DCE/UFPB continua omisso com greve de fome e coordenador anuncia desligamento

Um dos coordenadores gerais do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Paraíba (DCE-UFPB), o estudante de jornalismo Iago Sarinho, anunciou em nota publicada na sua página pessoal no Facebook, na noite desta terça-feira (01), seu desligamento do organismo estudantil.

Em meio a greve de fome dos estudantes, que reivindicam melhoria na assistência estudantil da universidade, Sarinho criticou com veemência a omissão do DCE-UFPB durante o processo, o que foi um dos principais motivos para sua saída da coordenação da entidade.

“Não posso compactuar com a postura tacanha que se tenta tomar com relação a mobilização estudantil que vem ocorrendo nos últimos dias onde o DCE contenta-se em ser um espectador ou no máximo uma ponte de recados. Não concebo o DCE não estar lá presente, cumprindo o seu dever de defender seus representados e reivindicando uma pauta extremamente legítima para os estudantes, principalmente aqueles em condição de vulnerabilidade socioeconômica, e ainda que alguém possa discordar de algumas das práxis que envolvem a ação, não cabe qualquer tipo de tentativa de descredibilização do que vem sendo construido, não compactuo e não compactuarei com isso”, diz Iago num dos trechos da nota.

“A posição letárgica e omissa não faz parte daquilo que acredito e não segurei esse caminho em hipótese alguma, principalmente diante da forma com os rumos da universidade tem sido conduzidos”, completou ele sobre a questão.

Confira íntegra da nota:

Nota de desligamento junto ao DCE-UFPB

Em junho do ano passado assumi a função de coordenador geral do Diretório Central dos Estudante da UFPB, resultado de um processo vitorioso reunindo mais de 30 centros acadêmicos e que proporcionou a quebra de um dualismo que vinha se perpetuando dentro da instituição e que no nosso entender não era mais capaz de responder aos anseios do corpo discente da universidade.

Nesse sentido, resolvi topar o desafio de construir uma gestão composta por pessoas com pensamentos e ideologias extremamente plurais, porém tudo isso sob a égide do compromisso com os estudantes, da organização da instituição e da luta por condições melhores no ensino, pesquisa, extensão e assistência/permanência estudantil na UFPB.

E assim fomos construindo, até janeiro deste ano foi possível manter esse diálogo de forma coerente, mesmo com os embates e enfrentamentos internos que inclusive fazem parte do processo democrático. Avanços importantes foram conquistados, principalmente no que diz respeito a organização da instituição e o apoio à diversas iniciativas do corpo discente em toda a universidade, outros projetos importantes seguiam em andamento como o “Orçamento Participativo”, a nova plataforma online para a instituição e o “Ocupa UFPB” e ainda que, inclusive nesse período, muitas falhas e erros tenham ocorrido, seja por um erro de gestão, análise ou leitura de conjunturas, entendo que o DCE vinha avançando positivamente e voltando a ser enxergado e vivenciado pela maioria do corpo discente.

Infelizmente, com a aproximação do processo para a reitoria algo fundamental para a manutenção daquilo que unia tantas pessoas simplesmente foi esmagado, a autonomia da instituição e boa parte de seus membros. Sem autonomia simplesmente não há movimento estudantil e construção coletiva.

O processo do CONSUNI que deu aos funcionários da EBSERH o direito ao voto no próximo pleito para a reitoria da UFPB e do qual fui o único conselheiro representando o DCE a votar contra, não por ser contra os funcionários, são trabalhadores e precisam ser compreendidos de alguma forma pela instituição, mas entendendo que um debate dessa magnitude jamais poderia ter sido feito da forma como se deu o processo e principalmente tendo uma eleição batendo a porta com nítido interesse eleitoral nessa decisão, foi definitivo e somado à outros momentos não deixou brechas com relação a isso.

Naquela ocasião, a despeito de alguns conselheiros que votaram “sim” baseados em determinadas fundamentações das quais apesar de discordar, respeito, ficou claro que a condição de autonomia e aqueles pontos dos quais baseávamos nossa atuação haviam sido suprimidos por uma defesa pouco democrática de um outro projeto que em nada tem relação com o DCE-UFPB e o corpo discente da universidade.

A partir daí, discursos viraram votos, ações viraram votos, pessoas viraram votos e o DCE perdeu seu propósito de atuação e norte ideológico e diante disso não existe mais possibilidade tangível para a minha manutenção na gestão.

Não posso compactuar com a postura tacanha que se tenta tomar com relação a mobilização estudantil que vem ocorrendo nos últimos dias onde o DCE contenta-se em ser um espectador ou no máximo uma ponte de recados. Não concebo o DCE não estar lá presente, cumprindo o seu dever de defender seus representados e reivindicando uma pauta extremamente legítima para os estudantes, principalmente aqueles em condição de vulnerabilidade socioeconômica, e ainda que alguém possa discordar de algumas das práxis que envolvem a ação, não cabe qualquer tipo de tentativa de descredibilização do que vem sendo construido, não compactuo e não compactuarei com isso.

A posição letárgica e omissa não faz parte daquilo que acredito e não segurei esse caminho em hipótese alguma, principalmente diante da forma com os rumos da universidade tem sido conduzidos.

Sempre prezei pela manutenção do alinhamento entre o discurso e a prática e infelizmente não é mais possível manter essa prerrogativa estando no DCE na conjuntura que está estabelecida e na medida que a oposição interna também não apresenta viabilidade.

Sigo acreditando na instituição, no seu dever e função. Agradeço demais a confiança e os apoios recebidos até aqui e entendo que a melhor maneira de retribuir cada um deles nesse momento, seja com a movimentação que agora faço. Tomo a decisão com bastante tranquilidade e após consultar muitas pessoas que tem sua contribuição no processo, pois só acredito no fazer político pela via coletiva e assim seguirei.

Efetivo essa decisão amadurecida ao longo do último mês agora após ter sido assinado o Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Procon Estadual, garantindo a emissão das carteirinhas estudantis pelo DCE-UFPB e vedando a entrada da máfia das carteirinhas na UFPB, processo que vinha acompanhando e que por um compromisso inclusive ideológico precisava estar próximo para garantir. A emissão deve retornar nos próximos dias e espero que sejam mantidas todas as condições firmadas, incluindo o repasse correto e isento para todo e qualquer CA e DA e que a verba arrecadada pela instituição seja utilizada para os fins aos quais a instituição se propõe.

Saio da gestão para seguir do lado certo da trincheira, o lado do estudante condição que mantenho com muita tranquilidade em busca de novos desafios e sem abdicar do que acredito. A luta continua.

Iago Sarinho de Oliveira – Estudante de Jornalismo da UFPB