Manhã de quinta-feira, ligo o rádio logo cedo e escuto a previsão meteorológica: “Tempo fechado na Câmara Municipal de João Pessoa”. Pela janela, não dava pra ver a tempestade. Mas ela existia, sim. A verdade estava lá fora.

Um furacão zoava no ambiente e tinha até um nome: “Operação Parcela Débito”. Já havia provocado a fuga das galinhas no plenário do Legislativo Municipal.

Aconteceu que ninguém quis falar sobre a operação do Gaeco que desbaratava naquele momento uma quadrilha de vampiros grudada na jugular do Instituto de Previdência Municipal. O Ministério Público não está para brincadeiras nesses dias temerários.

A imprensa permanecia com microfones mudos nas mãos, ninguém da base aliada do prefeito quis encarar o desafio simples de dizer o script oficial do Paço Municipal: “A Prefeitura ajudou a quebrar a banca da quadrilha”. Quadrilha que furou o cofre da cidade para que vazassem R$ 30 milhões.

O silêncio dos inocentes na Câmara causava perplexidade, e a repórter insistia repetindo a informação: “Não tem alguém aqui que possa dizer alguma coisa”. No mínimo, os vereadores da base consideravam inverossímil a justificativa oficial que já se insinuava para reduzir o impacto da operação no cotidiano político do prefeito. Os antigos teria afirmado à guisa de conselho ao prefeito sobre a base fujona: “Nuvem perforare in qua ipse naviget”. É aquela coisa de ter o barco furado pelos próprios passageiros.

Papaléguas

Sexta-feira à noite, e lá estava numa manchete da blogosfera o seguinte título: “Renan, Jucá, Sarney, Garibaldi e Raupp na Lava Jato”.

O procurador-geral da República havia denunciado tais cabeças coroadas da República por práticas nada republicanas, aquela “mentiras de sempre” de Janot que tanto incômodo causam, e com razão, aos líderes odebrechtianos da nação: corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

De acordo com as investigações da PGR, R$ 100 milhões desviados da Petrobras irrigaram o plantio desses fazendeiros do ar podre de Brasília.

A defesa de um desses colarinhos platinados saiu-se com o de sempre, como se fora aconselhado por Gilmar Mendes: “em fim de carreira, o procurador Janot quer aparecer”. Como se Janot fosse o pato manco, ave sem graça e força no final da vida institucional. Janot está mais para o Papaléguas infernizando a vida dos Coiotes do Congresso e do Planalto.

Espelho meu

“Renan, Jucá, Sarney, Garibaldi e Raupp na Lava Jato”.  Há uma provocativa harmonia poética no encadeamento desses nomes que sugere um trabalho alquímico de transcriação de sentidos de origens diferentes que terminam por conjugar uma mensagem. Renan… Jucá…Sarney… Quanto musicalidade…

A melodia que surge desses sons a mim sugere uma das sentenças lustradas pelo poeta medieval Walther von der Vogelweide ( 1170-1230), o alemão tido como o mais phodástico do Ocidente em sua época.

O que me ocorreu entre os seus trabalhos foi a sentença “Pareto legi, quisque legem sanxeris”. Walther a teria extraído de entre os preceitos de Pítaco de Mitilene, um dos Sete Sábios da Grécia. A frase tem a ver com aquela história  de “obedece à lei, tu que a promulgaste”. Sejam um espelho para a sociedade.

Qual o quê. Esses cinco sábios de Brasília, que se completam em sete com Collor e Loures, jamais dariam bola para o que queria Pítaco, nem muito menos o poeta medieval Walther. Por isso que é bom lembrar o que disse Lula a respeito de Sarney: é um cidadão que está acima das leis.

Gente que não é como a gente

Investigado por atos secretos no Senado, o que quer dizer pagamentos obesos a fantasmas aloprados, o ex-presidente Sarney conquistou de Lula uma frase lapidar, que continuará a ecoar como nunca antes na história desse país pelos tempos sem fim:

““Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim, e depois não acontece nada. O Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.” Lula sabe o que diz…

Final feliz

O Governo do Estado lutou e conseguiu na Justiça suspender o racionamento de inteligência que havia acometido setores da política de Campina Grande que se posicionaram contra o fim do racionamento de água.

Nunca a oposição  brigou tanto contra tanta gente e de forma tão errada. Imaginem que ouvi alguém dizer que a população de Campina já estava acostumada e que não queria agora o final do racionamento. Queria, mas só depois. O bom senso se estabeleceu: agora é bem melhor.

Reproduzido de o jornal A União, edição de 27 de agosto de 2017.