Desde a infância, o engenheiro agrônomo Fernando Lima, 44, tem um apelido: Bacana. Era uma alusão ao personagem da série Armação Ilimitada -maiores de 40, certamente, vão entender. O tempo tratou de ir provando que a alcunha lhe cabia. Como é um cara otimista, alegre e querido por todos, Bacana se tornou um nome natural para ele.
Apesar dessas características, Bacana sabe reconhecer quando algo não vai nada bem. Foi assim no começo do ano, quando teve todos os sintomas da Covid-19, passou 14 dias isolado e outros tantos até o paladar e o olfato voltarem ao normal.
“Tive sintomas de Covid e, na época, não era tão simples fazer o PCR”, diz. Apesar do susto, Bacana termina este ano sem que mais ninguém da sua família tenha adoecido, empregado e ele próprio com saúde.
Assim como 2 em cada 3 brasileiros, de acordo com pesquisa Datafolha, Bacana confia que 2021 será melhor do que o ano que termina agora. “Levando em consideração o atual cenário mundial, restrições e desafios em razão da pandemia e tendo em vista o início da vacinação, acredito que 2021 será melhor em nível mundial”, afirma. “Claro, isso lembrando que a pandemia não é o único problema que a humanidade enfrenta, mas seria um bom começo de ano.”
A pesquisa apontou que 68% afirmam que 2021 será melhor do que 2020. Quando a pergunta é voltada não apenas para si próprios, mas para os brasileiros em geral, esse índice cai para 58%.
“Também acredito que com a superação do quadro restritivo imposto pela pandemia, há uma tendência de melhoria, mesmo que branda, na situação do povo brasileiro”, diz o engenheiro agrônomo. “Digo isso porque, pelo menos a rotina que existia, trabalho, escola e atividades econômicas, caminhariam para uma normalização.”
Foram entrevistados 2016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A pesquisa foi feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes devido à pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 191 mil brasileiros.
A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A coleta de dados aconteceu entre os dias 08 e 10 de dezembro de 2020.
O otimismo em relação ao próximo ano se mostrou sensivelmente maior nas regiões Norte/Centro-Oeste (79%). No Nordeste esse índice foi de (70%). No Sul e Sudeste, 63% e 64%, respectivamente.
Bem mais otimistas são também os apoiadores do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Entre os que avaliam que a gestão do presidente como boa ou ótima, 77% esperam um ano melhor do que este em 2021. Para os que dizem sempre confiar em Bolsonaro, 82%.
Bacana não se encaixa nos perfis acima. “Não, não acredito em nenhuma ação vinda do governo federal que possa demonstrar qualquer efetividade e que possam ser traduzidas em melhorias ao povo brasileiro”, afirma o engenheiro. “Não foi efetivo e não será.”
O índice de confiança maior entre os apoiadores de Bolsonaro contrasta com o dos que avaliam a gestão como ruim ou péssima. Neste grupo 60% esperam 2021 melhor do que 2020. E entre os que afirmam nunca confiar em Bolsonaro, 59%.
A avaliação do desempenho da gestão Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus também impacta no índice de confiança do Brasileiro no futuro.
No grupo dos que consideram que a atuação do presidente na atual crise sanitária é ótima ou boa, 78% são confiantes em um 2021 melhor do que 2020. Entre os que veem a atuação de Bolsonaro como ruim ou péssima, esse índice é de 58%, ou 20 pontos percentuais menor.
Renda é um fator que apresentou variações importantes, com diferenças fora da margem de erro. Entre os que ganham até dois salários mínimos 67% se mostraram otimistas. A confiança em um novo ano melhor do que este salta, porém, para 74% entre os que ganham mais de 10 salários mínimos.
No grupo dos que fizeram o pedido do auxílio emergencial oferecido pelo governo, 70% se disseram otimistas. Quando se separa quem fez e recebeu pelo menos uma das parcelas dos que fizeram mas não receberam nota-se diferença. No primeiro grupo, o índice de otimismo chega a 72%. No segundo, 65%. Entre os que não fizeram o pedido, 66%.
A forma como as pessoas estão enfrentando a pandemia e a idade também são variáveis importantes nessa equação do otimismo.
Diante do risco de contágio do novo coronavírus e da necessidade de manter o isolamento social, há quem continue vivendo normalmente, quem esteja tomando cuidado mas ainda assim saia de casa, quem só saia de casa se for inevitável e quem esteja totalmente isolado.
Entre os que continuam vivendo de forma normal, apesar da pandemia e da quarentena, 75% dizem esperar um ano melhor do que este. Entre os que dizem se cuidar mas ainda assim continuam saindo de casa, 71% acreditam no mesmo. Para os que só saem de casa se não tiverem outra opção, 63%, e entre os que estão completamente isolados, 61%.
A faixa etária mais otimista é a de 16 a 24 anos (73%). A menos é a dos maiores de 60 anos (57%). É o caso da mãe de Bacana, Maria Regina Lima, 70. Apesar de se considerar uma pessoa otimista, ela não acredita que 2021 possa ser melhor do que o ano se encerra agora. Nem para ela, nem para os brasileiros em geral.
Da Folha de S.Paulo