrás das grades e é esse o pânico de seus maiores aliados. Ninguém, porém, confirma que o político tenha dado a ordem.

Por outro lado, existe o pânico de que Anderson Torres diga que foi Bolsonaro quem ordenou a blitz da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em parte do Nordeste no dia do segundo turno, justamente em locais onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi melhor votado em primeiro turno. Com um depoimento assim, dificilmente o ex-presidente se livraria de uma inegibilidade, concorda uma fonte ouvida pela coluna.

Por enquanto, porém, Anderson Torres segue seu discurso de silêncio absoluto e de não envolver outras pessoas. Além disso, ele tenta postergar o máximo possível seu depoimento na sede da PF (Polícia Federal). Para alguns, mais do que a depressão, o que ele faz é ganhar tempo enquanto decide se é melhor assumir a bronca sozinho ou levar mais gente.

*Jornalista e colunista do Portal iG