Covid-19: MPT investiga denúncia de funcionários de fábrica na Paraíba

Órgão diz que, durante a pandemia do novo coronavírus, já recebeu mais de 600 denúncias de violações trabalhistas somente sobre a covid-19

A fábrica da Alpargatas, empresa que produz as sandálias Havaianas, localizada em Campina Grande (PB), na região da Serra da Borborema, está sendo investigada pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) por casos de infecção pelo novo coronavírus entre trabalhadores. Segundo funcionários, pelo menos 30 colegas de trabalho adoeceram recentemente e testaram positivo para covid-19 e dois deles estão internados em unidade hospitalar particular que tem convênio com a empresa.

Procurador do Trabalho, Marcos Antonio Ferreira Almeida informou que o MPT recebeu denúncias sobre o adoecimento de funcionários na Alpargatas e já notificou a fábrica para prestar esclarecimentos. Almeida afirmou que solicitou dados da vigilância epidemiológica de Campina Grande sobre os casos de covid-19.

De acordo com a Alpargatas, cinco funcionários testaram positivo para o novo coronavírus, sendo um deles internado com estado de saúde estável.

O MPT diz que, durante a pandemia do novo coronavírus, já recebeu mais de 600 denúncias de violações trabalhistas somente sobre a covid-19. O órgão informa que há um grande número de investigações na Paraíba, que aparece em terceiro na lista de estados brasileiros com maior número de inquéritos civis instaurados.

Relatos dos trabalhadores

Em áudios enviados ao UOL, dois trabalhadores da Alpargatas que testaram positivo para o novo coronavírus dizem que adoeceram durante o trabalho. Eles estão internados em uma clínica particular, localizada no bairro do Prata.

Um trabalhador afirmou que passou mal durante o serviço e que precisou ser socorrido para uma unidade hospitalar. Ele conta que estava doente, mas tinha medo de informar sobre os sintomas e ser demitido.

“Confirmado já. Estou com esse negócio aí [novo coronavírus]. Está empestada (sic) a Alpargatas, está cheio. Estou internado aqui. Só saio daqui quando melhorar, em nome de Jesus, mas tem gente demais doente. Estou aqui no hospital, ontem o tanto de gente que chegou aqui com as fardas. O povo tudo doente. Está feio o negócio”, disse outro trabalhador. Eles terão as identidades preservadas.

“Tem um monte de gente lá. Eu vim com um menino que trabalha comigo, ele também estava sentido alguns sintomas, e a gente veio junto no táxi. Já veio mais gente de lá da Alpargatas. (…) Está tendo um surto lá dentro, mas é o jeito trabalhar lá. A gente não pode faltar, tem de ir de todo jeito”, relatou o trabalhador da fábrica.

Contaminam familiares, diz pesquisadora

A coordenadora dos movimentos sociais de campo na Paraíba, Dilei Schiochet, afirmou que vem observando um número crescente de trabalhadores rurais doentes com covid-19, no município de Lagoa Seca, a 7 Km de Campina Grande. Eles são pais de funcionários da Alpargatas.

“A juventude também está acometida pela doença. Em Lagoa Seca, todos os sítios têm casos de pessoas com o novo coronavírus, e fomos buscar a causa: são filhos de pequenos agricultores e eles trabalham na Alpargatas. São 30 trabalhadores com sintomas, imagine os assintomáticos. No diálogo com movimentos sociais, discutimos que é necessário fazer exames em todos os trabalhadores da fábrica Alpargatas, paralisar a produção e limpar o local”, afirma.

Segundo Schiochet, as famílias dependem dos empregos na fábrica e os trabalhadores aceitam o risco de contaminação. “Pessoas temem perder o emprego e se sujeitam a trabalhar doentes. A forma de trabalho é em cadeia produtiva, e precisa do distanciamento entre eles, pois desse jeito um vai contaminando o outro, e assim vai, sem a fábrica tomar providências sanitárias”, critica.

A fábrica da Alpargatas em Campina Grande tem 6 mil funcionários. Eles produzem chinelos, sandálias e espadrilles. Na cidade do interior paraibano está localizado o centro de distribuição dos produtos para o Nordeste e demais regiões do país.

Resposta da Alpargatas

A Alpargatas informou, em nota enviada ao UOL, que cinco funcionários até ontem testaram positivo para o novo coronavírus, sendo um deles internado com estado de saúde estável.

A fábrica disse que “reduziu o número de colaboradores nas operações de produção e remodelou toda a estrutura das fábricas para atender às diretrizes do Ministério da Saúde e demais autoridades em relação à segurança e saúde dos colaboradores”.

As adaptações incluem, por exemplo, instalação de barreiras físicas entre as estações de trabalho, marcações de solo para indicar distanciamento necessário, aumento dos pontos de higienização pessoal, com pias para lavar as mãos e disponibilização de álcool em gel em diversos locais e fornecimento de máscaras faciais para uso obrigatório durante o trabalho, enumera a nota.

A Alpargatas afirmou ainda que segue protocolos médicos e os funcionários que relatam sintomas “são examinados pela equipe médica local e são afastados, devendo permanecer em isolamento” e que todos os casos são monitorados.

“Diariamente essas pessoas são contatadas e monitoradas para diagnóstico e registro do estado de saúde. Pessoas assintomáticas que tiveram contato com casos confirmados, mesmo que externos ao ambiente de trabalho, também são afastadas por 14 dias. Nenhum colaborador com sintomas de coronavírus está autorizado a ir à fábrica”, acrescenta o texto.

Do UOL.