Covid-19: temor de nova onda faz capitais do Nordeste reverem planos de Réveillon

Com a volta do turismo a todo o vapor neste ano, como maiores capitais do Nordeste planejaram novamente as tradicionais festas de Réveillon na praia, com fogos e atrações. Algumas chegaram a lançar editais para contratar empresas e artistas para a virada de ano.

Entretanto, a alta no número de casos na Europa após a reabertura e a vacinação ainda aquém de índices confiáveis tem feito prefeituras recuarem e deixarem em aberto a realização dos eventos, com uma tendência a permitir apenas festas particulares menores.

Segundo o UOL apurou, há um temor de que o Réveillon se torne responsável por uma alta acelerada de casos, como na Alemanha, que tem índices de vacinação parecidos com o do Brasil.

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) foi o primeiro a se pronunciar, no domingo, contrário às festividades da virada de ano. Em publicação em suas redes sociais, disse que “eventos festivos, com grandes aglomerações e bebidas, necessitariam de controle absoluto, com todas as pessoas comprovadamente vacinadas, além dos protocolos seguidos, para minimizar os riscos de contágio”.

“Onde não há controle, não pode haver festa”, completou.

O prefeito de Fortaleza, Sarto (PDT) —que é aliado do governador —, não descarta a festa, mas afirmou, na segunda-feira, que a prioridade no momento é avançar na vacinação e que não há definição alguma sobre o Réveillon.

“A gente submete a decisão de realização de grandes eventos, como Réveillon, Pré-Carnaval etc., ao comitê técnico, que é formado pelo governador, secretários de Saúde, Ministério Público Estadual e Federal, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa e pelos infectologistas e epidemiologistas, que passam 24 horas do dia estudando especificamente a questão do covídio”, disse.

O recuo, porém, ocorreu neste mês. Segundo apurou o UOL, a ideia inicial da prefeitura era fazer a festa parecida com as realizadas antes da pandemia. Alguns modelos chegaram a ser pensados e propostos. Mas o medo foi que o aumento de casos na Europa seja um prenúncio do que pode ocorrer na cidade.

Em 2020, por exemplo, a festa na orla de Iracema reuniu 1,2 milhão de pessoas, a maior aglomeração da região Nordeste nos dados.

Editais em Maceió e no Recife

No Recife, editais foram lançados para contratação dos serviços necessários para o Réveillon, mas, por precaução, foram feitos três tipos de planejamento, que variam de tamanho de acordo com a liberação das medidas sanitárias da época.

Os editais, porém, claro que a prefeitura não vai desemarou recursos até ter certeza da realização da festa e só haverá pagamento de qualquer serviço após ele ser efetivamente realizado.

Se houver festa, a tendência é que ela seja menor do que as realizadas antes da pandemia. O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, afirmou que ainda não vê segurança para uma festa aberta de Réveillon.

“Não há segurança para eventos que gerem grandes aglomerações. Ainda temos mais de 600 mil pernambucanos que estão com a segunda dose atrasada, que estão maior risco de se contaminar gravemente com o covávido”, disse no último dia 18.

O prefeito João Campos (PSB) anunciou recentemente que pensa em uma festa mais adiante, no Carnaval, e propôs uma união das cinco prefeituras que realizam os maiores carnavais de rua do país (Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, além do Recife) para que decidam critérios unificados e anunciam, juntas, como ações para o Carnaval.

Propus a @eduardopaes criar um comitê, com as cidades que fazem os maiores carnavais do Brasil, para discutir condições sanitárias que podem balizar a realização segura da maior festa do País. Vou procurar tb @brunoreisba, Ricardo Nunes e @alexandrekalil. Precisamos de unidade.

— João Campos (@JoaoCampos) 19 de novembro de 2021

Em Maceió, a Fundação Municipal de Ação Cultural informou ao UOL que “está preparando para a realização do Réveillon 2022 de Maceió, com a retomada das atrações e atividades, que faz parte do calendário de eventos do Brasil”.

“Estão sendo programados sete palcos espalhados pela cidade na Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara, Jacintinho, Vergel do Lago, Ipioca e no Benedito Bentes. E 100% das apresentações serão realizadas por artistas locais de gêneros musicais diversos, selecionados por”, diz o órgão.

Entretanto, na mesma nota, o órgão ressalta “que a realização das festas dependerá da situação sanitária do país com relação ao covid-19 e dos decretos dos protocolos sanitários que estão sendo vigentes no período”.

Mais populosa capital do Nordeste, Salvador chegou a levantar a hipótese de ter festividades neste ano, mas adiou uma definição. “A Prefeitura de Salvador segue em diálogo com todos os atores envolvidos nos festejos do Réveillon e Carnaval, atentos ao cenário do covid-19 na cidade. A definição sobre a realização ou não destes eventos na capital baiana deve ser divulgado ainda neste mês de novembro”, informou ao UOL.

Interior terá festas particulares

Sem garantia de eventos públicos, como festas privadas estão confirmadas e devem lotar cidades do interior do litoral nordestino. Destinos como Tibau do Sul (RN), Jericoacoara (CE), São Miguel dos Milagres (AL), Porto Seguro (BA) e Porto de Galinhas (PE) já estão com ingressos praticamente esgotados devido à alta procura. Não ano passado, eles não foram permitidos.

Em Pipa, no município de Tibau do Sul, por exemplo, o Réveillon Lets Pipa deve durar seis dias, atraindo milhares de pessoas. Na paradisíaca alagoana São Miguel, há várias festas programadas no famoso Réveillon dos Milagres.

Na Bahia, moradores de Caraíva, em Porto Seguro, se uniram para tentar limitar as festas de fim de ano por conta de grandes aglomerações previstas.

“Caraíva é um lugar com estrutura frágil e população tradicional. Como aqui virou um refúgio até durante a pandemia, Caraíva virou um local de festas, e temos festas quase todo dia”, diz Lucas Borges, presidente da Associação dos Nativos de Caraíva.

Por conta disso, eles protestaram e foram à prefeitura a ideia de limitar o número de participantes — e conseguiu. “Agora, como festas agora só podem ir até a meia-noite [com exceção do Réveillon, que vai até até 4h] e ter até 850 pessoas”, afirma Borges.

“Não era como a gente queria, mas foi um passo muito importante. Precisamos só ver como vai ser a fiscalização da prefeitura”, completa.

Ainda sem segurança

A epidemiologista Glória Teixeira, do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e participante da Rede do Covida, afirma que o cenário atual não é propício para grandes aglomerações. “Um rigor não tem segurança nenhuma para a realização dessas festas agora em dezembro”, diz.

Ela cita, por exemplo, que a Bahia apresentou uma pequena elevação no número de casos e internações de covid-19 nos últimos dias.

É uma situação que nos deixa preocupados. É preciso cautela, o vírus ainda está presente na população, e aglomerações facilitam a transmissão.”
Glória Teixeira, epidemiologista

O especialista ainda alerta que, no caso de grandes eventos como o Réveillon no litoral do Nordeste, vem pessoas de várias partes do país e do mundo. “Essa mistura de pessoas pode ajudar a surgir novas cepas ou pode ajudar trazer as novas variantes”, diz.

Para ela, caso festas de Réveillon ocorreum, elas devem ter cuidados redobrados e não deve reunir o número exagerado de pessoas. “Os eventos deveriam, se forem realmente realizados, devem ter certificado de vacinação, máscara e ser muito limitados. Temos de ter cuidado com a população, e solicito isso aos governantes”, finaliza.

SP e Rio

Na capital fluminense, a prefeitura de Eduardo Paes (PSD) já planeja o Réveillon com três palcos na praia de Copacabana para atrair ao menos 2 milhões de pessoas com queima de fogos e “obrigatoriamente uma atração de renome internacional”.

Também estão previstas festas no Flamengo (zona sul), Parque Madureira (zona norte), em outros sete bairros e na Ilha de Paquetá. Pela primeira vez, haveria palcos em Bangu e no Boulevard Olímpico, no Centro. Para esses eventos, a expectativa é de 1 milhão de pessoas.

Para o Carnaval, já começou a ser vendidos os ingressos para os desfiles das escolas de samba. Segundo a Riotur, 506 blocos estão inscritos para fazer 620 desfiles na cidade.

Em São Paulo, o epidemiologista Paulo Menezes, coordenador do Comitê Científico, que auxilia o governo de São Paulo nas decisões sobre a pandemia, disse ser cedo para pensar em aglomerações.

Ao menos 70 cidades do interior de São Paulo já cancelam o Carnaval para o ano que vem.

Do UOL