Foi pensando em garantir direitos e fortalecer a união da categoria que Letícia, motogirl, mototaxista e entregadora, decidiu criar o coletivo MotoGirls JP, em outubro de 2021, na capital João Pessoa: “O começo, lá em 2021, foi corrido. Comecei vendo as meninas na rua, ia parando elas, elas corriam, eu corria atrás. Ia até os estabelecimentos onde motogirls trabalhavam pra conseguir contato. E assim eu fui juntando elas e a gente foi evoluindo, até chegar nesse ponto em que estamos hoje”.
A ideia era abrir espaço para trocar experiências sobre a rotina e os trajetos que fazem, fortalecer discussões e dividir os desafios diários. Mas o grupo vai além das lutas. Essas mulheres também compartilham o dia a dia sobre duas rodas, os bastidores das entregas e aproveitam para confraternizar sempre que podem.
Hoje, o grupo soma 105 mulheres ao todo, entre entregadoras, mototaxistas e/ou bikegirls. Na diretoria estão Letícia Dumont, Amanda Lima, Amanda Marques, Cristiane Dantas, Cynthia Carrazoni, Dannielly Paula, Flávia Mota, Josy Santos e Thamyres Karolina.
A fundação do coletivo MotoGirls JP
Um grupo de pessoas que comungam os mesmos interesses pode ser chamado de coletivo. E assim surgiram as MotoGirls JP. Em uma profissão que naturalmente enfrenta obstáculos, como a rotina exaustiva, a precarização do trabalho e a ausência de direitos assegurados, o fato de ser mulher acrescenta mais um recorte social a essa realidade.
Como em qualquer outro ofício, ao trabalhar no segmento de transporte e entrega, as mulheres também enfrentam situações desconfortáveis e constrangedoras, desde a violência no trânsito até o trato entre plataformas e clientes. Com o recorte de gênero, outros reveses se confirmam.
“É o fato de ser mulher. Existe muito preconceito em relação a mulheres em cima de uma moto e alguns homens também acabam se incomodando por a gente trabalhar do mesmo jeito que eles”, afirma Josy, membra do coletivo.
Desafios são diários
Ao serem questionadas sobre o principal desafio da profissão, as MotoGirls JP não se demoram na resposta quase unânime: assédio. Em um cenário onde mulheres são constantemente vítimas de importunações nos mais diversos espaços sociais, estando em trânsito não é diferente. Ainda assim, elas persistem e se unem para denunciar sempre que casos como esses ocorrem.
“A dificuldade que eu acho muito é em relação ao assédio. A gente sofre muito assédio. O risco também, já que é uma profissão muito arriscada, mas a gente espera que melhore um dia e estamos na luta pra isso”, comenta Flávia.
Liberdade sobre duas rodas
Por outro lado, ao serem perguntadas sobre os pontos altos da profissão, a sensação de liberdade guia o caminho de todas elas, como se pilotar uma moto fosse uma espécie de superpoder. “O que eu mais gosto é a liberdade, eu amo moto e trabalhar na moto, pra mim, é um grande prazer”, conta Danny.
Ao longo desses três anos, as MotoGirls JP têm somado forças e alcançado visibilidade, ainda que pouca perto do que deveriam ter. Enquanto um maior destaque não vem, as motociclistas seguem pautando direitos para a categoria, fomentando o diálogo com órgãos públicos e aplicativos, repudiando explorações impostas por plataformas e acelerando o convite para toda a sociedade, que direta ou indiretamente é movida pelo trabalho dessas profissionais.
Seja um entusiasta do coletivo
As MotoGirls JP estão no Instagram e você pode apoiá-las ao engajar as postagens do coletivo, para que o debate público ganhe força: @motogirlsjp. Vale lembrar que, enquanto consumidor de serviços de entrega ou transporte, você também pode contribuir fazendo o mínimo:
✷ Aguarde seu pedido na porta de casa ou na portaria do prédio;
✷ Gostou da entrega? Alguns apps oferecem opção de gorjeta;
✷ Ao contratar um serviço de entrega, opte por entregadoras mulheres;
✷ Respeite o ofício das motogirls e denuncie casos de assédio;
✷ Apoie a categoria sendo um seguidor nas redes sociais e compartilhando os conteúdos.
https://www.instagram.com/motogirlsjp